• Carregando...
Pastor da Igreja Presbiteriana de Curitiba, Hugo Wu tem 49 anos e vive na capital há seis meses. “Aqui temos mais oportunidade para crescer na vida.” | Fotos: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Pastor da Igreja Presbiteriana de Curitiba, Hugo Wu tem 49 anos e vive na capital há seis meses. “Aqui temos mais oportunidade para crescer na vida.”| Foto: Fotos: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

História

Processo imigratório foi retomado durante a era Mao Tsé-Tung

Resumir 201 anos de imigração chinesa em território brasileiro não é tarefa fácil. Vários elementos contribuíram para que a população mandarim se multiplicasse pelos lados tupiniquins. Os primeiros imigrantes vieram da colônia portuguesa de Macau para contribuir nas lavouras de chá. Foram trazidos por Dom Pedro I, que estava preocupado com o aumento do preço da bebida praticado pela Inglaterra.

Após um longo intervalo, o processo imigratório foi retomado nos anos 50, quando os chineses fugiram do comunismo depois que Mao Tsé-tung tomou o poder na China em 1949.

Para chegar ao Brasil, os chineses viajavam cerca de 50 dias de navio. A maioria vinha atraída pela possibilidade de trabalhar na agricultura. "Os ricos ou estudantes fugiram para evitar o sofrimento, ou seja, queriam buscar uma vida melhor. O Brasil tinha um acesso mais fácil", conta a pesquisadora chinesa Miao Shen Chen, que mora em Cascavel há 15 anos. Nesse mesmo período, muitos chineses buscaram vida melhor na ilha de Taiwan.

E é de lá que grande parte de chineses saiu com destino ao Brasil, processo que se intensificou na década de 90. Segundo ela, a maioria dos imigrantes vem do litoral da China ou Taiwan, "pois eles têm mais informações sobre outros países, que estimulam os povos a se aventurar". Outros que estavam radicados em Moçambique também optaram por arriscar a vida em outros continentes.

Religião

Segundo o pastor Hugo Wu, a busca pela liberdade de credo religioso confunde-se com a luta pela liberdade política. "Apesar de hoje já ter mais liberdade na China continental, o Estado se autodenomina ateu e por isso muitos seguem para outros países", conta.

Hugo Wu pode se considerar um peregrino chinês em terras latinas. Aos 49 anos, coleciona passagens por México, Argentina e há seis meses vive em Curitiba. Antes, morou por 13 anos em Foz do Iguaçu. Período insuficiente, entretanto, para adquirir fluência no português.

A segurança no diálogo só vem quando começa a disparar incontáveis palavras em mandarim. Traduzidas pela intérprete Lan Hui Fen, as frases ganham sentido. Wu é pastor da Igreja Presbiteriana Chinesa de Curitiba e desde os 23 anos vive fora do país de origem. Ele é um dos cerca de 10 mil chineses que moram no estado – são 3 mil espalhados por Curitiba, segundo estimativa da Associação Cultural Chinesa do Paraná. No Brasil todo, os "chinas" são mais de 200 mil.

Wu carrega na genética a busca pela liberdade. Nasceu em Taiwan, ilha situada a 130 km da parte continental da China. Seus antepassados fugiram da Revolução Comunista de 1949, que abalou as terras chinesas.

Motivações

A busca por maior liberdade política e religiosa foram as principais causas para os chineses deixarem seu país. Se Wu gosta do Brasil? Um sinal positivo e o sorriso estampado no rosto respondem. "Aqui temos liberdade e mais oportunidade para crescer na vida", diz o pastor. Os cultos e as orações entoados na igreja em que atua são todos em mandarim. "Mas para quem não entende a gente coloca alguém para traduzir", comenta.

A tradutora Lan Fei é outra que não esconde os motivos que levam a morar em outros países: "A busca por uma maior liberdade, em um lugar mais calmo, que possibilite maior crescimento profissional". Ela veio aos 11 anos para o Brasil, em 1975. Lan não tem vontade de regressar ao país asiático. "Já estou totalmente adaptada ao Brasil", diz a tradutora.

Porém, a adaptação nem sempre é tão fácil. Herdeiros de uma educação considerada mais rígida, as crianças desde pequenas aprendem a falar mandarim – idioma oficial da China – e outros dialetos característicos da região. "O português acaba sendo a nossa terceira língua", confessa Lan.

Prosperidade

O empresário Lin Chang Chih poderia ser sinônimo da prosperidade que tantos buscam em terras brasileiras. Assim que chegou a Curitiba, na década de 70, queria crescer na vida. Apesar dos percalços, teve a certeza de que aqui as coisas seriam melhores. Hoje, é empresário e proprietário de uma loja na cidade. Mas para os negócios fluírem, um detalhe era essencial: saber a língua do Brasil. A saída foi contratar um professor de português. "Agora, peço licença, que preciso abrir minha loja", despede-se Chih.

Língua e comida típica preservadas

Muitos dos costumes ainda são preservados pelos imigrantes e seus descendentes. O principal é o idioma. Pablo Chang saiu de Taiwan aos 15 anos e foi para Costa Rica, onde residiu por dois anos. Ele e seus pais saíram da China em busca de prosperidade. "A crise entre Taiwan e China era muito grande. Havia até medo de guerra", conta o intérprete de 36 anos.

Ele diz que suas duas filhas são educadas na língua de seu país e que aprecia muito a comida chinesa. Pablo levou quatro anos para falar português fluentemente. Outra marca dos chineses em Curitiba é o grande número de lojas e lanchonetes administradas por eles.

"Os primeiros imigrantes optaram por abrir negócios mais fáceis e que dão lucro para poder dar uma boa educação aos filhos", diz Pablo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]