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A rua dentro de casa. Essa é uma boa metáfora para definir a internet. Com uns poucos cliques, pode-se discutir assuntos de relevância, assistir aulas on-line, divertir-se, organizar manifestações. Mas também espiar a vida alheia, fofocar, difamar e até mesmo aplicar golpes. Justamente por ser um espaço público, ainda que virtual, a rede tem de se submeter a regras de convívio social. Portanto, é natural que se instituam leis para regulá-la. Mas o debate sobre um marco regulatório para a web tem se centrado em três temas – liberdade de expressão, direitos autorais e crimes on-line. E deixa um pouco de lado outro ponto fundamental: a privacidade.

No mundo real, qualquer pessoa ficaria no mínimo incomodada em saber que tem todos seus passos monitorados sempre que põe o pé para fora de casa. Em descobrir que um desconhecido possa saber sobre as lojas que frequenta, os produtos comprados, os amigos que visita e até mesmo sobre os olhares um pouco mais indiscretos que se dá para a moça bonita que passa ao lado.

Poucos se dão conta que essa falta absoluta de privacidade, em certa medida, já vem ocorrendo na "rua virtual". Páginas de relacionamentos e sites de busca capturam dados das páginas navegadas pelos usuários para formar um imenso banco de informações.

O Facebook rastreia os acessos dos usuários mesmo quando eles estão desconectados da rede social. Recentemente, divulgou-se que o Twitter compra de outros sites e armazena, por 18 meses, a informação dos contatos pessoais de quem se cadastra no microblog. Há um mês, foi revelado que o Google "driblava" o escudo de privacidade do Safari, o buscador da Apple, para saber os hábitos de internautas que usavam o sistema do concorrente.

O objetivo dos gigantes da web é comercial: "adivinhar", por meio de algoritmos sofisticados, as preferências de cada internauta para vender publicidade personalizada ou ofertar serviços que atendam aos anseios mais íntimos dos usuários. Os sites argumentam que nenhum ser humano tem acesso aos dados; apenas os sistemas informatizados. E alegam que mantêm regras que asseguram a privacidade.

Mas um banco de informações pessoais tão extenso é uma ameaça potencial à segurança e reputação individuais caso eventualmente venha a ser acessado por pessoas, empresas ou governos mal-intencionados. Por isso já há quem defenda o "direito de ser esquecido" na web. Ou seja, de o usuário optar por ter seus dados apagados para sempre, se esse for seu desejo. Por outro lado, a garantia da privacidade absoluta em um ambiente público pode contribuir para ocultar crimes cibernéticos.

Saber estabelecer uma harmonia entre interesses tão divergentes será um desafio para regular a internet. Talvez o ideal seja tentar transpor para a rua virtual o consenso que se estabeleceu no espaço público real. Ao sair de casa, as pessoas não têm todos os seus passos monitorados. Caso contrário, haveria um ambiente policialesco. Mas os cidadãos aceitam estar submetidos à vigilância de uma força de segurança, desde que não seja invasiva e opressora.

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