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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) (à esq.) e o bispo Edir Macedo (à dir.) visitam o Templo de Salomão.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) (à esq.) e o bispo Edir Macedo (à dir.) visitam o Templo de Salomão.| Foto: Alan Santos/ Presidência

No último dia 11 de julho, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saiu em defesa de brasileiros pastores da Igreja Universal em Angola, na África. Em carta endereçada ao dirigente angolano João Manuel Lourenço, Bolsonaro solicita proteção contra ataques frequentes aos quais os fiéis têm sido expostos no país.

Os autores das ofensivas são supostos dissidentes, desligados da instituição por desvio de conduta moral. Eles, que chegaram a ferir fiéis e destruir templos, alegam que a liderança da Igreja Universal tem cometido racismo contra angolanos, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

"Permito-me trazer à atenção de Vossa Excelência nossa preocupação com recentes episódios em Angola de invasões a templos e outras instalações da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Registram-se, ainda, relatos de agressões a membros da IURD, que, em certos casos, teriam sido expulsos de suas residências", escreveu Bolsonaro.

Dos cerca de 500 líderes religiosos da igreja neopentecostal em Angola, pelo menos 65 são brasileiros. No documento, Bolsonaro ainda pede que autoridades angolanas não sejam omissas e atuem de forma a garantir a integridade física dos fiéis.

Em junho, supostos dissidentes da entidade invadiram e atacaram fiéis durante um culto. Alguns dos feridos tiveram de receber atendimento médico. A Igreja Universal afirma ter sido vítima do "golpe de um grupo de dissidentes" que tenta desprestigiar a imagem da instituição e "confundir a sociedade angolana". Esse grupo seria formado por membros desligados da igreja por desvio de conduta moral e crimes. A IURD também acusa as forças de segurança angolanas de não agirem em proteção dos membros da igreja.

Por outro lado, críticos à Universal afirmam que a entidade tem cometido racismo e maltrato contra pastores angolanos. Quem contraria a igreja, estaria sendo perseguido, denunciam eles. A Universal também é acusada de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

As acusações levaram a polícia de Angola a investigar a entidade. Neste mês, em uma ação de busca e apreensão, pastores da instituição tiveram suas residências e pertences averiguados.

A reportagem não conseguiu contato com a polícia local. Não há, até agora, veredito sobre a investigação, que ocorre desde 2019. Procurada por telefone e e-mail, a IURD também não atendeu à Gazeta do Povo.

Parlamentares pedem proteção de brasileiros

A Frente Parlamentar Evangélica no Congresso também saiu em defesa dos brasileiros membros da Igreja Universal em Angola. Em nota, eles pedem que "providências cabais sejam tomadas pelas autoridades para que o direito à propriedade seja justamente estabelecido e garantido e que a violência não venha escalar-se".

O Itamaraty também tem atuado para tentar solucionar o conflito. Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, disse à Record ter falado pessoalmente com o chanceler de Angola. "Pedi para que houvesse uma atenção especial das forças de segurança, para que não houvesse mais agressões e violência contra membros e propriedade da igreja", disse.

André Mendonça, ministro da Justiça, além disso, afirmou à emissora que "o governo brasileiro tem atuado e é imprescindível que autoridades angolanas garantam integridade física, vida e patrimônio dos brasileiros e da própria Igreja Universal em Angola".

Procurado por e-mail, o Itamaraty não respondeu à reportagem até a publicação desta matéria.

Ataques

Além dos ataques a fiéis, os supostos dissidentes, desde 2019, tentam tomar as unidades da Igreja Universal em Angola. Até o momento, afirma a entidade, 80 igrejas já foram ocupadas.

Segundo a IURD, um dos ex-pastores angolanos que liderou os ataques foi, meses atrás, alvo de uma queixa-crime apresentada pelos advogados da instituição. Em um documento tornado público pela emissora Record, capitaneada pelo bispo Edir Macedo, fundador da IURD, a igreja acusa o dissidente de ter desviado, sistematicamente, ofertas dos fiéis.

Outro dos dissidentes é denunciado pela IURD por desvio de conduta moral. Segundo a instituição, o ex-líder religioso teria cometido adultério e, portanto, acabou sendo desligado das atividades.

"Hoje, a Igreja viu-se invadida em Luanda, Benguela, Huambo e Malange por um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e, em alguns casos, criminosas, contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto", afirmou a IURD em Angola, por nota.

Essas pessoas, continua a instituição, foram tomadas "por um sentimento de ódio, utilizaram de ataques xenófobos, agrediram e feriram pastores, esposas de pastores e funcionários, usando a violência com objectivo de tomar de assalto a igreja com propósitos escusos".

"Por isso, apelamos às autoridades competentes que corrijam as práticas aqui mencionadas definitivamente, pois estão prejudicando milhares de famílias que encontram o conforto e socorro através da fé cristã. Aguardamos com maior brevidade a resposta definitiva repondo a legalidade e impedindo as práticas criminosas", concluem. A igreja acusa o governo Angola de não atuar em defesa da integridade física dos fiéis.

