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O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em encontro com o presidente de Angola, João Manuel Lourenço.| Foto: Romério Cunha/VPR

O governo brasileiro tenta negociar com Angola uma solução para o agravamento da crise da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no país africano. As investidas diplomáticas já envolveram diretamente o Itamaraty, o Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB).

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O conflito opõe uma ala fiel à direção brasileira da IURD e outra dissidente, constituída em Angola no fim de 2019 e autodenominada Comissão de Reforma de Pastores Angolanos (CRPA). A CRPA acusa membros da ala fiel a Edir Macedo de violar os estatutos e os direitos dos membros da igreja, enquanto a ala ligada à direção brasileira diz que os dissidentes aplicaram um golpe e estão agindo com a conivência do governo angolano.

No começo de 2021, membros da Igreja Universal fiéis à direção brasileira saíram às ruas em protestos contra a CRPA. Vídeos dessas manifestações divulgados pela Igreja Universal mostram agentes da Polícia Nacional de Angola agredindo manifestantes. Ao longo de 2021, dezenas de brasileiros ligados ao trabalho missionário da Igreja Universal em Angola foram deportados para o Brasil pelo governo angolano.

Parlamentares evangélicos estão pedindo ao governo Bolsonaro e ao Itamaraty para organizar uma missão a Angola a ser liderada pelo deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), que é da Universal.

Em julho de 2021, Bolsonaro enviou uma carta ao presidente de Angola, João Manuel Lourenço, manifestando “preocupação com recentes episódios em Angola de invasões a templos e outras instalações da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)”.

Na semana passada, em visita por ocasião da cúpula da CPLP (Comunidades dos Países de Língua Portuguesa), o vice-presidente Hamilton Mourão conversou sobre a crise da IURD em Angola em uma reunião bilateral com Lourenço e pediu a cooperação do governo angolano no caso.

Em nota enviada à Gazeta do Povo, a assessoria de Comunicação Social da Vice-Presidência afirmou que os compromissos do governo brasileiro em Angola foram “muito além da pauta Igreja Universal do Reino de Deus, a qual foi abordada de forma breve e secundária”. Disse ainda que Mourão solicitou ao presidente angolano, durante essa reunião, que o assunto fosse tratado “com base nos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório a todas as partes da controvérsia, sempre à luz do direito angolano”.

O Ministério das Relações Exteriores, por sua vez, afirmou à Gazeta do Povo que o governo brasileiro “acompanha com atenção os incidentes que afetam cidadãos brasileiros integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, desde o início da questão, em fins de 2019”, e que a embaixada do Brasil em Luanda tem mantido “permanente contato com os representantes da IURD, prestando a assistência cabível dentro das atribuições previstas nas convenções internacionais”.

“O Brasil tem defendido os direitos dos cidadãos e instituições brasileiros em Angola e efetuado gestões, em alto nível, em favor da proteção dos direitos dos religiosos brasileiros e de suas famílias naquele país”, acrescentou o Itamaraty.

Conheça os detalhes do conflito

O conflito opõe uma ala fiel à direção brasileira da IURD e outra dissidente, constituída em Angola no fim de 2019 e autodenominada Comissão de Reforma de Pastores Angolanos.

A ala fiel à direção brasileira é comandada hoje pelo angolano Alberto Segunda, que foi eleito em fevereiro de 2021 para substituir o brasileiro Honorilton Gonçalves. Já a CRPA está sob a liderança do bispo Valente Bizerra Luís. Em ambos os grupos, há tanto pastores brasileiros como angolanos.

O grupo fiel à direção brasileira classifica como golpe a apropriação de templos por parte da CRPA. Segundo a IURD, alguns dos líderes do movimento dissidente não eram nem sequer pastores e contaram com a conivência do governo angolano para tomar posse de templos.

Já a CRPA acusa a ala brasileira de “violação sistemática aos estatutos e direitos dos membros”, acusando os líderes designados pela direção brasileira da IURD de praticar racismo, impor a castração e a vasectomia a pastores e de abusar do poder, conforme reportaram diversos meios angolanos em junho de 2020.

Em outubro de 2020, a IURD venceu um processo na Justiça angolana contra a CRPA e retomou o controle de alguns templos invadidos pelos dissidentes. Mas, em novembro de 2020, o Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR) – órgão do governo angolano – apontou a CRPA como representante legítima da Igreja Universal em Angola. Com isso, o grupo liderado pelo bispo Valente Bizerra tornou-se o representante da Igreja Universal nos órgãos estatais de Angola. A decisão do INAR está sendo contestada na Justiça pela IURD.

