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Responda rápido: qual é o colégio de referência em qualidade de ensino em Curitiba? Teve dificuldade para lembrar de alguma escola pública?

A geração de meus pais não teria. A resposta estava na ponta da língua: o Estadual, o Instituto de Educação e o Colégio Militar. À minha época de estudante secundarista, também não havia dúvida: um dos colégios era o Cefet, atual Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Era tão concorrido que tinha até uma espécie de vestibular para entrar no ensino médio técnico.

Tive o privilégio de cursar o antigo 2.º grau, nos anos 90, no Cefet. Alguns dos melhores (e dos piores) momentos de minha vida se passaram nas salas de aula, laboratórios, corredores e pátios dessa grande escola pública espremida num quarteirão do centro de Curitiba.

Fiz muitos dos amigos mais especiais que tenho naqueles anos. Estudei muito. Mais do que na faculdade. Tive excelentes professores. E também alguns “carrascos” que se intitulavam mestres – que me fizeram pensar muitas vezes em desistir.

Uma boa escola não serve apenas para formar mão de obra especializada para o mercado

Como era uma escola pública, também tive contato com muitos colegas pobres e com sua realidade de vida. Foi uma experiência que, antes de ingressar no Cefet, não havia tido no colégio em que fiz o ensino fundamental. Essa escola, embora preocupada com questões sociais, foi incapaz de me ensinar o que só o contato com o outro, com o diferente, é capaz de ensinar.

Enfim, aprendi muito no Cefet. Inclusive que havia feito uma escolha errada. Como a maioria de meus colegas de turma, não segui a profissão de técnico em mecânica, curso no qual me formei.

À época, já havia um discurso interno de que era muito caro para o Estado formar um profissional que iria seguir outros rumos – e que, portanto, o ideal seria concentrar esforços na educação superior. Mais de 20 anos depois, a UTFPR avançou ainda mais nesse sentido. A direção anunciou o fechamento do ensino médio técnico.

Na ponta do lápis, parece o correto. Não é. E digo isso não apenas pela nostalgia de meus anos de cefetiano. Uma boa escola, afinal, não serve apenas para formar mão de obra especializada para o mercado. Tem de permitir que seus alunos aprendam a pensar, a solucionar problemas, a improvisar. Ou seja, a se virar na vida. Isso o Cefet/UTFPR fazia, ainda que a maioria de seus alunos não exercesse posteriormente a profissão específica para a qual se formou.

A qualidade do ensino tornou o colégio uma referência de educação pública no Paraná. Nos rankings das escolas com melhor desempenho no Enem (o Exame Nacional do Ensino Médio), o Cefet/UTFPR costumava aparecer com frequência entre os dez primeiros.

O fim da educação secundária tira uma das poucas instituições públicas dessa relação – já pouco frequentada por escolas mantidas pelo Estado.

Assim, fica difícil encontrar uma resposta para a pergunta do início deste texto. Em meio a tantas escolas particulares, (desculpem alguma eventual omissão) me parece sobrar o Colégio Militar – que por sinal andou muitos anos desativado.

É um triste retrato do ensino público no país: cada vez mais formado por ilhas de excelência; incapaz de proporcionar uma boa educação a todos.

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