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A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, está alinhada com o presidente Jair Bolsonaro em relação ao coronavírus: acredita que o isolamento vertical é a melhor opção para o Brasil e considera que a restrição mais radical de circulação deve se limitar a idosos e outros grupos de risco. Mesmo assim, opina que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que discorda do presidente, está fazendo um bom trabalho de cuidado com a vida.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, além de opinar abertamente sobre os posicionamentos das duas figuras mais em evidência na política brasileira no atual momento, Damares também fala sobre como seu ministério tem cuidado das populações mais vulneráveis na crise do coronavírus. Comenta a situação de idosos, indígenas, moradores de rua, refugiados e mulheres que sofrem violência.

Confira a entrevista na íntegra em texto e vídeo.

Os cuidados da ministra e do Ministério

"Eu não estou seguindo todas as recomendações médicas? Higienização o tempo todo, máscaras… Em lugares abertos, eu tenho usado máscara. Eu decidi usar máscara em todos os lugares. E luvas também. Ontem eu fiz duas viagens, ontem e sábado eu fiz duas viagens. Uma para Roraima e outra para o Amazonas. E eu, nessas viagens mais longas, eu decidi, em lugares mais distantes, se eu for a algum aeroporto, por exemplo, eu estou usando luvas e máscaras. Dessa forma.

Cuidando da saúde, me alimentando bem, tomando bastante líquido… Estou tomando todas as minhas precauções. No ministério, nós estamos com uma equipe bem reduzida. No gabinete, por exemplo, estamos só com duas pessoas se revezando. Meu pessoal que tem público vulnerável em casa, criança, idosos… Esses nossos servidores estão fazendo trabalho de casa mesmo. E só estão vindo ao gabinete duas pessoas para me ajudar no atendimento de um telefone, ou na emissão do documento, e revezando. Então nós estamos tendo todos os cuidados aqui no ministério com os nossos servidores e com a ministra."

Opinião sobre o isolamento vertical

"No caso em que o idoso só tem um filho, se esse idoso está acamado e precisa desse filho para cuidar dele, esse é uma exceção. Nesse caso aí, esse filho tem que se isolar junto com seu idoso. Então a gente tem que partir da regra para a exceção, não da exceção para a regra.

Eu concordo com o presidente Bolsonaro que o isolamento vertical é o ideal agora. Imagine eu: olha só, eu estou saudável e linda! Muito bonita. Imagine eu, com tanta coisa para fazer… Eu tenho uma nação para cuidar. Toda a população de vulneráveis está aqui neste Ministério. Todo o público vulnerável, quem cuida é o nosso Ministério. Imagina se eu ficasse agora isolada em casa, cuidando tão somente de casa. Eu faria muita coisa, mas eu não faria com a eficiência com que faço aqui no gabinete. E até mesmo ir em alguns lugares.

Eu fui a Roraima ontem. Tomei todas as precauções. Fui mesmo quando foi necessário. Mas foi tão importante ter ido lá… Porque lá nós temos a questão indígena e a imigração. São dois públicos muito vulneráveis. Eu tinha que ir lá, eu tinha que ver in loco o que está acontecendo e tomar decisões ali. Então eu fui.

Agora, imagina se eu (falo): ‘Vou me isolar, sou ministra, estou assintomática, mas eu vou me isolar’. Eu acho que eu colocaria em risco algumas vidas com meu isolamento. Então eu concordo com o presidente Bolsonaro, sim. Se eu estou saudável, não estou no grupo de risco, e eu posso produzir, para fazer a vida dos outros melhor, eu concordo com presidente, sim.

Os serviços essenciais não podem parar. O jovem trabalhador, o próprio pai de família trabalhador, que toma os cuidados quando chega em casa… Eu acho que o nosso trabalhador que está saudável, eu acho que ele já pode começar a voltar para o trabalho. Eu acho que alguns segmentos já podem começar lentamente a ir voltando.

Porque, olha, daqui a pouco a gente vai ter aí um problema sério, que é o problema econômico. Isso é muito grave. Deixa eu falar uma coisa para ti. Vou falar com o servidor público. Será que a gente vai ter dinheiro para pagar todos os servidores públicos até o final do ano? Vamos pensar nisso? Será que a gente vai ter dinheiro mesmo? Será que uma hora esse dinheiro não vai esgotar? Não está na hora de a gente fazer mesmo a economia girar?

