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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

É fevereiro, mês dos novos universitários, os calouros. Tem duas calouras na minha família que, se não são as primeiras a entrar em um curso superior, são as primeiras a precisarem de deslocamentos maiores para chegar à universidade escolhida, que fica em outra cidade. Enquanto os pais se inquietam com as meninas que se afastam, as próprias meninas florescem, brilham, rejubilam. A família é ótima, amo vocês, é importante se sentir protegida, mas a independência... Ah, a independência! Que energia boa ela nos traz!

Só pode ser um instinto ancestral, daqueles que herdamos dos primeiros Homo sapiens, um instinto que pede que saiamos de casa, que aprendamos a andar sozinhos, a explorar outros territórios (você um dia vai precisar encontrar o seu território, não vai?), a identificar amigos e inimigos. Quando o Homo sapiens do século 21 sai da caverna familiar para se arriscar no mundo, submetendo-se à força primeva do instinto, a natureza reconhece a vitória e libera essa alegria toda que vemos nos calouros sorridentes, ansiosos pelo mundo.

A saudade que sinto dos meus filhos pequenos é quase um luto

Os pais sabem bem por que se preocupam, por que se emocionam. É por temer os perigos, antecipar as vitórias, comemorar os avanços. Certo, certo, mas acho que tem mais. Pelo menos para mim tem.

Este é um daqueles momentos que marcam o passar do tempo. O jovem que sai de casa e que desfila sua ansiedade e liberdade em novos territórios está enterrando uma criancinha que os pais amavam tanto. Amam ainda. “Para mim, você vai ser sempre o meu bebê.” Onde está o bebê, onde está a criança? Em centenas de fotos e no coração dos pais e avós e até vizinhos que os conheceram. A saudade que sinto dos meus filhos pequenos é quase um luto. Aquela voz doce não existe mais, nem aquele cheirinho gostoso, nem aquela pele macia. Portanto, a criança não existe.

Cada nova fase, cada novo progresso da criança (que é um progresso dos pais também) empurra os mais velhos para o próximo quadrado desse jogo de tabuleiro, cada vez mais distante do primeiro quadrado, aquele que diz “início”. Eles crescem, nós envelhecemos.

Nada a fazer quanto a isso. Esse meu chororô é só uma constatação que compartilho com aqueles que também constatam o óbvio.

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