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Bastião da polícia comunitária no Paraná, Bondaruk é face local do movimento mundial de humanização da segurança pública. | Arte: Osvalter Urbinati
Bastião da polícia comunitária no Paraná, Bondaruk é face local do movimento mundial de humanização da segurança pública.| Foto: Arte: Osvalter Urbinati

O coronel Roberson Bondaruk, 54 anos, oficial da reserva da Polícia Militar, tem seu nome inscrito na história da corporação. Chegou ao mais alto comando da corporação. Some-se a suas glórias figurar entre os decanos do programa de polícia comunitária no estado, feito reconhecido pelos entusiastas e pelos protestantes desse modelo. Para muitos, é o sujeito cumprido – quando fardado, beira os 2 metros de altura –, com jeitão de bom moço de colônia ucraniana. Sobretudo, Roberson é o policial que escreve. Muito.

Roberson Bondaruk: um oficial na informalidade

Policial e pesquisador Roberson Bondaruk consolidou sua obra de segurança pública em longas análises de estatísticas e em contato com a população. Trabalho fez dele um dos expoentes da polícia comunitária no Paraná. Ainda que contestada por setores mais conservadores da PM, política alterou olhar da população sobre a corporação. Confira trechos da entrevista do coronel à Gazeta do Povo.

Ao todo, assina 20 livros, uma biblioteca sem similares que faz dele uma autoridade para além das estrelas que carrega no peito. Seu trabalho A prevenção do crime através do desenho urbano, de 2008, desafiou os cercadinhos que o tema impõe e mereceu resenhas unânimes nos maiores jornais brasileiros. A obra se converteu numa Bíblia, citada a cada vez que se fala na relação entre muros imensos, ruas mal iluminadas, praças fantasmas e violência nas cidades. Design contra o crime – lançado no mesmo ano – colocou o nome do coronel em circuitos que pareciam reservados apenas a Philippe Starck. E O império das casas abandonadas, de 2005, fez do PM um personagem respeitado nos apaixonados circuitos dos direitos da infância – coisa rara até então.

Para mulheres

Pesquisador comanda série de vídeos sobre segurança feminina, com ilustrações de Osvalter Urbinati, da Gazeta

- Primeiro vídeo da série mostra como se proteger de assaltos.

- Dicas são certeiras: onde deixar a bolsa quando uma mulher vai a um restaurante? Qual o melhor lugar para o carrinho do bebê, em caso de roubo de carro?

A segurança pública virou seu selo de qualidade, mas não o único. Paralelo aos estudos que o colocaram paripassu com os bambas da ciência da criminalidade – do israelense David Weisburd ao mineiro Cláudio Beato –, Bondaruk deu asas a um projeto que acalentava desde os tempos de aspirante: os manuais de cuidado pessoal e patrimonial. São de leitura rápida, com dicas certeiras e uma vantagem sobre outras obras do gênero: nasceram de sua observação diária nas três décadas de caserna e de contato com o público, sua especialidade. Ele é do tipo que senta no meio fio para conversar com um menino em situação de rua. Não escapam de sua pena os comércios, as casas, os condomínios verticais e horizontais, assim como os idosos e as mulheres – esse último tema da série de vídeos que a Gazeta do Povo veicula a partir de segunda (4). (Leia no box.)

Na curva

Roberson Bondaruk não é um ponto fora da curva – como se pode imaginar. Foi formado nos moldes de uma polícia repressiva e militarizada, uma cultura à qual reagiu, a exemplo de tantos outros PMs. Na década de 1990, “alistou-se” numa espécie de movimento mundial que se empenhou em oxigenar a segurança pública. Os opositores os chamavam de “florzinhas”, sem sucesso. “Era ciúme pelo que a gente conquistava junto à comunidade”, resume, sem perdão. Causava impacto positivo a imagem dos policiais japoneses fazendo ikebana; dos guardas britânicos desarmados. Roberson chegou a estagiar na Austrália, uma das mecas da nova ordem, onde policial tinha de ser cordial. De volta, pronto se tornou um divulgador dos cânones da polícia comunitária, um termo autoexplicativo. Enfrentou resistências, respondeu em bom som. Estava preparado.

Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Nos primeiros anos de Polícia Militar, o tímido Roberson – filho de um pedreiro, morador do Parolin e oriundo da modesto Colégio Estadual Doracy Cezarino – foi desafiado por seus superiores a atuar no campo das comunicações. Preferia ser mandado a uma guerra no Oriente Médio, mas obedeceu. “Eu gaguejava”, lembra. Superou-se. Fez cursos. Treinou oratória, sob medida para sua voz de estremecer catedrais. Aventurou-se pelas estatísticas criminais, uma papa-fina que o tornou uma espécie de detentor do Cálice Sagrado.

“Entendi que havia informações válidas fora da inteligência policial. Vinham por pessoas comuns, profissionais da saúde, estudiosos”, conta o homem que passou a colecionar impressões sobre e violência e segurança pública dadas por quem não usava armas, cassetetes, que não gozava de autoridade constituída, mas tinha o que dizer. Na falta de literatura especializada, pôs-se a produzir apostilas, que serviam de alternativa aos manuais técnicos – “estilo Exército” . Os livros e manuais de Roberson Bondaruk começaram a nascer ali.

O contato com a imprensa só fez aumentar a voltagem dos conhecimentos. Ao contrário dos seus pares de farda – o PM desenvolveu desde cedo o gosto pelos colóquios com jornalistas. As perguntas que respondia lhe serviram de canal para se aproximar das expectativas dos moradores da cidade. Fez das entrevistas um roteiro de trabalho, como gosta de frisar. O corpo a corpo com a sociedade civil, via mídia, foi tão definitivo que Bondaruk planejou promover a Escola Militar do Guatupê, a qual dirigiu, num centro de referência em estudos de segurança pública. Teria conexão imediata com a comunidade. É um dos poucos projetos que não alcançou. Pelo menos em termos – as cartilhas, que não param de sair do forno, são sua pedagogia aplicada. Cada uma delas é um policial explicando o que sabe, em boas palavras.

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