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Nem trânsito. Nem saúde. Tampouco violência. Muito menos urbanismo. A principal discussão do segundo turno em São Paulo é a vida pessoal do prefeito e candidato à reeleição Gilberto Kassab (DEM). A despeito de todos os problemas por que passa a maior cidade do país, o debate político gira em torno do fato de Kassab, aos 48 anos, não ser casado nem ter filhos.

A celeuma sobre o estado civil do prefeito paulistano é o sinal mais claro do aprisionamento do debate público pelo marketing eleitoral. São Paulo é apenas o caso mais emblemático. Mas o empobrecimento das discussões e o fortalecimento da propaganda ocorre em todo o país. Não se discute necessariamente o essencial. Explora-se apenas aquilo que, na matemática política, possa render mais votos. Às vezes são idéias e projetos. Mas nem sempre.

A solteirice de um homem maduro, por exemplo, foi suficiente para que algum marqueteiro ardiloso da campanha de Marta Suplicy (PT) usasse o preconceito latente de uma ampla parcela da população e lançasse a semente da dúvida: será que ele é? "É casado? Tem filhos?", pergunta um locutor da propaganda eleitoral da petista – como se isso fosse característica importante para quem vai administrar uma cidade.

O PT paulistano logo percebeu que a estratégia foi equivocada. Tirou a peça publicitária do ar porque a propaganda pegou muito mal. Mas, eleição após eleição, políticos de todos os matizes ideológicos insistem no erro de apostar tudo nos milagres do marketing eleitoral. Acreditam que uns poucos meses de campanha eleitoral no rádio e na televisão, muito bem embalada pela propaganda, podem convencer o eleitor, nem que seja ao tentar descontruir a imagem do oponente.

Os resultados das últimas eleições, porém, têm mostrado que a falta de um debate público de qualidade ao longo de quatro anos costuma deixar os ocupantes dos cargos eletivos com a faca e o queijo na mão para se reeleger.

Provocar discussões públicas relevantes deveria ser o papel das oposições. Mas elas costumam aderir, com raras exceções, ao primeiro governo de plantão que lhes acene com verbas e cargos. Ou então passam os quatro anos hibernando, longe da população. Depois, em cima da eleição, tentam vender um plano de governo feito às pressas ao eleitor.

Mas a propaganda esbarra na realidade. Quem está no poder geralmente tem algo concreto – uma obra, um projeto – a apresentar à população. Sem idéias originais para contrapor-se a esse fato, é aí que o marketing eleitoral começa a apelar e empobrece ainda mais o debate público.

Fernando Martins é jornalista.

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