À Gazeta do Povo, a IURD afirma que “é vítima de uma trama elaborada por um grupo de ex-oficiais que foram expulsos da Igreja em decorrência de graves desvios de conduta”. “Além de promover ataques, invasões e saques, eles espalharam notícias falsas em parceria espúria com alguns veículos de comunicação e a conivência de autoridades locais, para tentar expulsar a Igreja do país”, diz a Universal.

A IURD acrescenta que uma “escalada sem fim de omissões e arbitrariedades praticadas contra a Universal do país africano permitiu que os criminosos, com o uso da violência, tomassem templos da Universal em várias cidades angolanas, ferindo missionários da Igreja”.

Segundo a instituição, “todos os membros e o corpo eclesiástico da Universal de Angola foram vitimados pelos ataques” e 103 pessoas já foram deportadas, entre missionários e suas mulheres. A IURD acusa as autoridades locais de negligência no tratamento do assunto. “Foi o imobilismo de algumas autoridades que possibilitou que os mesmos bandidos fraudassem documentos públicos para tentar expulsar a Igreja do país. É o mesmo desleixo que não dá andamento a dezenas de ações na Justiça, que buscam, dentro da lei, punir os responsáveis por esses absurdos”, diz a igreja.

A Universal também alega que o objetivo do grupo opositor é “expulsar a Universal de Angola, além de roubar o patrimônio construído com o suor de todos os fiéis angolanos ao longo de muitos anos” e que fez “reiterados apelos públicos para que as autoridades brasileiras e a comunidade internacional acordem para a gravidade da situação”. “Se nada for feito, o ataque que a Universal sofre hoje, pode alcançar qualquer outra denominação religiosa amanhã, em qualquer outro país”, afirma a denominação.

A Gazeta do Povo consultou o governo angolano sobre o tema, mas não havia obtido resposta até a quinta-feira (22).

Linha do tempo do caso da Igreja Universal em Angola

  • Em novembro de 2019, o grupo dissidente invade as dependências da sede da Igreja Universal em Luanda e entra em conflito com pastores da Igreja Universal. A Universal diz que vários responsáveis por essa invasão nem sequer eram pastores.
  • Os dissidentes constituem uma Comissão de Reforma de Pastores Angolanos (CRPA), que se opõe à ala brasileira da IURD em Angola.
  • Em junho de 2020, a CRPA afirma que tomou o controle de dezenas de templos da IURD em Angola. O grupo dissidente alega como motivo da invasão a “violação sistemática aos estatutos e direitos dos membros”, acusando os líderes designados pela direção brasileira da IURD de praticar racismo, impor a castração e a vasectomia a pastores e de abusar do poder.
  • Também em junho de 2020, os dissidentes divulgam a diversos meios jornalísticos angolanos que o governo do país oficializou a dissolução da diretoria da IURD em Angola e a destituição do bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, que exercia, à época, o cargo de diretor da instituição no país africano.
  • A Universal brasileira diz que a suposta ata publicada no diário oficial angolano sobre dissolução da diretoria é falsa.
  • Em outubro de 2020, a ala brasileira vence um processo na Justiça angolana contra a CRPA e retoma o controle de alguns templos invadidos pelos dissidentes.
  • Em novembro de 2020, o Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR) – órgão do governo angolano – aponta a CRPA como representante legítima da Igreja Universal em Angola.
  • A decisão do INAR é contestada na Justiça pela IURD em dezembro de 2020.
  • Em fevereiro de 2021, membros da Igreja Universal fiéis à direção brasileira saem às ruas em protestos pacíficos contra a CRPA. No mesmo mês, o bispo angolano Alberto Segunda é eleito para substituir o brasileiro Honorilton Gonçalves na ala brasileira.
  • Em março de 2021, novos protestos ocorrem. Vídeos destas manifestações divulgados pela Igreja Universal mostram agentes da Polícia Nacional de Angola agredindo manifestantes.
  • Ao longo de 2021, dezenas de brasileiros ligados ao trabalho missionário da Universal em Angola são deportados para o Brasil pelo governo angolano.
  • Parlamentares evangélicos pedem ao governo Bolsonaro para organizar uma missão a Angola a ser liderada pelo deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), que é da Universal.
  • Em julho de 2021, o presidente Jair Bolsonaro envia uma carta ao presidente da Angola, João Manuel Lourenço, manifestando “preocupação com recentes episódios em Angola de invasões a templos e outras instalações da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)”.
  • Em visita para a cúpula da CPLP (Comunidades dos Países de Língua Portuguesa), o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) fala sobre a crise da IURD em Angola em uma reunião bilateral com Lourenço e pede a cooperação do governo angolano no caso.
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