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Maria Lucia Pascotto: os gatos sempre fizeram parte da sua vida | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Maria Lucia Pascotto: os gatos sempre fizeram parte da sua vida| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Maria Lucia Pascotto, 62 anos, começou a cuidar de gatos em 1997. Cinco anos depois, ela alugou uma casa e ampliou esse zelo para cerca de 120 gatos e cachorros. Em 2005, graças aos ganhos da profissão e de uma ajuda do marido, ela comprou esse mesmo lugar que hoje recebe o nome de Beco da Esperança. Nessa mesma época, Lucia ganhou a ajuda de Helena Lemos Coelho, professora de português que nomeou esse lar com o letreiro atual. Desde fevereiro de 2006, o que eram projetos individuais de duas mulheres apaixonadas por animais se transformaram em um único sonho: cuidar dos gatos de Curitiba.

Atualmente, entre 500 e 600 gatos esperam adoção sob os cuidados das duas. O Beco da Esperança também cuida de 60 cães. Além delas, quatro funcionários tocam o dia a dia do espaço: limpeza, alimentação, cuidados especiais, carinho e dos atendimentos. Todos os sábados um bazar de camisetas, canecas e adesivos ajuda a completar o caixa do local, que sobrevive sem o apoio de nenhuma outra entidade. Elas conseguiram as estampas via doação, assim como as arrecadações online, que ajudam a deixar as contas no azul.

“De dia”, como se diz no comércio, Maria Lucia toca seu próprio negócio: ela costura as roupas especiais dos padres. Entre um costurado de fé, fio e algodão aqui e ali, ela atende toda a demanda do Beco. Lucia já correu de paróquia em paróquia atrás do dízimo que ajuda a pagar as contas dos gatos, mas hoje em dia atende somente os pedidos dos chegados. Já Helena é responsável pelas adoções, que são feitas somente mediante o preenchimento de um formulário na internet e uma entrevista. Ela organiza os pedidos, os aceites e recusas, e controla o destino de vários gatos por ano. Condição única e irrestrita: o animal tem que sair do Beco para um lar com amor de mesma espessura.

Longe do telefone, Helena ajusta orações subordinadas substantivas, tempos verbais e o dia a dia do desabafo no caderno dos presos da Penitenciária Estadual de Piraquara. Professora concursada da rede estadual há 32 anos, ela leciona português há 15 para os detentos. Nas suas contas, o Beco já doou 4 mil gatos desde que passou a ter essa alcunha.

Adotar é a melhor coisa do mundo

Laura Beal Bordin, repórter da Gazeta do Povo e “mãe” de dois gatos adotados

Quatro anos atrás, eu e minha irmã Marina tomamos a decisão de aumentar o núcleo da nossa pequena família curitibana e adotamos nossa gata, a Consuelo. Nós, que sempre fomos fãs de cachorros e super desconfiadas dos felinos, preferimos dar uma chance à possibilidade de ter uma gata, já que eles são tidos como independentes. Desde o primeiro dia em que ela deixou a caixinha em que foi trazida e subiu no sofá, ganhou nossos corações e hoje é mais dona da casa do que nós duas juntas. Diferente do que dizem, nossa gata é extremamente carinhosa e nos recebe todo dia na porta, rolando no chão.

Há duas semanas, decidimos que ela seria mais feliz com um irmão e procuramos o Beco da Esperança para encontrá-lo. Pablo estava em um lar temporário cheio de amor e cuidado e entrou na nossa casa tímido e assustado – mal saiu da caixinha. Hoje, já sobe em tudo – até mesmo na Consuelo, que, no começo não ficou muito feliz com o novo integrante da família. Agora, os dois já dividem a casa, a comida, os brinquedos e até a cama, apesar de alguns surtos de ciúmes da irmã mais velha.

Quando observo os dois penso no trabalho daqueles que ajudaram com que eles viessem parar na nossa casa, sãos e salvos. Ter animais é uma responsabilidade muito grande, mas, com essa responsabilidade, vem uma grande quantidade de amor e gratidão. Posso dizer, com toda certeza, que apesar de independentes, os bichanos são extremamente gratos pelo trabalho daqueles que os salvam e daqueles que os adotam.

Desde pequena

“Desde os 6 ou 7 anos eu tinha uma gata, lá no interior do estado de São Paulo [cidade de São Manoel]. Era minha paixão desde criança. Também tínhamos galinha e pintinhos. Quando um morria, eu fazia o enterro. Colocava cruz e tudo”, conta Maria Lucia, que acredita que o animal sente as mesmas coisas que as pessoas. “A Helena pegou a gata da tia dela que está com Mal de Alzheimer em 2014. Na semana passada, a tia fez uma visita e a gata reconheceu ela. É impressionante”, conta.

Ela afirma que algumas pessoas têm aversão a gatos, que são o foco do Beco. “As pessoas discriminam o gato. ‘Gato se vira’”, opina. Ela chegou a adotar 72 gatos de uma só vez, abandonados na casa de um senhor que faleceu.

“Eu já nasci numa casa cheia de gatos, minha família toda ama animais, todos da família têm muitos animais. Eu não sei como é a vida sem ele, pois sempre estiveram comigo”, finaliza Helena.

Crise também afeta os bichanos

Tudo caminha em crise também nessa casa. Segundo a dupla, as doações e as buscas caíram. “A crise nos pegou também. Desde setembro diminuiu bastante o fluxo de entrada e saída. Se fosse numa outra época, estaríamos com mais procura”, conta Maria Lucia. “Não temos um número certo de doações de gatos, varia muito, mas normalmente doamos uns 300 a 350 por ano. Agora, com a crise, está bem mais fraco”, revela Helena. Alguns anos registraram mais de 350 doações. “Uma por dia do ano no auge”, conclui Maria Lucia.

“Nós ainda temos uma veterinária que ajuda no dia a dia, principalmente quando precisamos castrar os animais. Nós fazemos mutirões com 20, 25 e até 32 castrações de gatos num único dia. Contudo, não é sempre. É uma parceria”, conta Maria Lúcia, antes de explicar a necessidade das castrações. Só assim, para ela, Curitiba poderá conter o avanço discriminado do abandono animal. O Beco tentou uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que não aconteceu por questões burocráticas. Além disso, o lar tem uma “sociedade” com a ONG Amigo Animal para a redistribuição de cães – ao que tudo indica, o Beco quer se direcionar para os gatos.

Doações

O Beco da Esperança aceita doações de roupas, calçados e acessórios para o bazar. Todo o dinheiro arrecadado é destinado às despesas do abrigo, que giram em torno de R$ 20 mil por mês (o que engloba veterinários, castração, medicamentos, funcionários, água, luz e ração). Os animais comem 60 quilos de ração por dia. Mais informações no site do Beco da Esperança.

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