Competências
Formar uma criança ou adolescente hoje é diferente da formação integral dos anos 80. A diretora do conselho pedagógico da Aymará Educação e doutora pela Universidade de São Paulo (USP) elenca algumas competências para a educação do século 21:
- Considerar o aluno como coparticipante do processo educacional. Ele não pode mas ser passivo;
- Acentuar o caráter crítico da formação, isso é, analisar as mudanças e fazer com que o aluno tome uma posição em relação a elas. Que ele seja sujeito do seu querer e do seu fazer;
- Criar espaços de efetiva convivência para trocas de qualidade de vivências, qualidade de experiências, de êxito e de qualidade humana, e não mais ficar na formalidade;
- Usar a tecnologia com humanismo e respeito frente a uma sociedade onde permeia os crimes virtuais, o cyberbullying e o assédio moral.
Onde aprendemos a decodificar fenômenos sociais, políticos e culturais dos quais depende o nosso futuro? O que sabemos em relação às nossas emoções e às relações do campo de trabalho, da família, da vida associativa e da vida nas organizações? Provocações como essas foram apresentadas pelo francês Philippe Perrenoud, um dos principais pensadores da educação moderna, durante a 18.ª Feira Educar Educador, em São Paulo. Com a palestra "Qual a finalidade da escola do século 21: preparar uma elite para o ensino superior ou preparar os jovens para a vida?", Perrenoud fez críticas ao sistema de ensino atual e lançou reflexões para o público, formado, em sua maioria, por educadores e gestores da área educacional. "As disciplinas estabelecidas no sistema educacional, baseada nos saberes como Química, Física, Biologia, Matemática, História e Geografia, têm abordagens desiguais e limitadas para preparar para a vida", disse.
Ele defende que a escola deveria se concentrar mais em outras disciplinas, como a educação física, musical e artística; a cidadania, o desenvolvimento sustentável, a saúde, a comunicação, a tecnologia, a interculturalidade, entre outras. "Todas elas visam o preparo para a vida, mas disputariam um quarto da carga horária, o que ficaria difícil conciliar com as disciplinas tradicionais", explicou.
É necessário, segundo ele, buscar uma igualdade dessas "novas" educações com as tradicionais. "Não podemos aceitar que um aluno que viva em um mundo intercultural não seja preparado para isso", critica. O mesmo deveria, diz Perrenoud, se estender para os ramos da Psicologia, Sociologia e do Direito, ciências básicas que, segundo ele, não poderiam ficar de fora dos currículos escolares.
Tempo
Para o educador, não estamos sendo preparados para enfrentar crises e sofrimentos como o divórcio, o desemprego, a doença, o conflito e o assédio, por exemplo. E o tempo, revela ele, é o maior inimigo. "O tempo investido na preparação de uma longa escolaridade fará falta na vida adulta das crianças de hoje que deveriam ser muito mais preparadas para uma vida ativa do que para uma vaga no ensino superior", opinou.
Mas, destaca Perrenoud, a escola não tem conseguido dar conta de realizar as duas tarefas e este não é um problema fácil de solucionar. "O importante é iniciar o debate e fazer as pessoas pensarem. Temos que prestar mais atenção nas pesquisas individuais, aquela que cada um de vocês, seja pai ou professor, perguntará ao seu filho ou ao seu aluno quando chegar em casa: o que realmente você gostaria de aprender?".
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