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Largo José Knopfholz, no Centro Cívico, será mantido pelo Sinduscon-PR, que está ampliando a sua sede logo ao lado do espaço. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Largo José Knopfholz, no Centro Cívico, será mantido pelo Sinduscon-PR, que está ampliando a sua sede logo ao lado do espaço.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O pequeno Largo José Knopfholz, no Centro Cívico, em Curitiba, é personagem central de um acordo curioso entre a prefeitura e o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR). A entidade precisava ocupar parte da pracinha para instalar o canteiro da obra de expansão de sua sede, que fica ali ao lado. Em troca, a entidade se comprometeu a fazer uma reforma completa no local.

A praça fica na bifurcação das ruas da Glória e Heitor Stockler de França. É uma das principais rotas do Centro de Curitiba para os bairros Juvevê e Centro Cívico. Para quem passa de carro, o logradouro passa quase despercebido, com seus poucos mais de 600 metros quadrados de área. Entre os moradores, porém, a ansiedade por uma área de convivência renovada é grande.

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Quando os tapumes surgiram, “o pessoal achou que eles estavam invadindo a praça”, conta o professor aposentado Antonio Garcia Benevides, que vive nas imediações. Mas depois o Sinduscon-PR chamou a comunidade para uma reunião e apresentou os detalhes da obra, conta. Ele foi um dos presentes e gostou do que viu. “Muito bonito”.

Há mais de 30 anos na região, Maria Helena já viu outra face da praça. “As crianças vinham brincar”, até os idos dos 1990. Atualmente, o local abriga um parquinho com gangorra e escorregador. Ela também estava na reunião – ficou sabendo por uma vizinha – e seu pedido é por um equipamento de ginástica. “Tem muitos idosos aqui e a gente tem que ir lá no Passeio Público [que fica a 300 metros dali]”. “Parece perto para quem é jovem, mas veja, eu mesma já estou com Parkinson, ando mais devagar”, ressalta.

Como vai funcionar

Os detalhes do projeto vão ser definidos na sequência, “em conjunto com a comunidade”, promete o decreto que estabelece a adoção, publicado na última segunda-feira (28). A proposta do Sinduscon-PR é elaborar um paisagismo integrado ao do prédio novo, com plantas de espécies nativas – algumas já existentes e outras que vão ser plantadas –; além de investir em uma iluminação “moderna” e que coloque a praça em evidência.

O plano é de que a iluminação torne a região mais segura, conta o presidente do Sinduscon-PR, José Eugenio Rizzi. A ideia é valorizar a cidade, que ela “seja uma grife”. Para isso, ela deve ser um bom lugar para se viver. “E quanto mais valorizada esteja esta cidade, mais valorizado o produto que nós temos aqui”.

Além disso, o Sinduscon-PR quer inspirar as pessoas e empresas a serem mais participantes da comunidade. “Temos diversos pontos dentro da cidade que infelizmente mereceriam mais atenção e o município não tem como desenvolver, pois acaba gastando com saúde, creche, etc”.

Adoção de espaços em Curitiba é complexa

Atualmente, Curitiba tem apenas 11 praças adotadas (veja os detalhes). Nenhuma de grandes proporções, até porque a administração de um espaço grande é mais complexa, e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) tem como princípio que o adotande cuide da praça da mesma forma que o poder público faria. Isto implica em não restringir o acesso ao local e nem utilizar como extensão de um estabelecimento – um bar não pode colocar mesas no espaço adotado, por exemplo. E que a roçada deve ser feita por profissionais com equipamento adequado, para evitar acidentes.

“Muita gente desiste quando vê o decreto [municipal que regulamenta a adoção] e vê que não é só fazer uma plantinha, tem toda uma corresponsabilidade”, explica o engenheiro do Departamento de Parques e Praças da SMMA, Luiz Felipe Marcondes do Nascimento. Ele é responsável por analisar as requisições de adoção, que hoje podem ser feitas em 11 locais: nos departamentos de Meio Ambiente nas 10 ruas da cidadania e dentro da própria secretaria.

Mas o cuidado excessivo pode beirar a uma burocratização, alerta a arquiteta Adriane Cordoni, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAE. “Nas praças e jardinetes, uma parceria extremamente simples pode valorizar a região e não gera ônus para o município. Estas ações deveriam ser ampliadas”. Ela própria viveu uma situação kafkiana quando tentou criar uma horta comunitária, em 2011. O processo não só ficou sem resposta como a prefeitura mandou cortar as árvores do terreno, conta. “Poderia estar produzindo alimentos no mínimo para as três ruas que tem ali e hoje é um espaço gramado”.

São Paulo desburocratizou questão

Nas capitais e no interior, muitas cidades brasileiras têm a figura da “adoção de praças” em suas legislações municipais. Em geral em pequena escala. Em 2014, o município de São Paulo lançou o programa “Praças mais cuidadas”, para desburocratizar a adoção de áreas verdes com até cinco mil metros quadrados. Os termos de adoção são analisados diretamente pelas administrações regionais da cidade, as subprefeituras. Atualmente existem 517 praças adotadas, segundo dados do município relativos a outubro.

“Claro que tem que ser pensado a forma como isto [estas parcerias vão] acontecer, o controle disso. Mas eu não consigo ver como algo negativo” o estabelecimento de parcerias pontuais para o cuidado de pequenas áreas da cidade, defende a arquiteta Adriane Cordoni. É o mesmo conceito que vale para os “parklets”, que transformam vagas de estacionamento em mini praças. Em Curitiba, a iniciativa foi regulamentada em julho deste ano, sob o nome de “vaga viva”.

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