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Coisas do futebol: o sujeito é um grande escritor, um artista do conto. Mas carrega uma "marca detestável", que atrapalha a percepção que as pessoas têm dele. Esta é a história de Aldyr Garcia Schlee, o gaúcho que criou a camisa verde-amarela, marca registrada da seleção brasileira e "marca detestável" grudada no seu nome, segundo suas palavras. Foi em 1954 que o garoto Aldyr emplacou sua proposta para substituir a camisa branca, rejeitada depois do Maracanazo. Agora, chegando aos 80, o escritor em que ele se transformou lamenta que, no Brasil, esta obra obscureça a outra, a obra literária.

Schlee é uma figura e tanto. Nascido em Jaguarão, no extremo Sul, atravessava a ponte diariamente para ver os amigos da Banda Oriental. Seu país não é o Brasil nem o Uruguai, é um híbrido, um território chamado fronteira, permeado por campos de futebol e homens de aparência rude e coração ardente. Ele escreve em espanhol e depois reescreve em português. Publica primeiro lá, onde é mais lido que aqui. Ele faz a conta: se 3.500 exemplares de um de seus livros são vendidos no Uruguai, significa que a cada 1.000 uruguaios, um leu seus contos. Se no Brasil o sucesso fosse equivalente, ele venderia aqui 200 mil exemplares. Mas o brasileiro lê pouco e, entre os poucos que leem, muitos nunca ouviram falar dos contos fabulosos de Schlee. Dele, só se espera que explique como criou a camisa canarinho.

"Sempre as mesmas perguntas idiotas", me contou, falando por telefone desde Pelotas, onde vive. Na manhã em que conversamos ele chegava em casa depois de 11 dias em eventos relacionados à Copa. Do último, um seminário sobre moda e esporte, na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, o Saint Laurent do futebol desistiu. Claro que tem orgulho da camisa que criou, que continua sendo um torcedor, que ama o futebol. Mas a limitação ao tema "camisa canarinho" é um fardo para um homem criativo.

Quer conhecer um pouco mais de Schlee? Comece por Contos de Futebol. O mais recente se chama Contos da Vida Difícil e fala de prostituição. No cinema, você pode ver O Banheiro do Papa, deliciosa adaptação de um conto seu.

Na próxima segunda-feira, vestirei uma cópia barata da camisa criada por Shlee, tirarei da gaveta a velha câmera fotográfica e o ingresso comprado há dois meses e caminharei até a Arena da Baixada para ver Irã e Nigéria. Será a primeira e provavelmente única partida de Copa do Mundo que verei na vida. Depois eu conto se valeu a pena.

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