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 | Átila Alberti/Tribuna do Paraná/ Arquivo
| Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná/ Arquivo

O comandante-geral da Polícia Militar do Paraná (PM), coronel Maurício Tortato, falou na manhã desta segunda-feira (8) que afirmar que não existe uma postura institucional que permita o empoderamento das mulheres na corporação é descabido. Foi a primeira vez que o comandante fez referência ao caso da bombeira Lilian Vilas Boas, 32 anos, que teve uma prisão de oito dias em quartel decretada pelo comando do 7.º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Curitiba após ter participado de um ensaio fotográfico sensual sobre empoderamento feminino.

A entrevista foi concedida no lançamento de um programa de aproximação da PM com a comunidade escolar, no bairro Jardim Cruzeiro, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (veja o texto abaixo).

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Tortato também falou sobre a divulgação dos números de mortes causadas por intervenção policial militar no Paraná, feita pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), na semana passada. Em média, quase uma pessoa por dia morreu em consequência da intervenção policial militar no Paraná. Ao todo, são 149 mortes em supostos confrontos com a Polícia Militar (PM) no primeiro semestre de 2016, 14% a mais que o registrado no primeiro semestre de 2015.

A bombeira

Tortato evitou falar diretamente do caso Lilian, já que ele é a última instância recursal dentro da corporação pelas legislações que regem a PM, mas defendeu a instituição das críticas recebidas após o assunto vir à tona. “Faria uma reflexão muito simples. É só ver a ampliação do quadro de mulheres na PM. A minha chefe de estado maior é uma mulher, diretora de pessoal, é mulher. Elas ocupam todas as funções estratégicas da corporação. Já tivemos comandantes de unidades”, disse.

Segundo o comandante, apesar disso, a reflexão na sociedade e na corporação sobre o tema é importante, mas exige maturidade. “Existe um grau de maturidade e qualquer percepção que generalize qualquer conduta que não seja das mais construtivas sobre relações de gênero no seio da PM seria descabido e uma postura não amadurecida por quem quer que seja”, afirmou.

O oficial prometeu ainda que, quando o caso chegar a suas mãos, ponderará a posição institucional. “Em algum momento isso vai ser decidido pelo comando-geral e, quando eu decidir, tentarei expressar com a maior integridade possível a posição institucional com absoluto respeito à condição da mulher na corporação”, mencionou.

Mortes por intervenção policial militar

Além de responder críticas à instituição no caso da bombeira Lilian, o comandante-geral comentou também a necessidade de não generalizar casos de desvios de conduta em mortes supostamente causadas por intervenção policial militar. Ele, inclusive, agradeceu o trabalho dos policiais que estão nas ruas, em combate ao crime.

“É uma reflexão importante porque a PM, salvo raríssimas exceções, não está gerando as ocorrências dos confrontos. A violência está sendo gerada por seguimentos marginais que recebem a repressão da PM, razão pela qual tenho que atestar e agradecer o elã de todos policiais não se furtam ao atendimento das ocorrências ainda que com risco real e constante”, afirmou.

O oficial afirmou que a instituição não quer que os confrontos terminem em morte, mas admitiu que têm aumentado. “Não é querido por nós. Temos trabalhado dentro de uma perspectiva de qualificar cada vez mais a PM, mas numa visão contextualizada em relação a nossa sociedade. Os indicadores crescem por uma série de fatores”, explicou. Por isso, Tortato pretende mostrar à sociedade a natureza dos confrontos por meio de uma estatística “mais qualificada” sobre as mortes envolvendo intervenções policiais militares.

“Há distorções, desvios de conduta, e, quando há, a PM saneia seus quadros com muita intensidade. Acredito sempre de maneira transparente, isenta impessoal, desprezando qualquer tipo de corporativismo criminoso”, garantiu.

Na avaliação dele, qualquer generalização sobre desvios de condutas que causam mortes pode piorar a segurança pública. “Se eu não apoiar os policias, se eu generalizar por um desvio de conduta todas as ações policiais militares, imagino que o quadro de violência pode ser agravado”, afirmou.

Programa em escolas tenta melhorar imagem institucional da PM

O Colégio Estadual Juscelino K. Oliveira, no Jardim Cruzeiro, em São José dos Pinhais, foi a primeira escola do estado a receber o programa “Polícia Militar na Escola”. O projeto, lançado na manhã desta segunda-feira (8), pretende aproximar a comunidade da corporação e melhorar a imagem institucional. O programa deve passar por várias escolas até novembro deste ano. Em agosto, a previsão é que a PM visite oito colégios.

Segundo o comandante-geral da PM, coronel Maurício Tortato, o programa vai tentar semear em crianças e adolescentes uma “percepção mais construtiva da polícia militar”. “A demanda por segurança sempre vai ser pautada pelo atendimento de ocorrência, mas a PM não faz só isso. Nós temos uma série de ações assistenciais, ações comunitárias, preventivas, manifestações públicas, processo interativo com movimento estudantil que não aparece”, disse.

Ele acredita que a aproximação com a comunidade escolar pode mudar uma “propaganda negativa” causada pelos veículos de imprensa que se pautam quase sempre pelas situações de violência causadas e atendidas pela polícia. “Nós pretendemos que a pauta de conhecimento da PM não se esgote nas situações conflitáveis, que por si só não preciso fazer marketing”, mencionou.

Durante o programa, a PM apresenta práticas ambientais, faz pinturas no rosto das crianças, orientações sobre o hasteamento da bandeira, provas lúdicas de desafios com cordas, apresentações com cães adestrados e cavalos, entre outras atividades.

Para o diretor do colégio, Antônio Sérgio de Oliveira Setin, a presença da PM é importante para melhorar a imagem da corporação. “A maior importância é desmistificar o trabalho da PM, passar imagem que é boa para comunidade. Às vezes, a comunidade tem só imagem da polícia opressora”, disse.

Outra necessidade é a orientação feita em relação ao consumo de drogas. Na opinião de Setin, embora haja assaltos no entorno da escola, o principal problema enfrentado pela comunidade escolar é o tráfico de drogas. “Essa questão é trabalhada tanto pedagogicamente pela escola, mas a PM também sempre que possível dá palestras”, explicou.

As amigas do 8º ano do colégio Karine Lopes, 14 anos, e Nicole Paula, 13, gostaram da presença dos policiais na escola. Karine tem o sonho de ser policial, mas já tem uma visão crítica da corporação. “Eu acho importante ver eles aqui porque às vezes eles são muito injustos e param pessoas na rua que não são bandidas”, disse Karine, que tem a aprovação da amiga.

Já Amanda Pinto, 14, da mesma série, lembrou que a presença dos policiais é importante para mostrar que eles são como todos os outros moradores da região. “As pessoas têm visão sobre como o que ocorreu com os professores (no dia 29 de abril de 2015), mas os policiais também têm sofrido, com falta de viatura. É importante também para ver que a gente pode confiar neles”, disse.

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