Procurada por e-mail, a assessoria do governo angolano não respondeu à reportagem até a publicação desta matéria.

Igreja é acusada de racismo e lavagem de dinheiro

Os dissidentes da IURD, por sua vez, acusam a instituição de cometer racismo, maltrato aos pastores angolanos, imposição para que líderes se submetam a procedimentos de vasectomia, além de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Na última semana, o Serviço de Investigação Criminal (SIC) angolano fez buscas e apreensões nas igrejas e residências de pastores da Universal que estão no país africano.

À CNN, Honorilton Gonçalves, líder da IURD em Angola, afirmou que "não há nenhuma ilegalidade na igreja, mesmo porque as contas da igreja sofrem auditorias externas e fiscalizações constantes do governo".

*Carta de Bolsonaro ao presidente da Angola:

É sempre com satisfação que me dirijo à Vossa Excelência, cujo Governo tem sido marcado por admiráveis esforços em prol da consolidação da Angola na trajetória do desenvolvimento. Também no Brasil, temos levado adiante uma agenda de reformas econômicas com o propósito de firmar as bases para o crescimento sustentado. Esta crise global que enfrentamos reforça minha convicção quanto ao interesse de nossos países em seguir cultivando colaboração e entendimento cada vez mais estreitos.

Neste espírito, permito-me trazer à atenção de Vossa Excelência nossa preocupação com recentes episódios em Angola de invasões a templos e outras instalações da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Registram-se, ainda, relatos de agressões a membros da IURD, que, em certos casos, teriam sido expulsos de suas residências".

Julgamos ser preciso evitar que fatos dessa ordem voltem a produzir-se ou sejam caracterizados como consequência de disputas internas. Há perto de 500 pastores da IURD em Angola e, nesse universo, 65 são brasileiros. Os aludidos atos de violência são atribuídos a ex-membros da IURD, que também têm levantado acusações e, com isso, motivado diligências policiais na sede da entidade e nos domicílios de dirigentes seus.

Sabemos de processos de apuração em curso na Justiça angolana, cujas decisões soberanas serão, por óbvio, plenamente acatadas. Meu apelo à Vossa Excelência é para que, sem prejuízo dos trâmites judiciais, com seu tempo próprio, se aumente a proteção dos membros da IURD, a fim de garantir sua integridade física e material e a restituição de propriedades e moradias, enquanto prosseguem as deliberações nas instâncias pertinentes.

Tendo presente o quanto Angola valoriza a liberdade religiosa e a atuação de diferentes denominações, no marco do respeito ao ordenamento angolano, estou seguro de que Vossa Excelência acolherá favoravelmente minhas palavras".

*Nota oficial da Igreja em Angola:

"A Igreja Universal do Reino Deus está presente em Angola, oficialmente reconhecida desde 17 de Julho de 1992, tem actualmente 512 pastores dos quais 419 Angolanos, 65 Brasileiros, 24 Moçambicanos e 4 São-tomenses.

A Igreja Universal sempre se pautou pelo amor ao próximo, moralidade, civismo e respeito as autoridades constituídas.

Hoje a Igreja viu-se invadida em Luanda, Benguela, Huambo e Malange por um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e em alguns casos criminosas contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto, os mesmos tomados por um sentimento de ódio utilizaram de ataques xenófobos, agrediram e feriram pastores, esposas de pastores e funcionários, usando a violência com objectivo de tomar de assalto a igreja com propósitos escusos. Atitude essa completamente contraria aos preceitos cristãos.

Por isso, apelamos as autoridades competentes que corrijam as práticas aqui mencionadas definitivamente, pois estão prejudicando milhares de famílias que encontram o conforto e socorro através da fé cristã. Aguardamos com maior brevidade a resposta definitiva repondo a legalidade e impedindo as práticas criminosas."

*Nota oficial da Frente Parlamentar Evangélica:

A Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional vem a público pronunciar-se em relação aos acontecimentos que estão ocorrendo na República de Angola contra a Igreja Universal do Reino de Deus e seus membros.

Vários templos a serem invadidos a partir do último dia 22 de junho de 2020 por pessoas que são ex-pastores e que já não fazem parte do corpo de ministros daquela instituição.

Nas invasões os legítimos pastores foram agredidos fisicamente e expulsos de seus templos e residências com suas respectivas famílias por este grupo de agressores. Foram reportado casos em que estão sofrendo ameaças de morte.

Sabedores que a Igreja Universal do Reino de Deus em Angola é uma entidade religiosa com sua diretoria composta por cidadãos angolanos, vale salientar que este grupo de ex pastores está colocando a integridade física tanto de membros, pastores locais, cidadãos angolanos, bem como cidadãos brasileiros em risco.

Foi nos reportado que autoridades locais têm se mostrado omissas e em alguns casos favoráveis aos agressores. Esperamos que providências cabais sejam tomadas pelas autoridades para que o direito à propriedade seja justamente estabelecido e garantido e que a violência não venha escalar-se.

Que a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo, prevaleça quando diz: “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz…”.

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