Gente, olha, eu conheço muito o meu presidente Bolsonaro. Vinte e dois anos trabalha nos bastidores com ele. Conheço o coração daquele homem. Ele está inquieto, muito inquieto, porque ele está preocupado com essa outra situação grave: a falta de dinheiro para pagar inclusive os servidores públicos, para pagar as contas básicas do governo federal, municipal e estadual. Nós vamos ter que começar a pensar (em como) fazer essa economia girar, para garantir dinheiro para comprar remédio para os doentes. Então eu concordo com o presidente, com o isolamento vertical.

Claro, cada caso sendo muito bem analisado. E todo o mundo com a cabeça no lugar. Eu acho que todo o mundo tem que agora respirar fundo. A gente se concentrar, todo o mundo centrado, sem briga, sem confusão. Chega de politicagem. (Tem) muita gente fazendo politicagem. Vamos todos centrar, espera aí, vamos pensar, respirar, cada um cuidando da sua família, cada um cuidando do seu. Esse meu idoso pode ficar isolado sozinho? Não pode? Como é que a gente pode atendê-lo sem colocá-lo em risco? Dá para todo o mundo;

Deixa eu te dizer uma coisa, eu sei que muita gente vai ver esse vídeo. Não se preocupe em salvar o mundo. Onde a sua mão alcança: é com esse que você tem que se preocupar. É o seu tio, seu avô, sua avó, seu pai. Preocupe-se com os que estão em volta. Se cada um cuidar daquele que a sua mão puder alcançar, a gente vai ter muita gente sendo cuidada."

Opinião sobre Mandetta

"O ministro Mandetta, ele tem um posicionamento muito técnico. E eu não vejo o ministro Mandetta fazendo nenhuma violação de direitos humanos. Nenhuma violação. Ele tem o posicionamento técnico. Ele defendeu o seu posicionamento. A única situação que eu vi que as pessoas estavam questionando era o uso na fase inicial ou na fase final da cloroquina, mas ele parece que já está alinhando. Eu não vejo nas medidas do ministro Mandetta nenhuma violação de direitos humanos, não.

O ministro Mandetta tomou iniciativas lá atrás. O governo federal não está tomando iniciativas depois que estourou a pandemia. Vamos pensar na comunidade indígena. No final de janeiro já tinha atos normativos proibindo a entrada de pessoas em áreas indígenas. No nosso ministério, no início de fevereiro, nós já estávamos conversando com os povos ciganos sobre o cuidado com o coronavírus. Em 3 de fevereiro o governo federal já tinha decretado estado de emergência.

O Mandetta tomou iniciativas na área da saúde lá em janeiro. Isso é cuidado com a vida. Isso é uma ação de proteção a direitos humanos, o maior e o primeiro. O primeiro e maior de todos os direitos humanos é a proteção à vida. O ministro Mandetta caminhou nessa direção da proteção à vida."

Lockdown para os indígenas?

"É quase impossível fazer isso. Ninguém pode proibir as pessoas de ir e vir. Nós temos indígenas que precisam sair da aldeia para um atendimento médico. Você sabia que foi o caso deste menino (indígena jovem que morreu aos 15 anos vítima do coronavírus)? Ele saiu da aldeia porque ele já tinha problema respiratório. Nós temos indígenas que precisam sair da aldeia para, por exemplo, sacar um benefício e comprar comida para levar. Então, assim, dizer ‘ninguém sai da aldeia’ e proibir… O que nós estamos fazendo é o seguinte: orientando para não sair.

E para que eles não saiam a gente tem que deixá-los confortável nas aldeias. De que forma? Garantindo a eles alimentação. Olha, se for sair para comprar comida, não precisa. Nós estamos trazendo a comida para vocês. Mas ninguém pode amarrar um índio numa cabana, numa maloca e dizer ‘você não pode sair’. O nosso papel é de conscientização. O nosso papel é dizer ‘não saia, tem um vírus perigoso’. E está dando muito certo.

