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A Fundação Araucária tem problemas de autonomia institucional e financeira e processos mais burocráticos do que outras instituições de fomento à pesquisa do Brasil. A avaliação é do professor Sidnei Munhoz, que foi coordenador da área de Ciências Humanas da fundação entre abril de 2013 e abril de 2014, quando pediu exoneração por divergências com decisões tomadas. Confira a entrevista:

Como o sr. avalia a Fundação Araucária?

Até hoje o governo do Paraná não repassa todos os recursos necessários. Além disso, o presidente e a diretoria acabam por ser indicação do governador, e há coincidência de mandatos. Esse vínculo é muito ruim para a autonomia da fundação. De um lado temos um governo que não repassa com regularidade os recursos, o que dificulta o trabalho de quem está na gestão da fundação, mas, ao mesmo tempo, o fato dessa pessoa ser indicação do governador é um limitador para que faça pressão por recursos.

Que problemas ocorrem na prática?

Até hoje não temos um cronograma anual das atividades. E ninguém dos comitês se dedica exclusivamente à fundação, pois nós não recebemos por isso. Então temos que adequar a agenda na fundação com nossa agenda nas universidades e eventos, que é definida com seis meses, até um ano de antecedência. Por sua vez, as reuniões na Fundação Araucária são marcadas com apenas 15 dias de antecedência, às vezes 30. Recentemente não pude participar de uma reunião importante da fundação porque estava fazendo a abertura de um congresso em outro estado. Ter uma agenda anual é fundamental. Além disso, é preciso desburocratizar uma série de coisas.

Como assim?

Alguns passos já foram dados, como a possibilidade de fazer pareceres on-line. No entanto, na Fundação Araucária o parecerista precisa analisar o projeto da pessoa que pleiteia o recurso e também precisa fazer a pontuação do currículo. É bem trabalhoso entrar no Currículo Lattes e conferir a avaliação de cada periódico em que a pessoa publicou para atribuir a pontuação. Nas outras fundações, isso é feito por um técnico, não um cientista. E há dificuldade para localizar pareceristas, pois muitos pesquisadores participam dos editais abertos e, em decorrência ficam impedidos de emitir parecer naquele processo. Cheguei a contatar pessoas do exterior, alguns até aceitavam. Mas quando entravam no sistema e viam o trabalho que era, desistiam. Além da burocracia, uma diferença fundamental com a Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], por exemplo, é que, quando necessário, ela paga um pró-labore para pareceristas de fora do estado de São Paulo, aí consegue o parecer. Nós não, até porque temos poucos recursos. Então, muitas vezes, temos pareceres que são feitos por pessoas que não são exatamente especialistas naquela temática, e isso seria o desejável, para definir se a pesquisa proposta trará resultados e se vale investir dinheiro público nela.

Essas situações foram levadas à direção?

Por diversas vezes encaminhamos sugestões. Algumas foram atendidas, muitas outras não. Mas decidi que não tinha mais condições de continuar porque detectei um erro numa planilha de pontuação para um edital, que atribuía 100 pontos à produção de um capítulo de livro e apenas 10 para um livro inteiro. Isso distorce totalmente o resultado. E esse erro foi cometido, aparentemente, na reunião que não participei porque estava fazendo a abertura de um congresso.

Por esse motivo o sr. pediu exoneração?

Essa foi apenas a gota d’água. Quando observei o ocorrido, tentei resolver, por meio de ligações e e-mails. Quando tive a informação de que o problema não seria resolvido, conversei com os coordenadores adjunto e suplente da área. O suplente concordou comigo, entendeu que não era possível seguir com o processo. Com base nisso, produzi um documento, e eu e o suplente encaminhamos pedido de exoneração à Fundação Araucária.

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