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Com o aumento do tempo que as pessoas passam conectadas, as ameaças digitais estão em ascensão.| Foto: Bigstock

Com a expansão do coronavírus e a necessidade de isolamento social, boa parte das relações humanas do dia a dia tem sido substituída por contatos virtuais. O aumento do uso de meios digitais para as atividades cotidianas, inclusive para o trabalho em home office, tem feito subir o número de golpes e ataques digitais.

Os criminosos se aproveitam, em muitos casos, do clima de alarmismo causado pela disseminação do coronavírus. Os golpes incluem links falsos para benefícios do governo, para ofertas de álcool gel ou de máscaras e para assinatura de serviços de streaming. Lojas de aplicativos também têm apps maliciosos relacionados à Covid-19. O objetivo dos golpes, na maioria dos casos, é obter dados ou dinheiro dos usuários.

Instituições internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o FBI já emitiram alertas sobre o crescimento de ameaças por causa do coronavírus. No Brasil, em março, uma empresa de segurança digital, a PSafe, publicou um estudo afirmando que, em apenas uma semana, dois milhões de brasileiros tinham sido vítimas de golpes relacionados ao coronavírus.

Golpes a empresas também estão aumentando com coronavírus

Não é só de pessoas físicas que os golpistas virtuais têm se aproveitado. Muitas empresas, por causa do trabalho em home office, têm sido afetadas pela falta de segurança dos sistemas caseiros de seus funcionários.

“Estamos tendo mais casos de vazamentos de informações, sejam de pessoas físicas ou pessoas jurídicas. O número de ataques que são registrados pelos sistemas de defesa vem tendo um aumento considerável, no mínimo 30% em média”, afirma Renato Ópice Blum, advogado, economista e coordenador de cursos de Direito Digital da FAAP e da Ebradi.

O especialista diz que o aumento de golpes tem reflexo inclusive no número de clientes que o procuram, que é perceptivelmente maior. Boa parte desses clientes é de empresas que precisaram mudar sua forma de trabalho repentinamente.

“Houve uma migração muito rápida e abrupta de algumas empresas que não estavam acostumadas com home office. Com essa migração, você tem a mudança da utilização de um terminal de desktop corporativo para um caseiro. Esse caseiro, normalmente, tem mais vulnerabilidade. Tem mais aplicativos, porque a família usa. E não tem aquela proteção profissional que a companhia tem”, explica.

Ao conseguir o acesso aos terminais caseiros, os crackers – isto é, hackers que obtêm vantagens de outras pessoas invadindo sistemas – podem acessar informações corporativas presentes no computador dos profissionais que estão em home office. Ele lembra que os próprios criminosos do mundo digital “também estão em casa e têm mais tempo para o crime, infelizmente”.

Aproveitando as novas vulnerabilidades, em alguns casos, hackers acessam arquivos de empresas, criptografam esses arquivos e praticam extorsão, “normalmente em criptomoeda”, segundo Blum.

Pressão sobre profissionais de TI aumenta risco

O advogado destaca ainda que os profissionais de tecnologia da informação (TI), responsáveis pela manutenção dos sistemas de empresas, precisaram mudar suas rotinas e ajudar na adaptação dos outros funcionários ao novo tipo de trabalho, desde que o isolamento social começou.

“A manutenção da TI está sendo feita de forma remota, e você tem uma sobrecarga de trabalho para os departamentos de TI das empresas. Isso tem um reflexo natural no comportamento e no cansaço das pessoas, também”, diz.

Segundo o especialista, muitas empresas não tiveram tempo, ainda, de fazer vistoria e dar apoio para que as máquinas de seus funcionários, como notebooks ou desktops caseiros, ficassem livres de vulnerabilidades.

Outra mudança é a pressão sobre os profissionais que cuidam da manutenção remota de sistemas. “O próprio atendimento de SAC de empresas que têm a atribuição de ajudar na manutenção, no acesso e na configuração de sistema está cheio, sobrecarregado”, diz.

’Cybercrime sazonal’ também aumentou com coronavírus

Golpistas do mundo digital sempre adotam diferentes golpes de acordo com o período que a sociedade vive, o que Blum define como “cybercrime sazonal”. Perto da Black Friday, por exemplo, proliferam os links com promoções falsas. Na Páscoa, golpes que prometem ovos de Páscoa grátis são comuns. A diferença, agora, é no volume de ameaças.

“O cybercrime sazonal sempre aconteceu. Agora está mais intenso, em função de mais pessoas estarem mais conectadas”, afirma Blum. “Hoje, infelizmente, a maldade vem em cima de álcool gel, de máscaras, de remédios milagrosos e até das fake news como um todo”, acrescenta.

Um dos principais meios que os golpistas tem usado é criar aplicativos relacionados à crise do coronavírus – voltados a saúde ou a benefícios do governo, por exemplo –, na loja de apps do Android. Uma fragilidade do sistema da Google facilita esses golpes.

“A Google Play tem uma política diferente da Apple. A Apple revisa e tem códigos de segurança bem mais fechados que a Google, que usa códigos abertos e acaba tendo menos controle sobre o que é colocado na loja”, explica Blum.

O especialista faz uma recomendação: “Baixe o aplicativo a partir do endereço oficial, que é mais fácil. Nas páginas do governo, você tem o caminho direcionado para o aplicativo que foi criado. É diferente de pesquisar o aplicativo na loja”.

Dicas básicas para evitar problemas de invasão e roubos de dados

Veja algumas dicas básicas de proteção no mundo digital em tempos de coronavírus, reunidas pelo especialista Renato Ópice Blum a pedido da Gazeta do Povo:

  1. Atualizar todos os aplicativos e softwares, inclusive o sistema operacional.
  2. Colocar sempre dupla autenticação em todos os aplicativos que tiverem essa função. “Isso evita clonagem de WhatsApp ou clonagem de perfis de forma geral”, explica Blum.
  3. Evitar clicar em links recebidos por mensagem.
  4. Aumentar a desconfiança em relação a mensagens recebidas.
  5. Baixar aplicativos diretamente de seus sites oficiais.
  6. Criar um usuário diferente para cada membro da família em computadores compartilhados. “Tem que haver um acompanhamento no que cada um está fazendo e como está fazendo. É uma tarefa a mais, demanda mais tempo, mas evita um risco maior”, afirma o especialista.
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