Trecho exige muita paciência de motorista
Rodar na BR-116 entre Curitiba e São Paulo ontem foi um exercício de paciência. A reportagem da Gazeta do Povo levou duas horas e dez minutos para fazer um trecho de dez quilômetros próximo a Barra do Turvo, na divisa com São Paulo, onde houve a queda de barreira. Dos 30 mil metros cúbicos de terra que haviam caído, apenas 8 mil já tinham sido tirados até o início da noite.
Paradas em série
Janeiro, época de chuvas, tem visto várias interrupções na BR-116. O pior caso ocorreu em 2005. Confira:
4 jan 2010 queda de uma barreira no quilômetro 156, em Caxias do Sul.
8 jan 2010 a pista sentido sul, nas proximidades da ponte sobre o Rio Pardinho, é bloqueada após a abertura de uma cratera na cabeceira da ponte. O solo que sustentava o asfalto se soltou por causa das chuvas. O trecho foi liberado no fim do mês.
19 jan 2010 um alagamento interdita a altura do km 286, em Itapecerica da Serra.
25 jan 2005 parte da ponte sobre o Capivari, no município de Campina Grande do Sul, desaba, matando um caminhoneiro que passava pelo local. A pista só foi liberada depois de um ano e dois meses.
Quatro bloqueios em menos de um mês e um deslizamento de terra que resultou em uma fila de até 40 quilômetros ontem à tarde, no sentido São Paulo-Curitiba. A situação da rodovia Régis Bittencourt nome que a BR-116 ganha entre São Paulo e a divisa do Paraná com Santa Catarina mostra a fragilidade da principal ligação da Região Sul com o restante do Brasil e a precariedade da infraestrutura de transporte rodoviário no país. Os bloqueios constantes e a prorrogação de obras previstas em contratos mostram que, por enquanto, o programa de concessões à iniciativa privada ainda não melhorou significativamente a estrutura das estradas que cortam o país.
No início da noite de ontem, a Régis Bittencourt seguia interditada no sentido São Paulo-Curitiba. O deslizamento de terra na altura do km 552, em Barra do Turvo (a 322 quilômetros de São Paulo), ocorreu por volta das 13h10 de terça-feira. A concessionária OHL, responsável pela administração da rodovia, abriu um desvio em uma das faixas no sentido Curitiba-São Paulo, entre os kms 544 e 556. No fim da tarde, a fila de veículos chegava a 34 quilômetros no sentido São Paulo-Curitiba. O sentido oposto também ficou prejudicado e a fila chegou a cerca de 10 quilômetros. Ontem, a OHL ainda não tinha uma previsão para a liberação da pista. A recomendação era para que as viagens fossem adiadas, se possível.
Problema crônico
A Régis Bittencourt foi inaugurada em 1961 e nos anos 80 passou a ser conhecida como "rodovia da morte", por causa do grande número de acidentes. Grande parte da estrada foi duplicada durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), mas um trecho de 30,5 km permanece em pista simples, na Serra do Cafezal, a cerca de 100 quilômetros da capital paulista. Trata-se de um ponto crítico, onde são comuns acidentes e engarramentos.
A duplicação do trecho está prevista no contrato de concessão à empresa espanhola OHL, mas o prazo para a conclusão da obra foi prorrogado em mais um ano pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Como se trata de uma área de Mata Atlântica, a obra depende de liberação do Ibama. A OHL já requereu a licença ambiental. Segundo a assessoria da empresa, serão necessários três anos para as obras de duplicação. O novo prazo é 2013 e o custo estimado da obra é de R$ 300 milhões.
Além da nova pista, a Autopista Régis Bittencourt (empresa da OHL que administra os 412 km da rodovia desde fevereiro de 2008) deverá instalar 104,9 quilômetros de terceiras faixas, 109,6 quilômetros de vias laterais e 23,6 quilômetros de contornos. Essas obras ainda não começaram, conforme a assessoria da Autopista Régis Bittencourt. Segundo a assessoria da OHL, "essas obras estão sendo projetadas de acordo com as necessidades técnicas da rodovia e com as circunstâncias dos municípios." Das 51 passarelas previstas, duas já foram instaladas.
A duplicação da pista na Serra do Cafezal é considerada necessária para acabar com um gargalo histórico. "O trecho da Serra do Cafezal é a prioridade número um de duplicação nas estradas que servem o Paraná", afirma o superintendente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Paraná (Setcepar), Luiz Carlos Podzwato. "O trecho às vezes obriga o motorista a levar uma hora para fazer 30 quilômetros." Segundo ele, diariamente há interrupções na BR-116. "O problema é que, quando cai uma barreira, fazem a contenção só no ponto. Não fazem do lado".
O professor de Transportes da Universidade Federal do Paraná Eduardo Ratton avalia que faltam estudos que previnam deslizamentos nas rodovias brasileiras. "Como alguns ensaios são caros e demorados, não são feitos em todos os cortes", afirma. "A análise de risco de desabamento é importante para a segurança, mas muitos órgãos não fazem. De um quilômetro para outro, a situação pode se modificar." Segundo a assessoria da Autopista Régis Bittencourt, o local onde ocorreu o deslizamento não apresentava riscos.
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