O armazém da APM Terminais Brasil, em Paranaguá, que foi destruído por um incêndio na madrugada desta quarta-feira (15) não tinha autorização para operar, de acordo com o Comandante do Corpo de Bombeiros de Paranaguá, Capitão Siqueira. A empresa também não tem licença ambiental, de acordo com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Por isso o IAP irá lavrar um auto de infração contra a empresa em um valor que ainda não foi calculado.
De acordo com o IAP, a empresa Compacta, locadora do armazém, já havia sido autuada outras duas vezes em 2005 por construção de armazém pré-moldado sem licenciamento, e em 2007 por lançamento de derivado de petróleo em área de mangue.
A reportagem entrou em contato com o setor de urbanização da Prefeitura de Paranaguá ao longo de todo a tarde de quinta-feira (16), mas não conseguiu informações sobre o alvará da APM Terminais Brasil. A primeira informação foi de que o responsável pelo setor estava em reunião. Mais tarde, as ligações da reportagem não foram atendidas.
As empresas citadas informaram que iriam se manifestar sobre a documentação por meio de nota oficial, o que não ocorreu até as 19h.
Contaminação
O IAP também divulgou informações sobre a possível contaminação da região alagada de mangue que dá acesso ao Rio Emboguaçu. Em um levantamento preliminar, o órgão ambiental identificou nesta quinta-feira (16) alguns componentes da substância química do líquido azul-esverdeado que está vazando do armazém que pegou fogo na madrugada de quarta-feira na região do Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná.
Em nota divulgada nesta quinta, o IAP encontrou os seguintes produtos químicos: óxido de zinco 10%, etileno, glicol e hidróxido de potássio. Esses componentes podem gerar diversos tipos de reações químicas dependendo do ambiente, contato com a água e com o fogo. Eles estavam armazenados em bombonas (frascos para guardar produtos químicos) que racharam e derreteram com o fogo, o que gerou o vazamento.
O IAP destaca que é necessário aguardar os resultados laboratoriais das amostras colhidas no local, avaliar os danos à flora e à fauna nativa, o trabalho de contenção e descontaminação do local para tomar medidas previstas em Lei", informou a nota.
A reportagem da Gazeta do Povo esteve no local do acidente na tarde desta quinta e apurou que o cheiro do produto tóxico ainda é muito forte na região dos bairros Primavera, Vila do Povo e Beira Rio.
Segundo a professora Margarete Casagrande Lass Erbe, coordenadora do mestrado em Meio Ambiente Urbano e Industrial da Universidade Federal do Paraná, todo produto químico produzido é acompanhado de um documento, chamado Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico (FISPQ), em que consta informações sobre características da substância e possíveis danos que pode causar. "Esse é um documento feito pelo fabricante do produto detalhando o conteúdo. É essencial para a compreensão dos efeitos", explica.
A reportagem da Gazeta do Povo teve acesso à FISPQ no produto IMPREG B/MN/ZN, produzido pela Yara Brasil Fertilizantes S.A. Segundo o documento, a substância pode causar irritações na pele, nos olhos ou em caso de ingestão, e ainda é tóxica a organismos aquáticos.
Margarete também ressalta que as consequências do vazamento são relacionadas à quantidade de material. "Tudo depende da dosagem e da diluição. Um produto químico concentrado pode fazer um grande estrago", finaliza.
200 famílias
A defesa Civil de Paranaguá orientou a população para não pescar no local nem ter contato com a água até que saia um laudo definitivo do IAP. Enquanto isso, cerca de 200 famílias que vivem à beira do mangue vão ter que interromper suas atividades de pesca e catação de caranguejo, de acordo com informação da Liga Brasil de Responsabilidade Sócio ambiental.
De acordo com o diretor da Ong, Luis Afonso do Rosário as boias de contenção do IAP não estão sendo suficientes para o produto que invadiu o Rio Emboguaçu e por isso já chegou no mar. "Hoje começa a lua cheia, período em que a maré é mais forte, dessa forma esse líquido pode avançar rapidamente pela Baía de Paranaguá. A situação é temerária porque esses produtos químicos são nocivos e de alguma forma causa impacto ao meio ambiente.
Outro lado
A empresa Brasmar informou que aECOSORB trabalha na remoção do fertilizante dentro do terminal e realiza barreira para evitar derramamento em águas fluviais, bem como faz limpeza e barreira no mangue. De acordo com a Brasmar, "a maré encheu, o produto não se espalhou tanto, ajudando-nos na retenção deste junto ao leito do mangue".
A Essencis/Polyvalente afirmou que trabalha na remoção do fertilizante dentro do terminal e também removendo os resíduos com um caminhão para despejo em local apropriado.
As duas empresas destacam que irão continuar com os trabalhos até a contenção final do fogo e a remoção do produto em todas as áreas afetadas.
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