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Assim, um bem ou serviço que fosse aceito pela população desta cidade teria enorme chance de ser bem aceito pelo consumidor brasileiro de forma geral. Essa crença gerou a noção de que Curitiba deveria ser escolhida como cidade-teste para qualquer lançamento.

Embora se trate de afirmações ligadas ao mundo do marketing e da publicidade, o fato é que elas refletem características típicas do povo e do consumidor da capital do Paraná. De certa forma, a pesquisa sobre o que se pode chamar de "perfil do curitibano", feita agora em 2008, revela aspectos peculiares da população local que se encaixam naquelas afirmações antigas. A população entrevistada, composta de 55% de pessoas não-nascidas em Curitiba, pode ser apresentada para confirmar a tese de que Curitiba são duas cidades, até bastante distintas. Uma, claramente influenciada pela colonização europeia, com seus usos e costumes rigorosos e conservadores, e outra mais parecida com o grande Brasil do interior, do Norte e do Nordeste, composta de pessoas mais soltas, mais carnavalescas, fruto da mistura português-africano-índio.

A Curitiba mais europeia tem nível médio de renda maior do que a renda média do país, tem bons níveis de escolaridade e forma a "geração shopping center". Essa geração, que tem bons níveis de leitura, gosta de cinema, é um tanto caseira e tem na frequência a restaurantes um dos seus principais lazeres de fim de semana. Talvez induzida pelo clima e pelo conservadorismo da Europa anglo-saxã, essa parte da população curitibana é vista sim como um consumidor mais difícil de conquistar, além de ser diferente do estilo festivo e quase irresponsável do brasileiro simples das regiões de clima sempre quente.

Existe outra população dentro de Curitiba que vem do êxodo rural, pelo qual milhares de famílias deixaram o campo rumo às cidades, e do êxodo urbano, pelo qual grandes quantidades de população deixaram as pequenas cidades rumo à Região Metropolitana de Curitiba. Essa gente incorporou-se ao cenário urbano da grande cidade, mas manteve parte dos seus hábitos da gente simples do interior, conforme está expressado no fato de que 48% dos entrevistados pela pesquisa declaram seu gosto pela música sertaneja contra um distante segundo lugar, 17%, dos que declaram o gosto pela MPB. O que ocorre é que a maioria da população do interior do Paraná, da qual saíram os emigrantes para a capital, é formada por brasileiros de São Paulo, de Minas Gerais, do Nordeste e do Norte do Brasil. É essa população vinda do interior do Estado que dá o tom da face curitibana composta pelo brasileiro típico conhecido da mistura da raça portuguesa com o africano e o índio.

Ouvi um palestrante fazer a seguinte pergunta à plateia: "Que diferenças e que convergências vocês acham que existem entre os consumidores de Santa Felicidade e os consumidores do Bairro Novo?" Seguiu-se um debate interessante que, ao final, levou todos a concluírem que a simples falta de concordância entre todos era a prova de que a população de Curitiba é mais complexa do que a possibilidade de defini-la com um rótulo só. Essa é, para mim, a grande questão: não existe uma Curitiba; existem várias Curitibas. A imensa diversidade de raça, origem, usos, costumes, estilos e expressão cultural é o que faz da capital do Paraná uma cidade admirável e forma, hoje, o palco para o orgulho dos seus habitantes.

José Pio Martins, economista e vice-reitor da Universidade Positivo.

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