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Pediram certa vez ao professor Pedro Viriato Parigot de Souza que desse a sua opinião sobre determinado episódio. O professor declinou do convite. No momento, disse, estava em input. Fundiu a cuca de muita gente, até que, cuidadosamente, explicou que era a fase em que se recebem dados, informações. No outro extremo, o output, é quando liberamos o que foi processado e armazenado.

Natureza Morta, em seu exílio na mansão da Vila Piroquinha, lembrou da história do ex-governador ao tomar conhecimento, via Beronha, é claro, do comportamento de alguns jornalistas que cobrem as buscas ao Airbus. Não acreditou. Espantado, abriu uma tremenda exceção, recorrendo à internet do vizinho.

– Ué, por que o espanto? Antigamente não existia o televizinho?

No Observatório da Imprensa confirmou "As tragédias da mídia", no texto de Fernando Branquinho (2/6/2009): "Na falta de novidades, qualquer coisa servia para mostrar atualização do noticiário". Em um programa, "a coisa estava risível". Diante de imagens de um grande aeroporto, o apresentador dizia que era o aeroporto de Fernando de Noronha. Percebida a mancada, retificou. "Depois falou que havia caças na busca aos destroços, e que o tempo que levariam de Natal a Noronha era praticamente nenhum, porque eram supersônicos". Dedução de Branquinho: "Acho que confundiu com a nave de Star Trek, que chega à velocidade da luz." E teve mais: o apresentador "informou" que o Airbus estava voando a 11 mil km de altitude. "Ele devia estar falando de um voo espacial, já que a Estação Espacial Internacional orbita a 360 km de altitude. Confundiu metros com quilômetros."

Atordoado, Natureza resolveu abrir mais uma exceção. E foi levado ao desespero ao acompanhar parte de uma entrevista do ministro Jobim, da Defesa. A confusão formou-se em torno do raio – o ministro falava dos procedimentos de busca, e não de fenômenos atmosféricos, é óbvio.

Paciente como ele só, Natureza foi ao dicionário: raio – descarga elétrica entre uma nuvem e o solo. Raio (geometria): a distância que se estende em todos os sentidos de uma área, a partir de um ponto central. Raio (ainda geometria): segmento de uma reta que vai de uma circunferência, ou de uma superfície esférica, até o centro.

Natureza não resistiu. Pulou para o raio de ação: círculo dentro do qual se exerce eficazmente a ação de uma arma, de uma força militar. Mais raio: a máxima distância que um navio pode alcançar, partindo de sua base, e a ela retornar, sem se reabastecer de combustível nem de alimentos. Na sequência, e só de raiva, parou no verbete raivar: ter raiva, encher-se de raiva.

Ainda bem que o ministro não entrou na questão da frota. Já pensou explicar o que é fragata e dizer que é uma embarcação menor que o bergantim? E que bergantim tinha um ou dois mastros de galé? Galé? E que galé é outra antiga embarcação de guerra, como o galeão?

– Galeão? Mas o senhor não estava falando de marinha e agora pulou para aeroporto?

Visivelmente arrasado, Natureza deixar escapar: é dose pra mamute.

Beronha:

– Ma-ma, mamama o quê?

Francisco Camargo é jornalista

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