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“É pura ilusão. O Uber engana o trabalhador”, diz o motorista Amauri Antônio Pereira. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
“É pura ilusão. O Uber engana o trabalhador”, diz o motorista Amauri Antônio Pereira.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A empresa americana Uber, a mais conhecida entre os aplicativos de transporte individual de passageiros, tem perdido motoristas em São Paulo. Os condutores falam em “decepção” diante do retorno financeiro esperado, acusam a empresa de fazer pressão psicológica e se queixam de horas excessivas de trabalho. O Uber afirma que são eles que o contratam, e não o contrário.

Especialistas apontam retorno financeiro insuficiente

O motorista Amauri Antônio Pereira, de 52 anos, usou o aplicativo por um ano, antes de desistir. Hoje, voltou a trabalhar com carretas. “É pura ilusão. O Uber engana o trabalhador. Promete que você vai ganhar R$ 7 mil, então você se mata, trabalha 12 horas por dia e não ganha R$ 3 mil”, diz. “Se dependesse disso, estava passando fome.”

Já Marcelo Eduardo de Sousa, de 41, aguentou bem menos: só duas semanas. “Meu propósito era tirar R$ 250 por dia. Não passei da metade”, afirma. “Ficar dependendo do Uber traz sérios danos para a sua vida financeira e pessoal. Não volto nunca mais.”

Motoristas relatam que o número de colegas decepcionados é cada vez maior. Segundo afirmam, o principal motivo de desistência é financeiro. “Na minha melhor semana, consegui R$ 900. Só o custo com manutenção do carro e combustível é de R$ 500. E ainda tem os 25% que ficam com o Uber”, diz o motoboy Fabiano Andrade, de 42. Ele conta que ficou cinco meses no serviço. “Só gerou desgaste físico e débito. É desumano.”

Outro lado

Em nota, o Uber diz que a taxa cobrada do condutor varia entre 10% e 30%. “É importante frisar que são os motoristas profissionais que contratam a plataforma”, afirma. Segundo a empresa, os motoristas “têm total flexibilidade e independência para fazer seus horários, conectando-se com a frequência que bem entenderem”.

Pressão

O cientista da computação Moacir de Oliveira, de 37, está em busca de emprego fixo após passar um ano e meio no Uber. Para ele, falta apoio da empresa e retorno financeiro. “Pressão psicológica existe a todo momento, a gente recebe mensagem e-mail se desligar o aplicativo. A empresa pode bloquear o motorista”, afirma. “É quase um regime de escravidão, o valor que fica é irrisório.”

Para o diretor-presidente da SP Negócios, Rodrigo Pirajá, a regulação permite que as empresas disputem motoristas. “Quem estiver insatisfeito, pode trocar a operadora.” Porém, o Uber é quem tem mais condutores à disposição. “As empresas ainda estão com pouca densidade. Os motoristas querem entrar, mas elas ainda não têm escala para absorver.” A prefeitura de São Paulo não divulgou o número de motoristas por aplicativo.

Especialistas apontam retorno financeiro insuficiente

O aumento na rotatividade de motoristas do Uber pode ser explicado tanto por falta de vínculo empregatício como também por problemas de condições de trabalho e retorno financeiro aquém do esperado, segundo afirmam especialistas. Aos condutores, também é permitido usar simultaneamente outros aplicativos. “O Uber não está preocupado com a rentabilidade dos parceiros”, diz o consultor especializado em Transportes Flamínio Fichmann.

Na opinião do especialista, os interesses do Uber seriam de “lucratividade máxima” e não incluiriam preocupações com “componentes sociais”. “A empresa só tem olhos para a própria rentabilidade. Por isso, existe rotatividade grande, com muitos motoristas saindo”, avalia.

Fichmann afirma que essa relação também cria risco de prejudicar usuários de transporte individual. “Se o Uber de fato quebrar o sistema de táxis, como me parece que vai, e decidir sair do país de repente, vai ficar um buraco. Isso vai levar a um problema social. É um risco.”

Segundo o diretor-presidente da SP Negócios, Rodrigo Pirajá, a regulação dos aplicativos, realizada neste ano, não permite que os condutores fiquem presos a uma única operadora. “É proibido exigir exclusividade do motorista”, diz.

Na visão de Pirajá, o modelo vai permitir que as empresas valorizem os bons profissionais, para não perdê-los. “Antes da regulação, só tinha o Uber. Agora há outras operadoras que, por exemplo, cobram taxas menores do motorista”, afirma. “Algumas já estão pensando em alternativas de fidelizar, como oferecer renda mínima.”

A professora universitária e advogada trabalhista Fabíola Marques diz que a liberdade para escolher a operadora, além da flexibilidade com horários e dias trabalhados, afasta a caracterização do vínculo empregatício. Para ela, não haveria relação de subordinação entre motoristas e o Uber. “Ele é muito mais um profissional autônomo que tem liberdade de aceitar ou não as exigências impostas pela empresa.”

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