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As chamadas "gangues dos carteiros" atacaram pelo menos 32 casas só este ano na Grande São Paulo, segundo a polícia. A reportagem do Fantástico teve acesso a imagens de assaltos e a outros detalhes da investigação, como fotos e depoimentos de vítimas.

O disfarce parece perfeito. "Ele estava uniformizado, a caixinha tinha símbolos do Correio e cores do Correio. Então, eu fiquei tranqüila", conta uma empregada da casa. Tão tranqüila que abriu a porta e o pesadelo começou. "Eles levaram jóias, pegaram roupas infantis, pegaram bebida", descreve uma empregada da casa.

Um dos crimes aconteceu na Granja Julieta, um bairro nobre da zona sul de São Paulo. A ação foi planejada. Cinco dias antes, o ladrão vestido de carteiro faz a entrega de um vinho. "Eles fizeram testes. Realmente foi aberta a porta e, na segunda vez, eles acabaram adentrando", diz o delegado Luiz Carlos do Carmo.

No dia do roubo, o falso carteiro e mais um ladrão dominam a empregada e entram na casa. Nas imagens, vê-se que o homem que veste a roupa dos correios está armado. Do lado de fora, outros três criminosos rendem o vigia da rua e um morador da casa, que tinha acabado de chegar. Em menos de 20 minutos, a quadrilha foge, levando dinheiro e jóias.

A casa de outra mulher também foi invadida por uma gangue de falsos carteiros: "A primeira coisa que eles fizeram foi pedir as gravatas para a funcionária e amarraram todas com gravatas", conta.

Uma das empregadas achou que iria morrer: "Ela pediu para um dos ladrões: ‘vocês não têm temor a Deus?’ Ele falou: ‘que temor a Deus, nós somos ladrões. A gente veio aqui pra roubar, o que você está falando de Deus essa hora. A gente não acredita em Deus’", lembra a dona da casa.

Outra gravação é de um assalto em Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. A empregada, que abriu a porta, conta como foi: "Ele virou as costas para mim, como se fosse pegar a caneta no carro, só foi questão dele virar um pouquinho. Falou que era um assalto".

Armados, o falso carteiro e mais quatro ladrões começam a invasão. Os donos da casa têm preocupação com a segurança. Além das câmeras - logo depois da entrada principal - há uma área com grades e uma outra porta. Nada disso adiantou.

"Um deles mostrou a arma para mim, me mandou calar a boca, se eu não calasse ele ia tacar aquela arma em mim", conta a empregada.

Em uma cena, um dos ladrões fala ao celular com o assaltante que está do lado de fora. A conversa é sobre o segurança da rua, que desconfia da movimentação. Os bandidos então abrem a porta. Um pede silêncio.

O vigia se aproxima e é dominado. Logo depois, sem saber de nada, o motorista da família, a babá e uma criança, de 3 anos, chegam e também são feitos reféns.

"Um deles falou que ele era ladrão, que eles estavam acostumados a roubar. Falaram palavras bem agressivas, para deixar a gente com bastante medo."

Em meia hora, os criminosos pegam jóias e fogem em dois carros. Segundo a polícia, dez assaltantes já foram presos. Mas ainda há pelo menos uma quadrilha agindo em São Paulo.

"Todos que praticaram esse crime vão estar sendo monitorados pela polícia. A chance de serem presos é muito grande", garante o delegado Luiz Carlos do Carmo.

A direção dos Correios diz que os carteiros assinam um recibo para retirar os uniformes e, quando há necessidade de troca, o velho tem que ser devolvido. Por isso, a suspeita é que as quadrilhas usem roupas falsificadas. Preste atenção nos detalhes do uniforme verdadeiro.

"Há alguns pontos que facilitam a identificação, como as cores azul e amarelo, a logomarca da empresa no bolso, a bandeira do Brasil no ombro esquerdo e a logo do Correio no ombro direito", descreve o diretor regional dos Correios (SP) José Furian Filho.

Em um prédio, como em tantos outros em São Paulo, os entregadores não podem entrar. São os moradores que descem para buscar a encomenda. Já o carteiro entra, porque é o mesmo há 15 anos. Mas os porteiros estão orientados: se aparecer outra pessoa para deixar correspondência, vai ficar do lado de fora, como todos os outros entregadores.

"A gente já não deixa entrar. Ele fica na porta, o funcionário vai e recebe a correspondência. Pode estar chovendo, fazendo sol, é a regra. Eles não entram", diz o zelador José Pereira de Araújo.

Por causa dos ataques das gangues, o zelador José Pereira de Araújo pôs até um cartaz no elevador.

O assunto chegou à Câmara dos Deputados, em Brasília. Um projeto de lei quer que ladrões que forem presos usando uniformes ou fardas de instituições públicas fiquem mais tempo na cadeia do que um assaltante comum.

"Está todo mundo assustado, olha duas vezes para ter bastante certeza se é realmente seguro ir lá e abrir o portão", diz uma empregada.

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