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Reintegração do transporte público de Curitiba, que deve ocorrer até julho, vai manter tarifas diferentes para cada cidade. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Reintegração do transporte público de Curitiba, que deve ocorrer até julho, vai manter tarifas diferentes para cada cidade.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Nada de tarifa única. A reintegração do transporte público de Curitiba e Região Metropolitana, que deve sair do papel até julho deste ano, deve manter a lógica de “degrau tarifário”, adotada pela Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) desde o ano passado. Novas formas de integração devem ser estudadas pela coordenação, em conjunto com a Urbs, que administra o transporte na capital.

Um protocolo de intenção foi firmado entre as duas entidades, que nos próximos seis meses vão planejar a reintegração. Não significa que todas as decisões vão ser tomadas neste prazo. Pelo contrário. A ideia é estabelecer diretrizes para um plano metropolitano de transportes.

Transporte metropolitano é obrigação do estado, não de Curitiba

Pouca coisa foi definida. Mas a unificação da tarifa está fora de cogitação. A informação foi confirmada à reportagem da Gazeta do Povo. “Em alguns locais até vai ser possível alguma tarifa de valor igual”, mas em outros, não, explica o presidente da Urbs, Jose Antonio Andreguetto.

Hoje, o chamado primeiro anel (com as cidades de Campo Magro, Campo Largo, Araucária e Pinhais) já pratica tarifa idêntica à de Curitiba. Presidente da Comec, Omar Akel, explica que a diversidade do sistema impossibilita uma tarifa única.

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Linhas que percorrem até 50 quilômetros e passam por estradas não funcionam da mesma forma que linhas urbanas curtas, que transportam um número grande de passageiros ao longo de todo o dia, exemplifica Akel. Unificar a tarifa, portanto, implicaria em encarecer em muito o valor médio do sistema.

Hoje, as tarifas mais caras do sistema integrado chegam a R$ 5,30. O valor é 24,7% mais caro do que o praticado na capital e no anel mais próximo. Outras linhas da Região Metropolitana, não integradas à capital, chegam a cobrar R$ 6,50 por viagem. Para minimizar o impacto, a Comec estuda a criação de uma integração temporal, aos moldes do que já é testado em Campo Magro. Os usuários da linha Jardim Boa Vista pagam uma passagem para ir ao Centro da cidade. Depois, têm 60 minutos para embarcar para o terminal Santa Felicidade, em Curitiba, sem pagar um real a mais.

Integração impacta 680 mil diariamente

A integração ou não do transporte público impacta na vida de mais de um quinto dos moradores da RMC. Todos os dias, cerca de 680 mil pessoas transitam entre as cidades da Grande Curitiba para trabalhar, segundo dados do IBGE. Além disso, pelo menos 10 mil alunos das universidades de Curitiba são da região metropolitana, segundo dados de 2014.

Outra certeza do processo de reintegração é a unificação dos bilhetes. Urbs e Comec concordam quanto a um cartão único, que pode facilitar a vida do usuário. Mas o imbróglio é maior do que parece. Hoje, a tarifa de Curitiba passa por um fundo público antes de ir para as empresas, o que a empresa pretende manter. O Ministério Público já sugeriu que a Comec faça o mesmo, já que hoje são as próprias empresas que gerenciam as tarifas metropolitanas. Por isso não basta transpor a tecnologia de um sistema para o outro. É preciso resolver esta equação financeira.

Este e outros problemas seriam resolvidos com a criação de uma nova agência de transportes metropolitanos, propõe a Comec. Esta nova empresa (ou autarquia) funcionária como um consórcio entre os municípios e o governo do estado, e gerenciaria o sistema tanto operacional quanto financeiramente. Omar Akel acredita que as bases para este novo ente devem ser firmadas até julho, ao final do termo de cooperação.

Já Andreguetto é um pouco mais conservador quanto a uma mudança tão radical. Não que ele descarte o tal órgão. “Lá na frente, se houver necessidade, os dirigentes vão optar por esta [integração]”. Mas, por ora, é urgente “a reintegração de bilhetagem eletrônica” e, “naquilo que for possível, a reintegração financeira”.

Transporte metropolitano é obrigação do estado

A integração do transporte público da Grande Curitiba, anunciada após a eleição de seu aliado Rafael Greca (PMN) à prefeitura da capital do estado, veio à calhar para o governador Beto Richa (PSDB). Ele têm até janeiro de 2018 para apresentar um plano integrado de transporte metropolitano, sob pena de incorrer em improbidade administrativa. A exigência é do Estatuto da Metrópole, criado em 2015. A Comec deve elaborar o plano independente dos rumos da integração com Curitiba.

Para especialistas ouvidos pela reportagem, o cenário da integração ainda não é animador. Mesmo com a recente parceria entre Urbs e Comec, que administram os transportes públicos em Curitiba e na Região Metropolitana, respectivamente.

“Como vamos falar de planejamento se não há um plano [metropolitano de transportes?”, questiona o engenheiro Valter Fanini, que coordenou as áreas de transporte público e sistemas viários da Comec, onde foi funcionário de carreira por 30 anos.

Sem um plano e sem um órgão metropolitano que conte com a participação efetiva dos municípios e de entidades do setor, o risco é de que a reintegração fique à mercê de humores políticos, avalia Fanini. Se a criação de uma nova agência de transportes (proposta pela Comec) não seguir estes princípios, muitos problemas podem prevalecer.

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Um deles é de que os interesses de Curitiba prevaleçam sobre os demais. O que poderia prejudicar cidades menores, avalia a professora Simone Polli, da pós-graduação de Planejamento e Governança Pública da UTFPR. “Eu trabalhei em Araucária, em que o transporte municipal não se sustentava devido às exigências de Curitiba [que] para colocar o ligeirinho, exigia que toda a tarifa entrasse [no caixa da capital]”.

A definição de uma entidade metropolitana é o primeiro passo. Depois, seria preciso equacionar os sistemas viários, a demanda existente (o que exige pesquisas de origem e destino), observar gargalos e até fazer um diagnóstico do que é Região Metropolitana, avalia Polli.

Além disso, não basta olhar para o transporte público sem olhar para os fluxos entre as cidades, destaca Tatiana Gadda, também da UTFPR. Não só de pessoas em movimento, mas de tudo: divisas, serviços e até de resíduos sólidos. Um planejamento integrado de transporte deve levar em conta para quais cidades a região metropolitana pretende induzir seu crescimento, por exemplo. Para isso é preciso repensar todo o sistema de transporte, não só de ônibus. “Trazer para Curitiba de volta a renovação”.

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