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“O problema não é ter essa tendência [gay]. O problema é o lobby”, disse Francisco | Luca Zennaro-Poo/Reuters
“O problema não é ter essa tendência [gay]. O problema é o lobby”, disse Francisco| Foto: Luca Zennaro-Poo/Reuters

Entrevista na íntegra

Veja os principais assuntos abordados na entrevista que o papa Francisco concedeu no voo de volta ao Vaticano e as respostas dadas pelo pontífice.

Leia entrevista completa.

Repercussão

Para religiosos, discurso não indica mudanças

Agência O Globo

Apesar de movimentos sociais e entidades de defesa dos direitos LGBT terem visto as declarações do papa Francisco como um passo importante no combate à discriminação dos homossexuais, religiosos ressaltam que as palavras do pontífice não indicam mudanças na Igreja. "Não houve nada de novidade no que diz respeito à parte doutrinal. As pessoas já sabem o que pensa a Igreja. Devemos condenar o pecado, mas não o pecador", disse o padre Jesus Hortal, ex-reitor da PUC-Rio. "Não aceitamos essa conduta, está errada. Mas quem julga é Deus. Sem dúvida, porém, respeitamos essas pessoas."

Posição parecida tem o teólogo Paulo Bosco, da Universidade Católica de Brasília. A novidade, diz ele, é um papa falando diretamente sobre o assunto. "Ele fala diretamente desse acolhimento ao homossexual. A Igreja não é contra alguém, mas a prática não é virtuosa. Temos um papa falando isso de forma direta: vamos amar aquele que está numa condição de segregado, tratado de maneira discriminatória."

Para o coordenador do programa estadual Rio Sem Homofobia, Cláudio Nascimento, as declarações do papa dão uma contribuição importante ao debate sobre o ódio e o preconceito contra os homossexuais. "Ele manda uma mensagem para seus fiéis, de que os dogmas da Igreja não podem ser usados para justificar a violência e a discriminação."

Na mais ousada declaração de um pontífice sobre homossexualismo, o papa Francisco disse ontem que os gays "não devem ser marginalizados, mas integrados à sociedade" e que não se sente em condição de julgá-los. "Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?", afirmou aos cerca de 70 jornalistas que embarcaram para Roma com ele na noite de domingo. "O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas integrados à sociedade."

O papa tratou dos gays ao responder sobre o monsenhor Battista Mario Ricca, nomeado por ele para o Banco do Vaticano. No passado, Ricca teria mantido relações homossexuais – um suposto lobby gay no Vaticano o teria ajudado. "Quando vamos confessar e nós dizemos que pecamos, o senhor esquece e nós não temos o direito de não esquecer." Para ele, o problema do lobby gay "é fazer lobby". "O problema não é ter essa tendência [gay]. Devemos ser como irmãos. O problema é o lobby dessa tendência. Esse é o pior problema."

Casamento

Se a posição pastoral sobre os gays surpreendeu, Francisco deixou claro que não haverá uma nova opinião do Vaticano sobre a ordenação de mulheres, aborto ou casamento gay. O que deve mudar é a forma de tratar as pessoas e seus dramas. Não só em relação aos gays, mas também pelo anúncio a respeito dos casamentos.

Ao responder sobre a admissão dos divorciados na comunhão, ele mostrou que a saída do pontífice também é a pastoral. "A igreja é mãe. Ela cura os feridos." E fez o anúncio de que em breve revisará a anulação de matrimônios sob a alegação de que a maioria dele é nula. E isso deve ser objeto do próximo sínodo dos bispos.

Despojamento

O papa concordou em dar entrevista sem conhecimento prévio das perguntas – como pediam seus antecessores. Não houve tema tabu. O papa falou de tudo e não deixou pergunta sem resposta. Na conversa, disse que é papa "normal" e "peca". Longe da infalibilidade, ele admite: tem seus limites. Com as mãos no bolso, o papa encostou-se na parede e apoiou-se nas poltronas do avião como se conversasse com amigos – até se inclinando para escutar uma pergunta ou para pegar uma caneta. Riu, contou história e fez piadas. E, apesar do cansaço, avisou: vai viajar muito nos próximos anos.

A importância da mulher na Igreja

"A Igreja é feminina porque é esposa e mãe". Para o papa Francisco, não se pode pensar em uma Igreja da qual as mulheres estejam excluídas, ainda que ele tenha deixado claro que a ordenação delas não esteja no horizonte. "Uma Igreja sem as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria", afirmou, ressaltando que "Nossa Senhora é mais importante que os apóstolos".

O pontífice, em deferência aos latino-americanos, deu como exemplo do papel crucial das mulheres no que ocorreu no Paraguai após a guerra que devastou o país, que durou de 1864 a 1870. "Para mim, as mulheres paraguaias são as mais gloriosas da América Latina. Sobraram, depois da guerra, oito mulheres para cada homem. E essas mulheres fizeram uma escolha um pouco difícil. A escolha de ter filhos para salvar a pátria, a cultura, a fé, a língua", disse.

Para Francisco, a mulher ajuda a Igreja a crescer. Ele admitiu, no entanto, que até agora não foi feita uma "profunda teologia da mulher". "Somente um pouco aqui, um pouco lá. Mas há mais o que fazer. É necessário fazer uma profunda teologia da mulher. É isso o que eu penso", afirmou.

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