Vamos falar sério, olha aqui: a morte do primeiro indígena aconteceu em 10 de abril. Havia uma previsão de que no início de março, meados de março, milhares de indígenas teriam morrido no Brasil. A primeira morte, primeiro óbito registrado, 10 de abril. Lamentamos. Eu não queria nenhuma morte indígena, nenhuma, nenhuma. Não queria morte de nenhum brasileiro. Mas, veja só: num estado pobre como Roraima, assim como na Amazônia – a gente tem agora mais dois óbitos na Amazônia –, e a gente chegar a metade de abril e, só agora, ter três ocorrências, a primeira no dia 10 de abril, mostra que as medidas tomadas lá em janeiro com relação aos povos indígenas deram muito certo. Estão dando muito certo.

A Secretaria Especial de Saúde Indígena está investindo todo o seu orçamento no combate ao coronavírus. Os agentes de saúde indígena estão em áreas e estão sendo cuidados também. Nós temos agentes da Funai que já foram para a área para ficar três meses lá com os indígenas, tranquilizando eles. E os suprimentos estão chegando. E com toda a higienização. Nenhum suprimento está chegando na aldeia sem os cuidados. Com toda a higienização.

Então, assim, eu tenho que parabenizar o ministro Moro e a Funai pelas medidas tomadas, e parabenizar a Secretaria Especial de Saúde Indígena pelas medidas tomadas. Nós estamos protegendo os povos tradicionais de uma forma extraordinária. E nós estamos aqui torcendo para que cesse aí, para que a gente não tenha mais nenhum caso entre os povos indígenas.

Ah, mas (vou) te dizer uma coisa: a gente tem aí também acho que quatro confirmados que já foram curados também. Então a gente percebe que a doença age do mesmo modo entre os povos indígenas e os brancos. É do mesmo modo. Então já temos também quatro indígenas que foram recuperados, que estavam internados com coronavírus e que já foram recuperados."

Covid-19 e a violência contra a mulher

"Estamos acompanhando. Não teve a explosão que teve na Europa, mas teve um aumento bem considerável. No Rio de Janeiro, a gente tem um número que nos assusta. Cresceu no Rio de Janeiro, no mês de março, 50% o número de denúncias.

Aí a gente tem que fazer uma observação: cresceu a violência ou cresceu a denúncia? Porque tem um fator que a gente tem que considerar. No Rio de Janeiro, foi dada a possibilidade das mulheres fazerem boletim de ocorrência via online. Então, o que a gente observa é que a mulher agora lá tem a facilidade de fazer ocorrência no celular. Então foi dada a ela a possibilidade de fazer ocorrência online. É possível que algumas denúncias estejam sendo feitas de mulheres que até mesmo antes do coronavírus já estavam no ciclo de violência, mas não tinha coragem de ir a uma delegacia.

Mas, de qualquer forma, o confinamento, é provado que o confinamento faz com que a violência cresça. Mas não temos, assim, ainda um boom. Não aconteceu esse boom. É preocupante, muito preocupante, porque o nosso disque 180, a junção dos dois canais, que é a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, registrou mais de 5.000 denúncias de violação de direitos relacionadas ao combate ao coronavírus. Então a gente já tem um número considerável aqui no ministério.

Se a gente for fazer uma análise, no nosso ministério, no ligue 180, o aumento de violência, de denúncia de violência contra a mulher foi de 9%. No Rio, eles atribuem 50%. Nós estamos esperando agora para consolidar os dados dos últimos 15 dias, para a gente informar para vocês esse aumento nos últimos 15 dias. Esses dados que estou te apresentando ainda são do mês de março."

Covid-19 e a população de rua

"O público vulnerável, nós temos, entre eles, nós temos aí a população em situação de rua. Nós precisamos, neste momento, acolher. Porque a gente sabe que, para se prevenir o coronavírus, a medida de prevenção é a higienização. Como eu vou falar de lavar as mãos e de álcool gel com uma população que não tem uma pia, que está na rua? Então o ideal para população de rua agora é o acolhimento imediato de todos eles.

E como isso se dá? Isso vai se dar com a ampliação dos abrigos públicos. O Ministério da Cidadania está trabalhando num aporte de recursos para a ampliação dos abrigos públicos, mas também convidando a sociedade civil, a iniciativa privada, para virem conosco, especialmente as instituições religiosas, e nos ajudarem a acolher a população de rua.

Foi lançado aqui em Brasília, hoje [segunda-feira, 14] o programa Brasil Acolhedor, coordenado pelo Pátria Voluntária, pela nossa primeira-dama, que está trazendo instituições religiosas e outras instituições para que venham conosco acolher o maior número possível de moradores de rua. E queremos fazer isso agora, nos próximos dez dias. Acolher o maior número possível, antes que comece o frio. Este é o momento certo para a gente acolher todos os moradores de rua.

