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Grebogi (à dir.) e o pesquisador Peter Higgs, vencedor do Nobel de Física, na Universidade de Aberdeen. | /Arquivo pessoal
Grebogi (à dir.) e o pesquisador Peter Higgs, vencedor do Nobel de Física, na Universidade de Aberdeen.| Foto: /Arquivo pessoal

Quando saí, Curitiba tinha cerca de 300 mil habitantes. Era a Avenida João Pessoa (antigo nome da Av. Luiz Xavier) e a Rua XV. Nem a Marechal Deodoro tinha se desenvolvido

Celso Grebogi Físico, professor da Universidade de Aberdeen (Escócia)

Descendente de imigrantes poloneses, nascido e criado nas “terras do Boqueirão”, em 1947, o curitibano Celso Grebogi, 69 anos, é um dos físicos mais conceituados na comunidade acadêmica internacional, o que lhe rendeu a indicação ao Prêmio Nobel em 2016 e a citação na Thomson Reuters Citation Laureates – ranking que indica os pesquisadores que mais exercem influência na comunidade científica. Mas os títulos com nomes pomposos não apagam da memória do cientista sua história humilde e as dificuldades enfrentadas pela família naquelas longínquas paragens da Curitiba da década de 50/60.

Celso Grebogi (de pé), ao lado do irmão Claudio, no moinho de fubá da família em Curitiba nos anos 50. | Arquivo pessoal

Disciplina acadêmica

Os pais de Celso Grebogi sabiam apenas ler e escrever, mas sua mãe, Maria Chrusciel Grebogi, fez questão de garantir a educação dos quatro filhos. A vida estudantil de Grebogi começou na Escola Municipal Nivaldo Braga (na época “Grupo Escolar Nivaldo Braga”), onde fez o antigo primário, equivalente hoje ao ensino fundamental. Mas foi no Colégio Erasto Gaertner – fundado por imigrantes alemães que se instalaram em Curitiba –, onde passou a estudar a partir da 5.ª série, que descobriu seu interesse pelas ciências exatas e começou a trilhar os caminhos da pesquisa científica. “O Erasto foi fundamental na minha formação, por algumas razões: a disciplina, o nível dos professores e o grau de exigência deles. Durante toda a minha vida de aprendizagem, o Erasto Gaertner foi o mais marcante, mesmo depois da universidade e dos cursos de pós-graduação”, relembra, ressaltando a base sólida de conhecimentos que adquiriu para o futuro.

Antes de prestar vestibular, matriculou-se em um cursinho, recém-criado na época: o Dom Bosco, que funcionava no Edifício Asa, na Voluntários da Pátria. Passou em primeiro lugar no curso de Engenharia Química na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1966.

O Boqueirão era tão longe e de tão difícil acesso que, ao se referir à região central de Curitiba, Grebogi fala ainda hoje em “a cidade”, como se fosse um outro lugar. E isso que a família estava em um local privilegiado, do ponto de vista atual: na Avenida Marechal Floriano Peixoto, 9.592, quase em frente ao quartel.

“Fui o primeiro de quatro filhos. Nasci em casa, com a ajuda de uma tia. Meu parto foi complicado e, naquela época, não existia nada no Boqueirão, somente o quartel. Estávamos distantes de tudo e o meu pai foi correndo até ‘a cidade’ para buscar a ajuda de um médico”, relata.

A dificuldade de acesso a hospitais, as unidades de saúde ainda inexistentes, faziam com que tudo se resolvesse de forma caseira, muitas delas com base em uma enciclopédia do corpo humano que pertencia a seu pai, e sempre contando com a solidariedade dos vizinhos e parentes que moravam todos perto. ”Era o mundo do Boqueirão. Curitiba era muito distante. A Marechal não era nem pavimentada”, recorda.

Desde 2005, Grebogi mora na Escócia, mas vem todos os anos ao Brasil para rever os irmãos. “Quando estou em Curitiba, o mais importante é reunir os quatro irmãos”, destaca, referindo-se aos Grebogi que ficaram na cidade: Claudio, Nelson e Valdir.

“Quando saí, Curitiba tinha cerca de 300 mil habitantes. Era a Avenida João Pessoa (antigo nome da Avenida Luiz Xavier) e a Rua XV. Nem a Marechal Deodoro tinha se desenvolvido. A gente saía da aula, passava no Bar Mignon, pegava um sanduíche e ia embora”, relata. Hoje, a população da cidade chega perto de 2 milhões de pessoas. “Eu só não me perco porque, pelo menos 2 ou 3 vezes por ano, eu vou à cidade”, afirma.

Celso Grebogi (em pé), ao lado do irmão Claudio, no moinho de fubá da família, em Curitiba, nos anos 50.Arquivo pessoal

Currículo

Referência mundial no estudo de sistemas dinâmicos não-lineares, Celso Grebogi integrou a equipe indicada ao Prêmio Nobel de Física no ano passado, além de estar entre os citados no 2016 Thomson Reuters Citation Laureates, ranking que indica os pesquisadores que mais exercem influência na comunidade científica.

Professor da Universidade de Aberdeen, na Escócia, onde ocupa a cátedra Sixth Century Chair em Sistemas Complexos e Não-Lineares, Grebogy é professor honoris causa (honorário) nas universidades das mais conceituadas do mundo e dono de um extenso currículo, com mais de 50 páginas que relatam suas pesquisas, trabalhos e locais onde lecionou.

O pesquisador é graduado em Engenharia Química pela UFPR, mestre em Física pela PUC do Rio, mestre e doutor em Física pela Universidade de Maryland (EUA) e pós-doutor em Física, especializado em Teoria de Sistemas Dinâmicos, pela Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA).

Especial Aniversário de Curitiba

Para comemorar os 324 anos de Curitiba, a Gazeta do Povo publica uma série especial com o perfil de curitibanos célebres que representam a nova cara da cidade. Até dia 29 de março, um novo personagem falará diariamente sobre sua relação com Curitiba.

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