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Eles trabalham de seis a oito horas por dia e ganham entre R$ 1,5 mil R$ 2 mil, o que leva muitos a procurar um segundo emprego para complementar a renda. Essa necessidade não os difere de profissionais de outras categorias no Brasil, que também têm salários baixos e trabalham dobrado para sustentar a família. No caso dos controladores de vôo, entretanto, há uma diferença: deles dependem milhares de vidas, todos os dias. Um cálculo errado ou alguns segundos de desatenção diante do radar podem resultar em acidentes de grandes proporções.

A pressão a esses profissionais aumenta quando os recursos disponíveis não são os ideais. Neste mês, por exemplo, os controladores que trabalham no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, conviveram pelo menos três dias com problemas no radar que orienta pousos e decolagens, o que fez com que vários vôos atrasassem. Na quinta-feira passada, novos atrasos, desta vez porque um controlador de vôo de 46 anos teve uma crise de hipertensão e foi internado.

O caso do controlador do Afonso Pena não é único. A profissão é considerada uma das mais estressantes. Submetidos à disciplina militar, os controladores não podem exigir melhorias salariais e nas condições de trabalho. Procurados, costumam não comentar os problemas do cotidiano. Mas a Gazeta do Povo recebeu, por e-mail, as reclamações de um profissional, que não se identificou. "Se fosse possível fazer uma enquete da opinião dos controladores sobre as condições de trabalho, equipamentos e com as chefias, veriam que a insatisfação é total", afirmou. "Os chefes só falam em punições e militarismo em vez de se preocuparem em resolver deficiências de radares e freqüências."

"Sem o radar o trabalho aumenta. O controlador precisa calcular com base na velocidade da aeronave e em pontos da aerovia", explicou o controlador aposentado Elones Fernando Ribeiro, diretor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). "É um trabalho estressante. Pense que cada ponto no radar representa 300 ou 400 vidas." Os atrasos são provocados porque, sem o radar, um intervalo de tempo entre um vôo e outro é aumentado.

Segundo Ribeiro, com o radar em operação cada controlador pode monitorar de 12 e 14 aeronaves simultaneamente. "Sem o radar o pouso é feito com base em condições visuais e se formam as ‘prateleiras’: enquanto um avião pousa, os outros aguardam em órbita", disse ele. "Tem que coordenar tudo com papel e caneta. E deve haver um rodízio. Não tem como trabalhar oito horas seguidas."

De acordo com a profissional de saúde e pesquisadora Rita de Cássia Seixas Sampaio Araújo, de São Paulo, praticamente 100% dos operadores têm dois empregos. Rita chegou a recorrer à Justiça para obter informações da Aeronáutica, a quem já classificou como "caixa preta". A luta começou em 1996, quando o marido dela morreu no acidente do jato Fokker 100 da companhia Tam, que caiu em São Paulo e resultou na morte de 99 pessoas. "A questão crítica ainda é a da organização do trabalho. Quase todos os controladores têm dois empregos", disse. "Temos informações de que houve melhorias nas condições de trabalho, mas os turnos alternados não mudaram e o volume de tráfego aumentou."

A reportagem tentou ontem contato com os órgãos que controlam o tráfego aéreo no Brasil, mas não obteve resposta a respeito do assunto. No Cindacta 2, em Curitiba, o plantonista disse que nenhuma informação seria fornecida. No Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA), em Brasília, uma oficial ficou de levantar o número de controladores que atuam em Curitiba e a possibilidade de contratação de novos profissionais, mas não retornou a ligação até o fechamento desta edição.

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