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Andrea Julita de Oliveira, de 33 anos, virou referência nas proximidades da rua onde mora, no bairro Ganchinho. Ela começou a cuidar de crianças aos 15 anos | Marco André Lima/ Gazeta do Povo
Andrea Julita de Oliveira, de 33 anos, virou referência nas proximidades da rua onde mora, no bairro Ganchinho. Ela começou a cuidar de crianças aos 15 anos| Foto: Marco André Lima/ Gazeta do Povo

Sem vaga

9,3 mil crianças estavam à espera de vagas em Centros de Educação Infantil no fim de 2011. Confira a relação de CMEIs em construção e o número de vagas oferecidas:

Regional Bairro Novo

Ganchinho II (Ganchinho): 200

Sítio Cercado IV (Sítio Cercado): 200. Finalizado, mas ainda não inaugurado.

Sítio Cercado V (Sítio Cercado): 200

Vila Tecnológica (Sítio Cercado): 200 vagas. Finalizado, mas ainda não inaugurado.

Regional Boa Vista

Faxinal (Santa Cândida): 200

Pilarzinho (Boa Vista): 150

Cachoeira (Boa Vista): 150

Regional Boqueirão

Duque de Caxias (Xaxim): 150

Regional Cajuru

Uberaba II (Uberaba): 150

Vila Camargo (Uberaba): 150

Vila Audi/União (Uberaba): 260

Regional CIC

Moradias Arroio (Cidade Industrial): 150

Moradias Corbelia (São Miguel): 150. Finalizado, mas ainda não inaugurado.

Moradias Aquarela (Augusta): 150

Regional Matriz

Prado Velho (Rebouças): 150

Regional Pinheirinho

Rio Bonito II (Tatuquara): 200

Moradias Itaqui (Campo de Santana): 200

Regional Portão

Parolin III (Parolin): 200.

Cuidadora

Marlene virou a "mãe número 2"

Angélica Favretto

Marlene Dias, de 43 anos, raramente teve a casa, que fica no bairro Uberaba, cheia de crianças. Numa dessas exceções, conseguiu juntar oito de uma só vez, mas elas ficaram pouco tempo. Entretanto, há um gurizinho muito especial na vida dela e, esse sim, segundo ela, vale por muitos. A mãe dele trabalha durante o dia e à noite, e chegou até Marlene por indicação dos vizinhos.

Inicialmente ele só ficava durante o dia, mas pela dificuldade em trazer a criança de manhã e levá-la tarde da noite, Marlene sugeriu que ele dormisse por ali. A proposta foi aceita e há seis anos o menino mora com ela durante a semana e volta para casa com a mãe na sexta-feira. "Ele me chama de mãe, e a meu marido de pai. Foi difícil explicar para ele quem era quem de verdade. Agora que entendeu, ele conta para todo mundo que tem duas mães".

Durante as férias, quando a "mãe número um" pode ficar mais com o menino, Marlene diz que a casa fica vazia. Todos na família sentem falta do pequeno que corre para lá e para cá. Marlene tem quatro filhas e só duas ainda moram com ela. Por isso, ter um menino em casa é uma experiência nova a cada dia.

Nos bairros mais distantes do Centro de Curitiba, até pouco tempo era comum encontrar pendurada no portão de algumas casas uma plaquinha, feita à mão, com a seguinte inscrição: "Cuida-se de crianças". Para algumas mães, visualizar uma dessas representava a salvação, já que nem sempre era fácil encontrar vagas em creches. Com a construção de Centros Municipais de Educação Infantil públicos, particulares, comunitários ou conveniados, aos poucos essas mães ou avós da rua, como são conhecidas, foram desaparecendo. Mesmo assim, algumas resistiram às mudanças e as que deixaram de cuidar das crianças conseguiram construir laços de amizade e confiança no bairro.Zilá Batista de Paula, 51 anos, tinha uma tabuleta em um portão da Vila Osternack, no bairro Sítio Cercado, até o mês passado. Por causa de uma reforma, ela precisou deixar o trabalho de lado. "Criança e construção não combinam", explica. Durante dez anos, a cuidadora zelou pelos filhos da vizinhança. A iniciativa veio pela necessidade, já que ela tinha duas filhas pequenas para criar e não podia sair de casa. Houve uma época em que cuidou de sete de uma vez. Os pequenos tomavam café da manhã, almoçavam, lanchavam e jantavam, tudo como manda o figurino. E Zilá recebia um dinheirinho providencial.

