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Fronteira Brasil-Argentina: à esquerda, Barracão, à direita, Bernardo de Irigoyen, e nos prédios ao fundo, Dionísio Cerqueira | Fotos: Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Fronteira Brasil-Argentina: à esquerda, Barracão, à direita, Bernardo de Irigoyen, e nos prédios ao fundo, Dionísio Cerqueira| Foto: Fotos: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Intercâmbio

Parte dos imigrantes vive na ilegalidade

Viver em um país e trabalhar em outro é situação comum no triângulo Barracão-Dionísio Cerqueira-Bernardo de Irigoyen. Uma parte desses trabalhadores, contudo, exerce suas funções na ilegalidade. Segundo o secretário municipal de Assistência e Promoção Social de Barracão, Emerson Duarte, estimativas dão conta de que 40% dos argentinos que vivem na cidade estão em situação irregular. Do lado argentino, calcula-se que essa proporção chegue a 30%.

"Nós precisamos deles [argentinos] e eles precisam da gente. Esse intercâmbio é positivo e bom para a nossa economia. Porém, existem muitos que não têm interesse em regularizar sua situação", afirma Duarte. Dos três municípios, Barracão é o que tem a menor população, de 9,7 mil habitantes. Dionísio Cerqueira e Bernardo de Irigoyen possuem quase o mesmo número de moradores, em torno de 15 mil.

Sem querer se identificar, um argentino conta que é casado há 12 anos com uma brasileira. Seu sotaque combina o castelhano com o português de tal forma que, em um primeiro momento, não se sabe ao certo qual sua nacionalidade. De acordo com ele, o Brasil oferece melhores oportunidades de emprego, porém, a burocracia desestimula a busca pela regularização. "É um processo muito complicado. Mas eu ando pelas ruas, sempre trabalhei, converso com todo mundo e ninguém me incomoda", diz.

  • Raul e Roseli com o filho na linha que divide Brasil e Argentina

Um passo, você deixa o Paraná e está em Santa Catarina. Mais alguns metros e basta ultrapassar um canteiro para estar na Argentina. Para um visitante de primeira viagem, fica até difícil saber quando se está em Barracão, no território paranaense, ou em Dionísio Cerqueira, do lado catarinense. As duas cidades ainda têm como vizinho o município argentino de Bernardo de Irigoyen, formando aquilo que se convencionou chamar de uma segunda "tríplice fronteira" do Paraná, ainda que congregue apenas dois países diferentes.Localizada no extremo-Sudoeste do Paraná, Barracão tem na sua geografia uma característica peculiar. O município faz fronteira seca com a Argentina, tendo como divisor principal um canteiro, que impede a travessia de veículos, mas permite que milhares de pessoas cruzem de um lado para o outro todos os dias. Já a relação com o estado catarinense é ainda mais próxima. Sem uma demarcação visível, muitas de suas ruas se confundem, formando quase que uma única comunidade. Não à toa, a região ganhou o apelido de "cidades trigêmeas".

Português e castelhano

Essa irmandade entre os municípios é perceptível não apenas pela relação geográfica. Nas ruas ou no comércio, é fácil encontrar quem trabalhe em uma cidade e viva na outra. Não menos difícil é ouvir um sotaque indefinido, misturando português e castelhano, resultado da convivência entre brasileiros e argentinos. Casais formados por representantes das duas nacionalidades também são comuns. Segundo os relatos, com predominância de homens argentinos, que se dizem atraídos pela beleza e pelo capricho das brasileiras.

Um desses casais é formado pelo mecânico Raul de Moura Santos e pela cozinheira Roseli Runtzel. Neto de brasileiros, ele saiu de Andrecito, na Argentina, enquanto ela veio de Maravilha, em Santa Catarina. Após se conhecerem em São Paulo e morarem na Argentina, encontraram em Dionísio Cerqueira o local ideal para viver. "Aqui fica no meio termo, é mais ou menos a mesma distância para visitar a minha família e a dele", conta Roseli. Vivendo juntos há oito anos, eles têm um filho, que, com 5 anos, já fala português, espanhol e alemão, língua dos familiares da mãe.

Apesar de morarem em Santa Catarina, Roseli e Raul trabalham em Barracão. No restaurante que fica de frente para a fronteira, a cozinheira conta que o movimento de argentinos é intenso. "Muitos trabalham no Brasil e vêm almoçar aqui", diz. Além da língua, as diferenças entre as clientelas são facilmente identificáveis. "Os argentinos comem com mais calma, não têm aquela pressa que nós brasileiros temos", acrescenta. No comércio, o vaivém também é constante. Enquanto os brasileiros procuram produtos como diesel e farinha de trigo, mais baratos no país vizinho, os argentinos buscam aproveitar o preço vantajoso da gasolina.

Na tranquilidade do campo, mas de frente para a fronteira, moram Zeferino Lorenzetti e Irma Antunes de Lima, viúvos que decidiram se juntar há três anos. O produtor rural residiu por mais de 30 anos em Bernardo de Irigoyen, onde deixou os quatro filhos, que cuidam das terras que foram dele. Em solo argentino também estão seis dos sete filhos da companheira, que já recusou vários convites para mudar de país. "Não me acostumo com a língua, é muito confuso", justifica. Disposto a passar o resto da vida em Barracão, o casal agora só quer atravessar a fronteira para visitar os filhos.

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