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Luiz Godoy constatou que em alguns locais a Dose Anual de Radiação é de dois milisieverts, o dobro do recomendado | Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Luiz Godoy constatou que em alguns locais a Dose Anual de Radiação é de dois milisieverts, o dobro do recomendado| Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

Parcerias

Professor busca apoio para novos estudos

Como não conseguiu bolsa de estudos nem ajuda por meio de financiamento, o geólogo Luiz Carlos Godoy teve de fazer a pesquisa com recursos próprios. Só para realizar os exames das amostras de rocha e solo, ele investiu R$ 15 mil. O pesquisador explica que a presença de urânio no Granito Serra Carambeí é conhecida há mais de 40 anos. Segundo o professor, no fim da década de 1960, a Petrobrás, que tinha escritório em Ponta Grossa, chegou a inspecionar o local para averiguar a possibilidade de extração comercial de urânio, mas a quantidade foi considerada insuficiente.

"Apesar de ser algo já conhecido por alguns pesquisadores, nunca foi feito um estudo sobre o impacto da presença desses materiais radioativos na região. Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de um estudo mais aprofundado, envolvendo uma equipe multidisciplinar. Estou tentando buscar apoio para que isso aconteça", defende. (DK)

Região afetada

O Granito Serra Carambeí se estende por aproximadamente 100 km², distribuídos da seguinte maneira: 68 km² em Carambeí, 25 km² em Ponta Grossa e 9 km² em Castro. Em toda essa extensão, que abrange a localidade de Catanduva de Fora e imediações, vivem cerca de 900 pessoas. O local tem diversas propriedades rurais e pedreiras. No entanto, o geólogo Luiz Godoy afirma que as áreas onde foram identificados os maiores níveis de radiação são de mata ou lavoura e sem habitações próximas.

Na íntegra

O trabalho do professor Godoy pode ser baixado pelo site "Domínio Público", do governo federal. Para fazer o download, basta preencher um cadastro.

Reservatório

Água que abastece Ponta Grossa não representa riscos

A água da represa de Alagados abastece toda a cidade de Ponta Grossa. Apesar da proximidade com o granito Serra, no entanto, Godoy afirma que a água que chega às torneiras pode continuar sendo consumida com tranquilidade. "Os níveis de elementos radioativos detectados na água de Alagados são próximos de zero", afirma. Segundo ele, os materiais radioativos chegam até a represa e aos rios próximos (principalmente o Jotuba e o Pitangui – que abastece Alagados) por meio da água que escorre pela superfície, inclusive sobre os vários pontos em que a rocha está exposta.

Apesar de ser uma área de diversas propriedades rurais, segundo Godoy, a mata original está bem preservada na região. "A presença da mata preservada é muito importante, especialmente a ciliar. Ela retém o material particulado [contendo radionuclídeos] que é transportado pelo fluxo de água da chuva. No entanto, em alguns pontos, a mata ciliar precisa ser reposta", saliente Godoy.

Alerta

Segundo o pesquisador, apenas uma amostra de água merece atenção especial. De acordo com a pesquisa, a água de uma das nascentes da região apresenta uma concentração de urânio de mais de 64 microgramas por litro de água, quando o nível máximo estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente e pela Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana é três vezes menor: 20 microgramas. "O que preocupa é que essa água é consumida por animais e também por alguns moradores. Mesmo assim, não há motivo para alarme, já que esses níveis são variáveis. Por isso defendo um estudo mais apurado de toda a extensão do granito", salienta.

Tudo o que a região da mar­­gem leste da represa de Alagados, entre Ponta Grossa e Carambeí (Campos Gerais), tem de bonito, também tem de peculiar. O Granito Serra Carambeí, formação com mais de 500 milhões de anos, aflora na terra em vários pontos. Como qualquer outro granito, ele emite uma radiação natural, mas os níveis estão um pouco acima dos índices considerados normais. Essa foi a conclusão de um estudo realizado na região pelo geólogo Luiz Carlos Godoy, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Ele se dedicou ao estudo da área por aproximadamente três anos e, com esse trabalho, obteve o título de doutor em Geologia Ambiental pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2010. A pesquisa constatou a presença, na rocha, de radionuclídeos (partículas que emitem radiação) dos seguintes elementos químicos: Urânio (U), Tório (Th) e Potássio (K). A unidade que mede a intensidade da radiação é o Sievert (Sv), cuja milésima parte é o milisievert (mSv).

O estudo mostrou que, em alguns locais, a Dose Anual de Radiação (DAR) emitida pela rocha é de dois milisieverts por ano (ou 2 mSv/ano). O limite recomendado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN – autarquia vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia) para a exposição contínua – sem intervalos – do corpo humano é a metade: 1mSv/ano.

Apesar da constatação de níveis de radiação acima do recomendado, Godoy afirma que não há nenhum motivo para alarme. "É um processo natural e que faz parte da decomposição da rocha. Precisamos, neste momento, aprimorar os estudos. No trabalho que desenvolvi nessa área, analisei cerca de 60 amostras de rocha, solo e outras 16 de água. Porém, para conseguir resultados mais consistentes, o ideal seria analisar, no mínimo, 500 amostras", ressalta.

Sem alardes

O radioterapeuta Hum­berto Guerzoni compartilha da opinião do professor. Segundo o médico, o problema existe a partir da exposição continuada à radiação, que pode favorecer o aparecimento de algum tipo de câncer. "Se a exposição não for frequente, como é o caso da região desse estudo, o limite de radiação aceitável é de até 5mSv/ano, ou seja, cinco vezes maior que o limite da exposição contínua do corpo humano. Não vejo motivo nenhum para a população se alarmar."

Godoy explica que a intensidade da exposição depende, também, da ventilação. "Neste local, nós estamos ao ar livre. Nós teríamos problemas se estivéssemos, por exemplo, numa adega ou numa garagem sem janelas e cujas paredes fossem feitas apenas deste granito. Não dele todo, apenas das partes onde foram identificados os maiores níveis. O risco, nesse caso, seria a formação do gás radônio, que se origina do decaimento [emissão de radiação] do urânio. Esse gás pode contribuir para o desenvolvimento de câncer de pulmão. Mesmo assim, a exposição teria de ser frequente e longa, por alguns anos", explica. Guerzoni lembra que o radônio é um gás sem cor e sem cheiro, o que torna difícil a detecção da sua presença no ambiente.

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