Quando algumas crianças começavam a frequentar a escola, a função de levar e buscar também ficava com ela. Nas férias, a casa da Zilá continuava movimentada, porque, além da garotada de que ela cuidava habitualmente, aparecia uma turminha nova, que não tinha onde ficar quando as aulas acabavam.

Braço direito

Mesmo sem a plaquinha no portão, Doranice Lira Gomes, 52 anos, era a pessoa de confiança nas proximidades da rua onde morava, no Bairro Novo. Com os filhos já grandes, durante seis anos ela foi o braço direito de muitas mães. O trabalho começou por acaso. No início, as mães que precisavam ir ao mercado, ao médico ou à farmácia pediam para que ela desse uma olhadinha nos filhos. Aos poucos, as crianças foram ficando.

Algumas mães precisaram voltar ao mercado de trabalho e não hesitaram em pedir auxílio para a Dona Dora, como é conhecida. Para dar conta do recado, ela conta que a estratégia era colocar todo mundo para brincar no pátio de casa – se o tempo colaborasse, é claro. As crianças iam para o gramado. Ela fazia balanço caseiro e bolinho de terra. "Era brincadeira da roça mesmo, sem frescura", resume.

Doranice guarda fotos de muitas das crianças que passaram por sua casa. Junto com ela, umas aprenderam a falar, outras a andar e, no fim, elas até a chamavam de vó. Atualmente morando no município de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, Dora ainda recebe notícias e visitas dessas crianças que um dia viu crescer.

Casa sempre cheia de crianças e de alegria

Ser a "mãe temporária" das crianças do bairro envolve sentimentos de mão dupla: é comum que garotos e garotas criem vínculos afetivos com as cuidadoras (alguns chegam a chamá-las de mãe ou de avó), e é inegável que, para passar o dia todo cercada por crianças, é preciso gostar do que se faz.

O caso de Andrea Julita de Oliveira, 33 anos, moradora do bairro Ganchinho, é de puro amor. Ela, que é também diarista, sempre que pode está com a casa cheia de crianças. "Sempre gostei de tê-las por perto e faço isso desde os 15 anos", diz.

Hoje, Andrea, que tem um filho de 11 anos, cuida de duas vizinhas e dois sobrinhos. As vizinhas ela viu crescer e, para ajudar a mãe das meninas, não cobra nada por isso. Por esse amor às crianças, Andrea é vista como referência em toda a rua. Quando chegam até ela é porque foi indicada por algum morador das proximidades.

Empenho maternal

Mara Petroski Lanore, 60 anos, começou a cuidar dos filhos dos vizinhos também por amor. Ela não pode ter filhos e viu na atividade uma forma de suprir a falta de uma criança em casa. Foram 16 anos sendo mãe de uns e avó de outros. A ideia surgiu enquanto ela via a neta de uma amiga da rua brincando no quintal. Rosane, mãe da criança, achou a alternativa interessante e as duas fizeram um teste. Deu certo. Além da pequena Bruna (hoje com 18 anos), aos poucos a casa foi se enchendo, até um dia em que ela se viu com 12 meninos e meninas.

Com um espaço grande, na hora da soneca era colchão para todos os cantos. Garotas de um lado e garotos do outro. A divisão valia também para as brincadeiras. Por ter feito recentemente uma cirurgia, Mara precisou parar com o trabalho. Mas avisa que pretende voltar.

Segurança

A psicopedagoga Sandra Mara dos Santos Corrêa é contra a prática de deixar os filhos com pessoas do bairro. Para ela é importante que as mães matriculem as crianças em Centros de Educação Infantil, para que recebam o acompanhamento pedagógico adequado. Quando a única opção é a vizinha, ela aponta alguns fatores a serem analisados:

- Verifique se na casa da vizinha circulam pessoas estranhas, como homens mais velhos e jovens.

- Observe se há opções para o lazer, como jardim, brinquedos, livros e materiais para colorir. Essas alternativas evitam que as crianças fiquem muito tempo em frente da televisão.

- Preste atenção nas condições do ambiente. A casa é grande? É limpa e organizada? Há animais de estimação?

- Verifique se o seu filho apresenta características que indiquem maus-tratos, como voltar a fazer xixi na cama, deixar de se interessar pelas atividades escolares e passar a cometer pequenos furtos na tentativa de chamar a atenção.

- Se notar essas ou outras alterações de comportamento, procure ajuda especializada.

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