• Carregando...
A escola Pascoalino Provisiero, em Ponta Grossa, tem os mesmos equipamentos dos demais colégios, mas falta ligação à rede de esgoto | José Aldinan / Agência de Notícias Gazeta do Povo
A escola Pascoalino Provisiero, em Ponta Grossa, tem os mesmos equipamentos dos demais colégios, mas falta ligação à rede de esgoto| Foto: José Aldinan / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Secretaria discorda de estudo da CNA, mas não mostra números

Das 2.136 escolas da rede estadual do Paraná, 584 são consideradas rurais. O coordenador da Educação do Campo pela Secretaria de Estado da Educação (Seed), Vitor de Mo­­raes, discorda dos números apontados pela CNA e diz que todos os programas ofertados nas escolas urbanas são levados às rurais no Paraná. Ele afirma que o estado se antecipou ao Ministério da Educa­ção (MEC) e criou, em 2003, o departamento de Educação do Campo na secretaria.

Leia a matéria completa

Falta rede de esgoto em 58% dos estabelecimentos de ensino

A 22 quilômetros do centro de Ponta Grossa, nos arredores do Parque Estadual de Vila Velha, o principal ponto turístico dos Campos Gerais, fica a Escola Municipal Pascoalino Provisiero. Ela atende 140 alunos de fazendas e sítios próximos.

Leia a matéria completa

Ponta Grossa - Enquanto um projeto de lei, pronto para ser votado na Câmara dos Deputados, prevê a instalação de banda larga em todas as escolas brasileiras, um grande número de colégios ainda precisa se preocupar com assuntos muito mais básicos que a velocidade de sua conexão à internet – como um banheiro decente. Uma pesquisa inédita da Con­­fe­­deração Nacional da Agricultura (CNA), feita pelo Ibope, mostra que as escolas rurais brasileiras estão esquecidas e ainda têm como ferramentas básicas de ensino o mimeógrafo e o quadro negro.

Cerca de 18,6 milhões de crianças e adolescentes estudam na zona rural no país, sendo 942,6 mil no Paraná, segundo dados do Censo Escolar de 2009 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC). Muitos destes alunos frequentam escolas deficientes. A pesquisa da CNA revela que 70% dos prédios não têm biblioteca; 76% das escolas ainda usam o mimeógrafo; 74% não têm máquina de xerox; 58% não têm rede de esgoto; apenas 32% têm banheiros adequados; 82% não têm telefone e 56% não têm televisão. Enquanto o Congresso discute a banda larga, 66% das escolas rurais não possuem computador e 92% não têm internet. Os professores são mal remunerados: 66% recebem no máximo dois salários mínimos. Os alunos têm pais pouco instruídos: 32% nunca estudaram ou chegaram apenas a concluir a 4.ª série.

O secretário-executivo do Instituto CNA, Marcelo Garcia, diz que, apesar de a Região Sul do Brasil estar mais bem equipada na área da educação, quando o assunto é escola rural os estabelecimentos se igualam à realidade das escolas do interior nordestino. "As escolas rurais do Paraná aparecem com a mesma infraestrutura das escolas do sertão baiano", comenta. Ele afirma que o propósito da pesquisa é criar debate sobre o assunto. "As escolas rurais são muito diferentes das escolas da cidade. Muitas estão mal equipadas e não têm presença no século 21", comenta.

Transporte escolar

As estatísticas não surpreendem o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Carlos Eduardo Sanchez. "Já era um resultado esperado", aponta. Segundo levantamento da entidade, 90,4% das matrículas da educação do campo no ensino fundamental (1.ª a 8.ª séries) são de escolas municipais. Para Sanchez, as prefeituras concentram os recursos da educação no transporte escolar e deixam de investir nas escolas. "As escolas do campo estão em situação desfavorável. É preciso melhorar os insumos", comenta.

A defasagem tem explicação histórica. Nos anos 90, muitas escolas foram fechadas e os governos investiram em transporte escolar para levar os alunos até a cidade. Na última década, a educação do campo voltou a ganhar atenção dos governos com a criação de departamentos de educação rural e construção de escolas nas localidades rurais, mas muita coisa ainda precisa ser feita.

Recursos

Uma das propostas da Conferência Nacional de Educação, encerrada em abril em Brasília, é a de criar o índice Custo Aluno Qualidade (Caqi), ou seja, determinar qual o gasto necessário por aluno para garantir educação de qualidade a todos os estudantes. Atualmente, a conta é feita ao contrário: divide-se o total de recursos disponíveis pelo número de alunos para determinar quanto os estados e municípios receberão. De acordo com Sanchez, se fosse destinado 1% do Produto Interno Bruto para a educação, seriam injetados R$ 31 bilhões por ano no se­­tor. "É muito pouco dinheiro diante do grande benefício que geraria", diz.

Para a pedagoga da Uni­ver­si­dade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Neide Keiko Kravchwchwn Cappelletti, não adianta apenas retomar os investimentos em infraestrutura, mas manter cursos de formação continuada para os professores e incentivar os pais a acompanhar a vida escolar dos filhos. "De nada adianta uma boa ferramenta pedagógica se o professor não sabe utilizá-la", completa. A regra vale tanto para os materiais básicos, como televisão e mapas, quanto para computadores. "Não adianta deixar os mapas enrolados num canto da sala como também não adianta ter computador desligado na escola", comenta.

* * * * *

Interatividade

A falta de investimentos nas escolas rurais do Paraná atrasa o desenvolvimento do interior do estado?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.brAs cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]