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Seja por preocupação com o meio ambiente, por indignação em relação às cadeias produtivas exploratórias ou por autoconsciência, a redução do consumo tem feito a cabeça de muita gente. Trata-se do movimento batizado lowsumerism – resultado da junção de low (baixo, pouco) e consumerism (consumismo) –, cuja bandeira é consumir menos e de maneira mais consciente.

Iniciativas

Confira alguns projetos que ensinam as pessoas a aproveitarem todo o potencial dos produtos que compram:

Café com costura

Desenvolvido pelo Roupa Livre, projeto que se propõe a transformar a relação das pessoas com o que elas vestem, mostrando alternativas ao descarte e às compras desenfreadas, como costurar, reformar ou trocar. O Café com Costura ensina a costurar e as peças produzidas são doadas para projetos sociais.

Repair Café

Dizem que só quem faz sabe o valor de cada objeto e, por isso, cuida. O Repair Café é um projeto que promove o encontro de pessoas que querem aprender a consertar coisas antes de jogá-las no lixo – seja roupas, bicicletas, móveis ou eletrônicos. O projeto nasceu na Holanda em 2009, mas já existe em mais de 800 lugares do mundo. No Brasil não é muito popular, mas já foram organizadas edições no Rio de Janeiro e em Santos.

Do it yourself

O movimento Do It Yourself existe há muitos anos, mas se popularizou com a internet: na rede é possível encontrar tutoriais detalhados de como fazer tudo (ou quase tudo). Exemplos são os sites DIY Natural, onde um casal americano compartilha receitas naturais para produtos de limpeza, higiene e alimentação; o Instructables, no qual se encontra tutoriais sobre todo tipo de produto ou objeto.

A proposta é romper o ciclo do consumismo que, no pior cenário, gera ansiedade, frustração e endividamento. De acordo com Eduardo Biz, analista de tendências da Box1824, empresa de pesquisa especializada em tendências de comportamento e consumo e responsável pelo projeto The Rise of Lowsumerism, é a consciência coletiva que está em transformação.

“O consumismo exacerbado é um comportamento do qual sentiremos muita vergonha daqui a alguns anos. Percebemos que as pessoas estão cansadas do excesso: excesso de trabalho, de bens materiais, de trânsito.”

Biz explica que o lowsumerism se revela em microtendências: é o movimento biker, que não quer mais comprar carros; é o empreendedorismo colaborativo, que não depende mais de grandes investidores financeiros; são as pessoas que não querem comprar, mas trocar ou fazer elas mesmas.

A designer Cristal Muniz, de 24 anos, aderiu ao lowsumerism motivada pela vontade de não produzir mais lixo – ou produzir o mínimo possível. Para levar o projeto pessoal adiante, ela criou um site – o Um ano sem lixo – no qual relata os progressos e as dificuldades encontradas.

Há quase um ano, Cristal carrega consigo guardanapos de pano e recipientes reutilizáveis, como uma garrafinha de vidro para beber água ou um copo retrátil para tomar bebidas servidas em restaurantes; as compras são feitas preferencialmente a granel e muitos produtos antes comprados periodicamente, como itens de limpeza e higiene pessoal, agora são produzidos em casa.

“Descobri que consigo reduzir meu impacto no mundo. Não se trata apenas de não produzir lixo na minha casa, mas menos lixo no mundo. Tudo o que consumimos gera consequências e é resultado de uma cadeia produtiva cujo custo ambiental e social é altíssimo. O mínimo que podemos fazer é consumir com consciência. A gente não precisa ter muitas coisas, mas sim acesso às coisas.”

Como praticar o lowsumerism

O lowsumerism se funda sobre o tripé: reflexão sobre o consumo pontual (basicamente pensar antes de comprar); busca por alternativas às compras (como troca e produção artesanal); aprendizado sobre como viver com o que é necessário e não com o que é desejável.

De onde vem esse produto?

O consumo consciente passa pelo conhecimento sobre como os produtos são fabricados e quais efeitos a sua fabricação gera no planeta – e vale para tudo: comida, roupas e tecnologia.

A primeira medida é desenvolver o hábito de ler embalagens e buscar informações além daquelas oferecidas pela publicidade. Com informação em mãos, o consumidor tem mais condições de entender quais os benefícios e prejuízos de determinada composição; quais os riscos sociais, trabalhistas e ambientais associados à cadeia de produção; qual o custo real da fabricação, que muitas vezes não é repassado para o preço final, indicando algum problema na cadeia produtiva (não se engane, alguém sempre paga).

Trocar, consertar, fazer

Hoje não é mais preciso comprar para usufruir de um objeto: é possível trocar, consertar ou fazer você mesmo – é a valorização crescente do acesso sobre a posse, uma das vantagens da economia colaborativa.

A ideia é compartilhar não apenas objetos, mas também conhecimento e trabalho. Existem várias iniciativas que incentivam as pessoas a desapegar e trocar roupas, móveis ou livros. Há outros projetos que se propõem a ensinar como consertar objetos para evitar o descarte precoce e desnecessário e garantir que eles não tenham que ser substituídos por outros.

E há, ainda, a cultura do Do it yourself: não compre, faça você mesmo. Na internet há vários sites que mostram como fazer quase tudo, desde roupas até xampus e hidratantes, passando por hortas caseiras, produtos de limpeza e móveis.

Preciso disso?

Reduzir o consumo não é tão simples, mas desenvolver consciência sobre o quanto se consome e o quanto é realmente necessário pode ajudar. Adeptos do movimento do menos sugerem que se faça uma lista de tudo o que é consumido durante um mês. A partir daí, começa o exercício de reflexão sobre quanto daquilo é supérfluo e quanto pode ser substituído por iniciativas como as citadas acima.

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