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Colada em Curitiba, Almirante Tamandaré puxa para baixo o índice da RMC por causa da deficiência na infraestrutura urbana | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Colada em Curitiba, Almirante Tamandaré puxa para baixo o índice da RMC por causa da deficiência na infraestrutura urbana| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Contraponto

Comec faz ressalvas, mas admite que mobilidade ajudaria os municípios

O coordenador geral da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), Rui Hara, pondera que o Índice de Bem-estar urbano é importante, mas não deve ser analisado de maneira simplista. "Não dá para dizer que quem está na frente é melhor. A equipe de planejamento da Comec está analisando, mas não é o suprassumo, porque fatores como saúde e educação não estão inclusos."

Segundo Hara, cidades de médio porte são favorecidas nesse tipo de índice, já que as pequenas não têm estrutura e as grandes sofrem mais com problemas como mobilidade. "Se fosse levada em conta a população, Curitiba estaria em primeiro, porque tem mais habitantes que Vitória e Goiânia. Com índice acima de 0,8, só tem seis capitais, a mais populosa é Curitiba."

Apesar das ressalvas ao Ibeu, Hara acredita que a mobilidade entre os municípios da RMC seria importante para levar desenvolvimento a todos. "É um programa do governo estadual que todos os municípios tenham via de ligação asfaltada com os vizinhos. Aqui na RMC, só Doutor Ulysses e Cerro Azul não têm essa ligação."

Hara também concorda com a última posição de Itaperuçu, de onde três mil pessoas – quase metade da população – se deslocam todos os dias para trabalhar em Curitiba. Uma das soluções seria a instalação de mais indústrias na cidade. "A duplicação da Rodovia dos Minérios, que deve começar em maio, em parceria com a cimenteira Votorantim, também vai melhorar essa mobilidade. No horário de pico, é um horror, por causa dos caminhões de cimento." A Comec também promete refazer o estudo das vias, que está ultrapassado, para melhorar a mobilidade na RMC.

Para baixo

Falta de asfalto e calçada põe Almirante Tamandaré entre as últimas da região

Vigésima sexta das 29 cidades da Região Metropolitana de Curitiba, Almirante Tamandaré enfrenta sérios problemas de infraestrutura. Além da escassez de calçadas – presentes no entorno de apenas 6% dos domicílios –, de meio-fio e rampas para cadeirantes, a pavimentação também é deficiente, atingindo menos de 30% das residências.

Segundo levantamento da prefeitura, 84% da população aponta a pavimentação das ruas como a principal ação a ser realizada pelo poder público. Em seguida, vem a rede de esgoto, que não alcança 20% dos endereços.

"A prefeitura já entrou em contato com a Sanepar e estuda a possibilidade de tomar medidas legais", informa em nota a assessoria de imprensa da prefeitura de Almirante Tamandaré. O contrato previa 50% de alcance da rede de esgoto até o ano passado, o que não foi cumprido.

Orçamento baixo

Também por meio de nota, o prefeito Aldnei Siqueira reconheceu as dificuldades enfrentadas pela população e lamentou o fato de o município contar com um orçamento anual inferior a R$ 100 milhões para atender mais de 100 mil habitantes.

"Vivemos aqui dificuldades muito similares a outros municípios que integram regiões metropolitanas do país, porém, com o agravante de que, por abrigar o aquífero Karts, temos muitas limitações que atrasam, ou até impedem, o desenvolvimento econômico de nossa cidade."

Siqueira acrescentou que uma das medidas para melhorar a infraestrutura urbana é a pavimentação de quatro ruas (que somam um quilômetro de extensão), ao custo de R$ 400 mil. As obras tiveram início neste mês, e, nesta semana, a primeira via foi concluída.

O município também aguarda a aprovação de um projeto de R$ 20 milhões inscrito no PAC, do Ministério das Cidades, para a pavimentação de mais 48 ruas. A prioridade são as vias estruturais, rotas de linhas de ônibus e acessos a prédios públicos.

A Região Metropolitana de Curitiba (RMC) tem o terceiro melhor Índice de Bem-estar Urbano (Ibeu) entre as 15 re­­giões metropolitanas brasileiras estudadas pelo Observatório das Metrópoles. Na avaliação individual, Curitiba é a 19.ª no ranking geral dos quase 300 municípios analisados, mas entre as capitais aparece com o segundo melhor desempenho do país, atrás apenas de Goiânia.