E lembrando que, neste recorte dos moradores de rua, nós temos aí um público que é o morador de rua dependente químico. E nós temos que acolher, também. Então já estamos trabalhando com a Secretaria Nacional Antidrogas para uma ampliação de vagas nas comunidades terapêuticas no Brasil. A Secretaria Nacional Antidrogas já tem um programa de financiamento de vagas. A Secretaria vai ampliar o número de vagas para que pessoas de rua que não possam ficar em abrigos do governo, ou esses que nós vamos buscar junto às instituições religiosas, que não podem ficar porque são dependentes químicos, eles serem conduzidos para comunidades terapêuticas."

Covid-19 e os refugiados venezuelanos

"Nós estamos juntos acompanhando a Operação Acolhida. O nosso ministério tem trabalho diário. A política pública de migração fica com o nosso ministério. Então nós já estamos lá dentro da Operação Acolhida naturalmente. Ontem, uma das minhas missões em Roraima foi visitar o Operação Acolhida e ver o programa de contingenciamento para os imigrantes, para os que já estão acolhidos ali. E saí de lá muito feliz.

Já estão sendo entregues nesta semana 80 leitos para atendimento a possíveis (casos de) imigrantes. Não tem nenhum caso ainda de contaminados entre os imigrantes venezuelanos que estão na Operação Acolhida. Nenhum caso. Tem 80 leitos, mas já está indo para uma segunda fase, para chegar a 400. E há uma expectativa, há uma possibilidade da Operação Acolhida lá em Roraima chegar a 1025 leitos, o hospital de campanha da Operação Acolhida das Forças Armadas chegar a 1025 leitos, que seriam ofertados ao governo do estado, em parceria também com o governo do estado, para atendimento a todo o estado a todo o públicos do estado.

A gente esteve até fazendo uma projeção. Proporcionalmente seria o maior número de leitos no Brasil. Em hospital de campanha, será lá na Operação Acolhida. Todos os programas de prevenção estão sendo feitos com os imigrantes. Álcool nos acampamentos, higienização, a língua deles sendo falada o tempo todo, o espanhol. Nós temos entre os imigrantes, também, os índios warao, da Venezuela, que não falam espanhol e não falam português. Eles falam a língua warao, também as orientações na língua warao. A Operação Acolhida está cuidando muito bem deles.

Os outros imigrantes que já estão em áreas urbanas, aí é por conta de cada município. Eles estão incluídos no programa social dos municípios."

Covid-19 e as igrejas

"As lideranças evangélicas que conversam comigo já tinham decidido fazer as celebrações via online. No início de março, eu tive uma reunião no ministério com as maiores igrejas evangélicas e a CNBB, onde eu sentir que eles já estavam tomando a iniciativa de fazer as celebrações online.

Agora, eu entendo, e o presidente também entende que as igrejas precisavam ficar abertas. Não para as grandes aglomerações, mas para nos ajudar neste momento de acolhimento à população de rua, para nos ajudar no atendimento às instituições de longa permanência de idosos, aos abrigos de crianças.

Eu cito este exemplo, e me permita usar este canal também para citar este exemplo: numa cidade pobre da região ribeirinha, nós não temos um psiquiatra de plantão 24 horas, nós não temos psicólogo de plantão. Neste momento de confinamento, um adolescente dá um surto dentro de casa… Você acha que essa mãe procura quem, normalmente, quando já acontece? Ou por uma questão de uso de drogas, ou por um problema de doença mental… A mãe procura quem? É na casa paroquial que ela bate. É na igreja, é no templo, é na casa pastoral que ela busca ajuda.

Então a gente entende que os templos, em muitas comunidades, é o local de pedido de socorro, de consolo e de conforto. A gente entende que os templos poderiam ficar abertos, não para grandes celebrações, mas para ser um ponto de referência, de conforto, de consolo e de pedido de ajuda. E por isso o presidente, inclusive, num decreto, trouxe ali que os templos religiosos devem ser considerados como serviços essenciais de acolhimento, de atendimento, de prestação de serviço social, neste momento em que o Brasil vai precisar tanto."

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