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Professora universitária grava aula para ensino a distância: docentes temem perder espaço para os vídeos em sala de aula. | Antônio More/Gazeta do Povo
Professora universitária grava aula para ensino a distância: docentes temem perder espaço para os vídeos em sala de aula.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Grupos privados de educação superior estão modificando a grade curricular das graduações para oferecer disciplinas a distância em cursos presenciais. A mudança, permitida pelo Ministério da Educação (MEC), preocupa professores, que temem o enxugamento do quadro docente e a diminuição das remunerações. Em Curitiba, pelo menos duas instituições de ensino ofertam aulas em ambiente digital nos cursos presenciais: a Universidade Positivo (UP) e o Centro Universitário Uninter.

Uma portaria publicada em 2004 pelo MEC (nº 4.059) permite que até 20% da carga horária total de uma graduação presencial seja ministrada com atividades a distância, desde que o curso seja reconhecido pelo ministério. É possível ofertar uma disciplina inteira em ambiente digital ou apenas parte dela. A diretora da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Rita Tárcia, explica que o objetivo é estimular o surgimento de programas de ensino a distância no país. “Muitas instituições construíram sua história no ensino presencial e a portaria favorece a formação de um modelo, de uma proposta pedagógica para a educação a distância”, diz.

A oferta de parte da carga horária em ambiente virtual já é realidade em todo o Brasil. Segundo o Censo Ead da Abed, havia, em 2013, quase 126 mil matrículas em cursos superiores ofertados de forma semipresencial no país, tanto em instituições públicas quanto em particulares. O modelo, porém, foi abraçado com mais entusiasmo pelos grupos privados de educação, afirma Rita.

Na avaliação de professores ouvidos pela reportagem, a modalidade é utilizada para diminuir gastos, uma vez que permite a manutenção de turmas com muitos estudantes e o uso da mesma aula várias vezes. “Nessa modalidade, a instituição remunera o professor uma única vez, para que elabore o material didático ou grave uma aula. É diferente do professor que ganha o semestre todo para dar aulas presenciais”, diz um docente do Uninter que prefere não se identificar.

Professores do centro universitário afirmam terem sido convocados a preparar aulas a distância das disciplinas que ministram e temem que os cursos deixem de ser dados em sala de aula. A possibilidade é descartada pelo reitor do grupo, Benhur Gaio.

Outra crítica do corpo docente é que professores que atuam em disciplinas a distância são desvalorizados e recebem bem menos pela hora-aula. Em um curso a distância, há a função dos professores que preparam a aula e os materiais de apoio e a função do tutor, também desempenhada por um docente. É ele quem tira as dúvidas dos alunos nas aulas virtuais.

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes), Valdyr Arnaldo Perrini, tutores da Universidade Positivo recebem no máximo R$ 26 pela hora-aula, enquanto professores presenciais com mestrado ganham R$ 50.

“O professor tutor acompanha a turma e precisa ter conhecimento da disciplina. Se o professor só precisasse corrigir trabalho, tudo bem, mas o que a universidade pede é uma tutoria pró-ativa, que o professor pesquise materiais e artigos para enviar aos alunos e que sugira atividades para a turma de acordo com as principais dificuldades”, conta um professor.

De acordo com o pró-reitor acadêmico da Positivo, Carlos Longo, a remuneração varia conforme a complexidade do trabalho e a titulação do professor.

Cursos formam profissionais mais autônomos

Para a diretora da Abed, Rita Tárcia, as atividades a distância contribuem para a formação de profissionais mais disciplinados e com mais facilidade de aprender de forma autônoma. Características, segundo ela, valorizadas atualmente pelo mercado de trabalho. Segundo o pró-reitor acadêmico da Universidade Positivo, Carlos Longo, o ensino a distância é uma tendência no mundo todo. “A universidade tem optado por modelos de disciplinas que juntem atividades presenciais com a distância, para colocar o aluno no que chamamos de metodologia mais ativa”, diz.

Ainda de acordo com Longo, o ensino a distância é uma ferramenta importante para ampliar as vagas no ensino superior. “Dados da Unesco mostram que haverá 430 milhões de pessoas entrando na educação superior em 2030. Se nada for feito, não haverá nem sala de aula nem professor em número suficiente”, avalia.

Desvantagem

Um estudante da Universidade Positivo conta que algumas disciplinas comuns a várias graduações, como “Filosofia e Ética”, são ofertadas hoje a distância. Segundo ele, como o mesmo material é oferecido a todos os alunos, as aulas não trazem debates mais específicos para cada área de formação. “Nas aulas presenciais, há material feito especificamente para uma turma e não para um grupo gigantesco. Não posso dizer que não aproveitei nada das aulas a distância, mas temos o direito de ter um professor”, reclama.

Materiais servirão como apoio a cursos presenciais

O reitor do Centro Universitário Uninter, Benhur Gaio, nega que o grupo demitirá professores depois da elaboração de materiais para aulas a distância. Segundo ele, as produções serão usadas como complemento aos conteúdos presenciais. Gaio afirma ainda que o grupo educacional realiza processos seletivos com frequência e que novos professores serão contratados ainda neste semestre.

“Estamos usando o que existe de bom na educação a distância também no ensino presencial. Valorizando nosso corpo docente, para que ele próprio produza esse material, ao invés de buscarmos profissionais no mercado”, diz.

De acordo com o pró-reitor acadêmico da Positivo, Carlos Longo, a diferença na remuneração de professores presenciais e tutores se deve à natureza diversa das funções. “No caso de um professor tutor, não há a preparação da aula. Ela vem pronta e o tutor faz a mediação do material didático com a sua turma”, afirma.

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