INFOGRÁFICO: Confira o Índice de Bem-estar Urbano das metrópoles brasileiras

À frente da capital paranaense aparecem cidades menores de São Paulo e Rio Grande do Sul, mais bem colocadas em quesitos como mobilidade urbana e infraestrutura. Já dentro da RMC, Quatro Barras tem o melhor Ibeu depois de Curitiba, seguida por Lapa e Araucária. Na ponta de baixo estão Campo Magro, Rio Branco do Sul e Itaperuçu, a última com um índice 42% menor do que o da capital.

Calculado com base nos dados do Censo do IBGE, o índice pretende entender se a metrópole garante às pessoas as condições materiais necessárias para viver bem. Para isso, debruça-se sobre cinco dimensões da coletividade urbana: mobilidade, condições ambientais, condições habitacionais, atendimento de serviços coletivos e infraestrutura.

A coordenadora do Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles, Olga Firkowski, professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ressalta, no entanto, que o índice não é completo e deve ser olhado como um sinalizador, uma média. "A ideia é atualizá-lo sempre que possível, criando uma série histórica, para a formulação de políticas públicas."

O que está em jogo no Ibeu, segundo Olga, é a dimensão coletiva da vida urbana, que, muitas vezes, independe da renda dos indivíduos. "Posso ter carro, mas ser afetado por uma condição coletiva de vias entupidas." Apesar de não ser a mais crítica em nenhum dos quesitos, a RMC tem grandes desafios nas questões de mobilidade urbana, arborização e infraestrutura.

Sétima metrópole em mobilidade, Curitiba sofre com deslocamentos casa-trabalho, na média, maiores do que o ideal de uma hora. "Hoje estamos em uma posição de alerta, porque nossa estrutura não é mais adequada. Precisamos continuar discutindo a questão dos metrôs, do aumento da frota de táxi, dos ônibus e das vias. Estamos falando de ações do poder público."

Outro ponto a ser discutido é a arborização – item em que a RMC fica um ponto acima da média. Apesar de Curitiba ser arborizada e contar com parques e bosques, a realidade das demais cidades é bem diferente. Tunas do Paraná, por exemplo, tem apenas 1% de domicílios com árvores no entorno. "Uma situação muito positiva de Curitiba puxa o índice. E aí está o problema da falta de critérios para inserir municípios em regiões metropolitanas. Muitos estão longe, não têm acesso cotidiano", avalia Olga.

Sobre as condições habitacionais – que incluem densidade de pessoas por residência e por banheiro, além do material com que são feitas as casas – a RMC está acima da média. No atendimento de serviços coletivos urbanos (como rede de esgoto, fornecimento de água e luz e coleta de lixo) também há o que comemorar. "A posição, no geral, é confortável, mas é preciso abrir esse índice e olhar cada dimensão. Estamos falando de um conjunto de 29 municípios", lembra Olga Firkowski.

Disparidade dentro da RMC é grande

Uma melhor análise do bem-estar urbano da Região Metropolitana de Curitiba deve levar em conta a desigualdade entre a capital e a vizinha Itaperuçu. A primeira é a 19ª colocada entre 300 cidades e segunda melhor capital do ranking; a segunda está no 280º lugar no ranking geral e última colocada na região metropolitana a que pertence.

As diferenças são muitas. Doutor Ulysses (22ª colocada na RMC), por exemplo, tem o pior índice de infraestrutura de todos os municípios brasileiros estudados: 0,159 – contra os 0,777 de Curitiba. Esse critério é o mais deficiente da RMC e o único em que a metrópole não atingiu a média, sobretudo por causa das calçadas, pavimentação e acessibilidade.

Além de Doutor Ulysses, outras quatro cidades (Tunas do Paraná, Rio Branco do Sul, Quitandinha e Campo Tenente) não contam com rampas para cadeirantes. Rio Negro é a cidade com maior proporção de pessoas que moram em domicílios cujo entorno possui rampa (18,75). O índice 11,3 põe Curitiba em quarto lugar, atrás de Quatro Barras e Araucária.

Os problemas

Outra dimensão problemática na RMC é a mobilidade urbana, que atinge seu pior índice em Fazenda Rio Grande (0,225) e o melhor em Rio Negro (0,846). As condições ambientais urbanas também não são confortáveis na região, variando dos parcos 0,418 em Campina Grande do Sul aos bons 0,929 em Quatro Barras.

Entre as dimensões a se comemorar na RMC estão habitação e atendimento de serviços coletivos. Mesmo assim, as diferenças são grandes entre os 29 municípios. Enquanto a prestação de serviços como rede de esgoto, fornecimento de água e energia elétrica em Curitiba tem um dos melhores índices do país (0,951), a situação não é tão boa em Tunas do Paraná (0,566). Já em habitação, as disparidades intermunicipais são menores. O índice varia de 0,723 em Adrianópolis a 0,899 em Tijucas do Sul.

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