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O derretimento do gelo elevou as taxas de mortalidade das focas harpa, que usam a costa leste do Canadá para dar à luz seus filhotes | AFP
O derretimento do gelo elevou as taxas de mortalidade das focas harpa, que usam a costa leste do Canadá para dar à luz seus filhotes| Foto: AFP
  • Variação na temperatura da areia ameaça a choca de ovos de tartaruga
  • Água salobra afeta as árvores-ninho do papagaio-de-cara-roxa
  • A elevação das temperaturas tem provocado a migração de espécies vegetais, a exemplo da araucária, que está se deslocando mais para o Sul

Mesmo distantes das calotas polares, países tropicais como o Brasil têm sentido na fauna e na flora os impactos negativos do degelo no Atlântico Norte, consequência do aquecimento global. Lá, um efeito aparente é a mortalidade de focas harpa; aqui, a ameaça ronda baleias jubarte, tartarugas pente, albatrozes, papagaio-da-cara-roxa, recifes de corais e até as araucárias. O problema se expande em escala preocupante.O desaparecimento do gelo do Atlântico Norte está causando altas taxas de mortalidade entre focas harpa, revela estudo da Duke University (EUA) e do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW). Segundo a pesquisa, a superfície de gelo sofreu redução de 6% a cada década, desde 1979.

As focas harpa usam as camadas de gelo da costa leste do Canadá para dar à luz seus filhotes nos meses de fevereiro e março, quando termina o inverno e inicia a primavera no Hemisfério Norte. O Departamento Canadense de Pesca calcula que 80% dos filhotes de foca nascidos em 2011 tenham morrido por falta de gelo. O estudo afirma que todos os filhotes morreram nos anos em que houve pouco gelo no oceano.

Além de outros mamíferos árticos afetados pelo derretimento dos polos, como baleias belugas, pinguins e ursos polares, há outros animais em todo o planeta ameaçados pelas mudanças climáticas. Baleias jubarte, tartarugas de pente e albatrozes também estão no rol de animais ameaçados, segundo a coordenadora da campanha Clima e Energia, do Greenpeace, Leandra Gonçalves.

No Brasil, o exemplo mais emblemático são os recifes de corais. "Em áreas tropicais, o aumento da temperatura do oceano afeta os corais e priva muitos outros habitantes de sua fonte de alimentos", explica Leandra. Se­­gundo ela, a extinção dos corais está se acelerando e estima-se que, em 50 anos, 80% dos corais de todo o mundo possam desaparecer.

A elevação na temperatura das águas oceânicas não é a única consequência das mudanças climáticas que pode exterminar algumas espécies. Essas alterações no clima afetam o habitat, a alimentação e o ciclo reprodutivo de incontáveis animais. As tartarugas, por exemplo, têm sua reprodução ameaçada pela variação na temperatura da areia. "Elas dependem da temperatura adequada para o processo de choca dos ovos. Isso interfere na quantidade de filhotes que conseguem nascer", explica o biólogo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS) Denilson Cardoso.

Risco de extinção

O derretimento das calotas polares também representa perigo para espécies brasileiras. O papagaio-de-cara-roxa, espécie endêmica do litoral sul do Brasil, está sob risco de extinção. Uma das causas do declínio da população da ave no Paraná se deve ao aumento do nível do mar, onde a espécie se concentra na Ilha Rasa, facilmente coberta na maré alta. "As águas internas da ilha já estão se tornando salobras, o que afeta as árvores que servem de ninhos naturais", diz Cardoso. O papagaio faz seus ninhos em ocos de árvores. Para tentar preservar a espécie, a SPVS tem implantado ninhos artificiais na ilha.

O biólogo lembra que, apesar da tendência de se pensar apenas nas consequências do calor, as alterações nos períodos de frio e nos regimes de chuvas também representam ameaças para a manutenção de algumas espécies. "Alguns animais esperam o período de seca para se reproduzir; outros dependem da água e da umidade."

A alimentação é outro fator que ameaça a sobrevivência de animais diante das mudanças no clima. Segundo Cardoso, a elevação das temperaturas tem provocado a migração de algumas espécies vegetais. Um exemplo bem próximo é a araucária, que está se deslocando para regiões mais ao Sul, que são mais frias. "Os animais que se alimentam dessas culturas migrantes se deslocam também ou morrem de fome. Por isso vemos animais aparecendo nas cidades."

Outros fenômenos provocados pelas mudanças climáticas podem provocar alterações no habitat e ameaçar a sobrevivência de animais. Tormentas e tornados, por exemplo, podem destruir habitats e ninhos e interferir no sistema hídrico, impedindo gradativamente a reprodução das espécies.

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