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Sônia Rocha tem lúpus e viaja de Ponta Grossa para Curitiba para se tratar | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Sônia Rocha tem lúpus e viaja de Ponta Grossa para Curitiba para se tratar| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Mínimo é de 54 quilômetros

O estudo do IBGE, que pela primeira vez mediu a distância percorrida em busca de saúde, mostra que há quatro níveis de deslocamento: 54, 108, 144 e 169 quilômetros. Os percursos aumentam conforme o nível de complexidade do tratamento. Nas regiões Sudeste e Sul, segundo a pesquisa, os fluxos são menores porque os serviços de saúde estão mais bem distribuídos.

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Dez anos de estrada

Sônia de Fátima Rocha tem 39 anos e mora em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Aos 30 anos, iniciou uma rotina que mantém até hoje. Ela viaja constantemente para Curitiba para fazer tratamento de lúpus no sangue e labirinto. O lúpus é uma doença crônica que ataca o sistema imunológico, além de afetar o funcionamento de outros órgãos, como o rim. Para evitar seções de hemodiálise, ela é submetida à pulsoterapia, que dura duas horas e é semelhante à quimioterapia. O tratamento provoca vômitos e dores no corpo que, aliados ao cansaço da viagem à capital, deixam Sônia debilitada.

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Ponta Grossa - O brasileiro roda em média 169 quilômetros para ter acesso a atendimento médico especializado. É o que aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) na pesquisa Regiões de Influências das Cidades, que analisa as relações de dependência entre os municípios. Com o paranaense não é diferente. Milhares cumprem a rotina de embarcar num ônibus cedido pela prefeitura, ainda de madrugada, para retornar no final do dia, desgastados pelo tratamento médico e pela viagem. Só em Curitiba, a rede pública recebe em média 56 mil pacientes de fora da capital todos os anos.

Para dar suporte aos municípios que precisam encaminhar os pacientes para outras cidades, o Ministério da Saúde criou em 1999 uma política de atendimento médico fora do território de origem. É o Tratamento Fora do Domicílio (TFD). Os recursos são repassados pelo governo federal de acordo com a tabela do SUS. Em casos de internamentos, o repasse é feito diretamente ao hospital.

Para viajar, o paciente precisa apresentar a consulta agendada e assinada pelo médico. A prefeitura paga o transporte, a alimentação e o pernoite.

Mas, na maioria das vezes, apenas o transporte é garantido. Ponta Grossa, a 117 quilômetros da capital, manda pelo menos 1,7 mil pessoas por mês, entre pacientes e acompanhantes, para Campo Largo e Curitiba. Eles ganham apenas um lanche na saída. O serviço era administrado em parceria com a Câmara Municipal. Mas denúncias de favorecimento político levaram a coordenação para a prefeitura, que faz os agendamentos. Para a diretora de Serviço Social, Ângela Barszcz, coordenadora do serviço, o transporte recebe mais elogios do que reclamações. "Agora temos um espaço adequado para os pacientes". Eles são recebidos em um clube e têm um colchonete para descansar até às 4h30, horário de partida do ônibus.

Pacientes de Arapoti, no Norte Pioneiro, também recorrem a Curitiba. Todos os dias, 22 pessoas viajam 250 quilômetros para chegar à capital. Com os doentes de Palmeira, nos Campos Gerais, não é diferente. Um ônibus com 32 pacientes percorre 83 quilômetros até os hospitais de Curitiba. Uma pequena parcela segue para Ponta Grossa para os serviços de hemodiálise. O secretário municipal de Palmeira, Fabiano Cassanta, explica que não há como evitar as viagens. "O município tem hospital privado e filantrópico, há alguns especialistas, mas quando o assunto é cirurgia a situação complica. Só as mais simples são realizadas aqui."

De acordo com o prefeito de Moreira Salles, no Norte do estado, coordenador do consórcio Paraná Saúde, Hugo Berti, todos os municípios paranaenses dependem de Curitiba para tratar seus pacientes. Aos prefeitos, cabe cumprir as normas da política do TFD. Apesar de ficar a 529 quilômetros de Curitiba, a prefeitura também encaminha pacientes para a capital. "Estamos inaugurando nesse ano uma maternidade que custou R$ 3 milhões. As viagens vão ter de continuar, mas pelo menos as crianças poderão nascer aqui."

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