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Outra suspeita de abuso policial

A Corregedoria da Polícia Civil do Paraná irá investigar a denúncia de um casal de estudantes do interior de São Paulo que afirma que foi vítima de agressão por parte de membros da Guarda Municipal de Curitiba e da própria Polícia Civil. Eles dizem que foram torturados e humilhados pelos guardas e que, quando foram levados a uma delegacia, também sofreram agressões de um policial no dia 5 de outubro.

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Prestou depoimento no Comando Geral da Polícia Militar, nesta quarta-feira (29), um empresário de 34 anos que diz ter sofrido duas horas de tortura nas mãos de um grupo de policiais no sábado (25) em Curitiba. Os policiais ainda teriam ameaçado e apontado armas para o pai da vítima, que tem 58 anos, segundo relata o próprio. A PM informa que apura o caso com transparência e rigor.

Informações dos vizinhos e da família da vítima dão conta que cerca de cinco carros da Polícia Militar foram até a frente da casa do pai do empresário, localizada na Rua Paulo Ildelfonso de Assumpção, no bairro Bacacheri, por volta das 5h. "Era como se a minha casa fosse um mocó de drogas ou de assaltantes de banco", diz o pai da vítima, que prefere não ter seu nome divulgado.

O pai ainda relata que os policiais sacaram armas e teriam ameaçado prendê-lo se não entregasse o filho. Ao ter a casa invadida – os policiais não tinham mandado –, o filho desferiu um soco contra um dos policiais. "Temia pela minha vida e reagi", conta o empresário que atua no ramo de serviços. Rendido e algemado, foi levado a pontapés e ataques de taser - arma não-letal que desfere choques elétricos em vítimas -, como confirma uma vizinha, até o camburão. O pai afirma que o filho não sabe para onde foi levado e que recebeu golpes e choques por todo o corpo, além de ser humilhado. "Riam a cada choque que eu levava. Eu me lembro que passavam um objeto pelo meu anus", diz a vítima do suposto abuso policial. Cerca de 15 policiais teriam participado da tortura, que durou duas horas. "São criminosos de farda", acusa o pai, que tem 58 anos.

Desmaiado, o empresário foi levado ao Pronto Socorro do Hospital Cajuru. "Estava ao lado dos policiais. Disse a médica que cai no chão". O registro do Cajuru dá conta de "queda do mesmo nível" no prontuário do empresário.

O carro da vítima, um Peugeot 206 preto, teria ainda sido levado pelos policiais militares. O veículo tem todos os documentos e taxas em dia. Um documento emitido pelo Departamento de Trânsito (Detran) comprova que o carro não foi levado ao pátio da instituição pelo menos até as 10h de segunda-feira (27), procedimento padrão para veículos apreendidos pela PM. O carro foi recuperado nesta manhã por uma irmã da vítima da suposta tortura.

Depois, o empresário foi levado ao Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão da região sul (Ciac), localizado no bairro Portão por volta das 8h. Ficou por meio hora se debatendo dentro da "cachorreira" do carro sofrendo uma crise asmática. A irmã da vítima, que é advogada, esclareceu a situação para os policiais militares, mas foi ignorada pelos PMs. Para a equipe que prestava plantão no Ciac, os crimes imputados ao empresário eram de menor dano e não requeriam registro de boletim de ocorrência ou detenção. Novamente algemado, o empresário foi levado até a Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), sob as acusações de manobras perigosas. "O plantonista instruiu para ficar quieto que logo estaria tudo resolvido. E realmente, às 13h, consegui liberar meu filho", conta o pai, com os olhos mareados. O delegado titular da especializada, Armando Braga de Moraes Neto, desconhece o caso.

Para a família, os policiais teriam dito que o homem estava preso por disputar rachas na Rua Presidente Farias, do bairro Centro, e fugir a abordagem policial, além da agressão no rosto de um soldado. "Eles dizem que seguiram o carrinho 1.0 do meu filho por toda a [Rua] Fagundes Varela. Poxa, vai me dizer que não alcançaram com aquelas viaturas de motor 1.8?", questiona o pai. Nas delegacias, foram dadas diversas versões do porquê da detenção do empresário – até uma acusação de ter roubado um carrinho de cachorro quente -, mas nada confirmado pela Polícia Militar.

Além do desencontro de versões, há um emaranhado de instituições policiais envolvidas no caso. Apesar da área ser de responsabilidade do 12º Batalhão da Polícia Militar, homens do 20º foram atender a ocorrência e o boletim de ocorrência foi gerado pelo 13º.

Hospital de novo

O empresário voltou ao hospital de tarde. Nessa segunda entrada, efetuada por meio de convênio médico, é registrada atendimento a lesão corporal. De lá, foi até o Instituto Médico Legal (IML) fazer exame de corpo de delito.

O responsável pelo setor de relações públicas da PM, o major Antônio Zanatta, ressalta que a tortura não faz parte das práticas da PM. "Se confirmado que policiais militares participaram das torturas, serão punidos com todo o rigor, mas não devemos fazer nenhum juízo antes de apurar os fatos", afirma. Um procedimento administrativo interno da PM deve apurar o caso. Zanatta diz que os policiais envolvidos no caso estão sendo identificados, mas disse que não poderia fornecer o contato deles.

Às 17h desta tarde, a vítima da suposta agressão e o pai foram à polícia prestar depoimento para auxiliar o procedimento interno. Até as 19h30, o empresário seguia relatando o caso para a PM. Na quinta-feira (30), às 9h, eles irão até o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), vinculado ao Ministério Público, dar novo depoimento.

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