Ocupação
Região pode ter se desenvolvido ainda na era pré-colombiana
Pedaços de vasos de cerâmica e ferramentas feitas de ametista e quartzo estão entre os sinais de ocupação humana há milhares de anos na região das cavernas da Amazônia. Juntamente com a abundância das cavernas e abrigos rochosos, isto faz de Carajás um dos lugares mais importantes para o estudo de humanos pré-históricos. Lá, os pesquisadores encontram provas de que bem mais gente já viveu na região do que era considerado possível. Embora a Amazônia já tenha sido considerada incapaz de manter sociedades grandes e sofisticadas, pesquisadores agora defendem que a região possa ter sido o lar de prósperos centros urbanos anteriores à chegada de Colombo.
Nesta época, as pessoas provavelmente viviam nas cavernas da Amazônia. Em Pedra Pintada, também no Pará, Anna C. Roosevelt, arqueóloga norte-americana, demonstrou que caçadores-coletores chegaram à região de 10.900 a 11.200 anos atrás, data muito anterior à imaginada, na mesma época em que o povo da América do Norte caçava mamutes.
É preciso passar por três níveis da vegetação repleta de orquídeas da floresta tropical, onde onças espreitam e anacondas rastejam, para que os arqueólogos cheguem a uma das mais atordoantes vistas da Amazônia: uma série de cavernas e abrigos rochosos que preservam os segredos dos seres humanos que viveram aqui há mais de 8 mil anos.
Em quase qualquer outro lugar do mundo, essas cavernas seriam preservadas como uma fonte inestimável de conhecimento sobre a história dos seres humanos pré-históricos. Mas não é assim nesse canto da Amazônia, onde a Vale, gigante da mineração brasileira, está avançando com a expansão de um dos maiores complexos de extração de minério de ferro do planeta projeto que destruirá dúzias dessas cavernas tão estimadas pelos pesquisadores.
As cavernas, bem como as riquezas espetaculares contidas nelas, puseram o Brasil diante de um dilema: o minério de ferro de Carajás, exportado, em sua maior parte, para a China, onde é usado para fabricar aço, é um dos pivôs das ambições do Brasil de ressuscitar uma economia lenta. No entanto, arqueólogos e pesquisadores defendem que a ênfase em ganhos financeiros a curto prazo põe em risco uma janela sem igual para um passado nebuloso.
"É um momento crucial para aprendermos sobre a história humana na Amazônia e, por extensão, sobre todo o processo de habitação das Américas", disse Genival Crescencio, espeleólogo e historiador do Pará, onde se encontra Carajás. "Deveríamos preservar este lugar, de importância inigualável para a ciência, mas o estamos destruindo só para que os chineses abram mais algumas fábricas de automóveis".
Descobertas
Enquanto o Brasil embarca num esforço frenético para promover a mineração e melhorar a infraestrutura, equipes na Amazônia e além vêm fazendo uma descoberta atrás da outra, cada uma mais assombrosa que a anterior. No Rio de Janeiro, arqueólogos estão examinando um cemitério e mercado de escravos onde milhares de africanos foram enterrados. As descobertas complicaram as melhorias de infraestrutura que estavam sendo feitas no porto e na rede de transporte público, para os Jogos Olímpicos de 2016.
Pesquisadores afirmam que as cavernas de Carajás, que os arqueólogos começaram a explorar na década de 1980, oferecem revelações há muito procuradas sobre o que podem ser os mais antigos estágios de ocupação humana na maior floresta tropical do mundo. Os tribunais brasileiros podem exigir que empresas preservem sítios arqueológicos.Ou que pelo menos transfiram o material arqueológico para universidades e museus onde possam ser estudados, antes de continuarem o trabalho.
AmeaçaExpansão na região é de "suprema importância", diz Vale
Segundo os executivos da Vale, para cumprir com a legislação que regulamenta sítios arqueológicos, a empresa contrata uma equipe de arqueólogos e espeleólogos para vistoriar as cavernas, amontoadas ao redor da mina aberta de Carajás. A Vale também adaptou sua proposta de construção para preservar algumas cavernas ao mesmo tempo em que planeja destruir dúzias de outras. Embora a Vale reconheça que pelo menos 24 das cavernas que serão destruídas são de "alta relevância", ela afirma que irá também preservar cavernas em outra parte do Pará para compensar pela perda.
"Para nós só existe um procedimento, e esse procedimento é a transparência", disse Gleuza Josué, diretora ambiental da Vale. Descrevendo a expansão de Carajás como um projeto de "suprema importância", ela disse que a Vale cumpre rigorosamente com a legislação ambiental.
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