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O desmatamento na Amazônia prejudica o clima no planeta e infla os indicadores de emissões brasileiras | Handout/Reuters
O desmatamento na Amazônia prejudica o clima no planeta e infla os indicadores de emissões brasileiras| Foto: Handout/Reuters

Contraponto

Pesquisador afirma que os índices melhoraram muito

O Brasil é um injustiçado, na opinião de Thiago Mendes, especialista em mudança do clima do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ele destaca que, em relação às emissões no início dos anos 2000, o país já conseguiu diminuir substancialmente o seu papel de um dos principais agentes no comprometimento do clima do planeta. "Em comparação com o passado, a diminuição promovida pelo Brasil é equivalente ao que o Reino Unido, berço da Revolução Industrial, emite em um ano."

Mendes enfatiza que a redução brasileira é maior do que a realizada por qualquer outro país. Apesar de salientar os avanços, ele concorda que se houver descuido nas políticas de contenção das emissões, o Brasil não vai alcançar a meta voluntária de chegar a 2020 com 80% menos gases gerados do que a média registrada entre 1995 e 2004. "Mas para isso precisa investimento", lembra. O especialista comenta que, apesar dos bons resultados dos últimos anos, o Brasil não recebeu nenhum tipo de compensação pelas reduções conquistadas.

Comparativo

Emissões brasileiras estão acima da média mundial

Também o uso frequente de termoelétricas, que estão compensando o déficit na produção de energia hidrelétrica, pressionou os indicadores. Com mais desmatamento e mais uso de energias "sujas", a perspectiva é de que os dados de 2014 representem aumento ainda maior nas emissões. Com a ampliação do uso da gasolina em detrimento do etanol, por exemplo, o consumo urbano também deve continuar pressionando os indicadores.

O Brasil responde por 3% das emissões do planeta. Parece pouco, mas o problema é que o valor está acima da média mundial por habitante. No mundo, as emissões anuais divididas pela quantidade de pessoas chegam a 7,2 toneladas per capita. No Brasil, estão em 7,6 toneladas por pessoa. Pela primeira vez, o relatório do Observatório do Clima apresentou dados por estado. O Paraná aparece em décimo lugar no ranking nacional. Ao contrário dos dados brasileiros, aqui não é o desmatamento o principal gerador de emissões. Agropecuária e energia, especialmente a queima de combustíveis fósseis, assumem a liderança.

De que forma o corte de árvores gera gases que prejudicam o clima no planeta? Entender esse processo é essencial já que o desmatamento no Brasil, especialmente na Amazônia, voltou a crescer no último ano, pressionando as emissões de gases de efeito estufa. Os dados foram revelados ontem em um relatório do Observatório do Clima e mostram que em 2013 foi jogado na atmosfera 1,56 bilhão de toneladas de carbono equivalente.

INFOGRÁFICO: Confira a quantidade de gases do efeito estufa emitidos no Brasil

É um engano pensar que apenas quando uma floresta queima, vira fumaça, é que são gerados gases nocivos ao meio ambiente. Dois fatores influenciam. Primeiro que a árvore viva retira do ar o carbono e devolve oxigênio. Mesmo que as plantas devolvam gás carbônico durante a noite, na média diária o saldo ainda é positivo. Assim, a derrubada de árvores aos milhares compromete a capacidade de purificar o ar. O segundo aspecto é que, morta, a planta se decompõe (os galhos, ao menos) gerando gases como metano e carbono.

Desde de 1990, quando as emissões de gases de efeito estufa começaram a ser calculadas no Brasil, é o desmatamento que lidera o ranking de principais responsáveis pelas emissões do país. Atualmente, representa uma em cada três toneladas que são jogadas no ar. Duas ressalvas são necessárias. O cenário já foi muito pior do que o atual. Há uma década, a quantidade de áreas desmatadas crescia num ritmo tão avassalador que as emissões de gases de efeito estufa representavam quase o dobro dos valores atuais. O segundo aspecto, contudo, é negativo. O Brasil havia conseguido, durante anos a fio, reduzir drasticamente o desmatamento e, com isso, "congelou" o indicador anual de gases emitidos. A nova escalada de derrubadas na Amazônia, registrada desde o ano passado, fez voltar a aumentar as emissões brasileiras, após um período de quatro anos sob controle.

Para quem pensa que o aumento nas emissões está ligado diretamente a um processo de desenvolvimento econômico, fica um alerta: enquanto o volume de gases jogado na atmosfera subiu 7,8% de um ano para o outro, o Produto Interno Bruto (PIB), principal indicador de movimentação econômica, subiu 2,49% em 2013 no Brasil. André Ferretti, coordenador do Observatório do Clima, comenta que o mais preocupante é que todos os setores da economia tiveram crescimento significativo nas emissões.

Outro lado

Em nota, o Ministério do Meio Ambiente contesta os dados apresentados ontem, alegando que a metodologia utilizada pelo Observatório do Clima é diferente do modelo oficial. De acordo com o texto, o levantamento do governo considera as emissões, contando a remoção de carbono da atmosfera realizada pela própria floresta. Já o Observatório levaria em conta os dados sem considerar a remoção das áreas protegidas.

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