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Parentes aguardam informações na entrada do Complexo Penitenciário Anísio Jobim | Edmar Barros/Estadão Conteúdo
Parentes aguardam informações na entrada do Complexo Penitenciário Anísio Jobim| Foto: Edmar Barros/Estadão Conteúdo

Apontada como a terceira maior facção do país, atrás apenas do PCC e do Comando Vermelho, a Família do Norte do Amazonas (FDN) matou cerca de 56 detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, durante uma rebelião que durou 17 horas. As mortes estão relacionadas com a disputa entre a FDN e o PCC. Segundo a Polícia Militar, houve esquartejamentos, decapitações e fugas. Dez agentes carcerários foram feitos reféns, mas foram liberados.

Mais cedo, a secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas havia anunciado a morte de 60 pessoas, mas a informação foi corrigida no fim da tarde desta segunda-feira (2). Em entrevista à Folha de São Paulo, o secretário de Administração Penitenciária, Pedro Florêncio, disse que as autoridades haviam “contado repetido partes de corpos”.

“É a maior matança cometida em uma prisão da Amazônia”, afirmou o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sergio Fontes. “Muitos foram decapitados e todos sofreram muitas violências para mandar um recado para seus inimigos”, acrescentou.

Poucas horas antes do início da rebelião, na tarde deste domingo (1°.), 87 detentos tinham conseguido escapar de outra unidade prisional de Manaus, o Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat) – oito já foram capturados.

O próprio secretário de Segurança chegou a afirmar a jornalistas que a fuga do Ipat pode ter servido como “cortina de fumaça” para acobertar a ação no Compaj. Para especialistas, o ocorrido no interior do Compaj entre este domingo e esta segunda-feira não se trata de um rebelião e sim de um “limpa geral” da FDN contra integrantes da facção paulista no Amazonas.

Guerra interna

O secretário de Segurança do Amazonas afirmou que a carnificina ocorreu por causa de um confronto interno entre as facções Família do Norte e Primeiro Comando da Capital (PCC).

Epitácio Almeida, presidente da Comissão de defesa dos Direitos Humanos da OAB-AM, coordenou as negociações com os presos e trabalhou na libertação dos reféns, que foram soltos na manhã desta segunda. De acordo com ele, este é um dos piores massacres em presídio que já houve no país.

Por sua vez, Fontes ressaltou que o estado, sozinho, não tem condições de controlar uma situação como essa.

A rebelião começou no início da tarde desse domingo (1º) e terminou por volta das 11 horas desta segunda-feira (2). Agentes penitenciários da empresa terceirizada Umanizzare e 74 presos foram feitos reféns. Parte desses detentos foram assassinados e ao menos seis apenados foram decapitados. Corpos foram arremessados por sobre os muros do complexo.

Segundo Fontes, as forças de segurança optaram por não entrar no Compaj por considerar que as consequências seriam imprevisíveis. “[A rebelião] Foi gerida com negociação e com respeito aos direitos humanos”, disse Fontes, garantindo que os líderes da rebelião serão identificados e responderão pelas mortes e outros crimes.

Em nota, o Ministério da Justiça informou que o ministro Alexandre de Moraes esteve em contato com o governador do Amazonas, José Melo de Oliveira, durante todo o tempo. Ainda segundo o ministério, o governo estadual deve utilizar parte dos R$ 44,7 milhões de repasse que o Fundo Penitenciário do Amazonas recebeu do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) na última quinta-feira (29) para reparar os estragos na unidade.

Membros da FDN foram alvo de operação em 2015

Aliada ao Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, a FDN atua no tráfico de drogas, em especial de cocaína, na região Norte do país por meio do domínio da “rota do Solimões”, responsável por escoar toda a droga produzida no Peru e Bolívia para os centros consumidores no Brasil e no exterior. Em 2015, o grupo foi alvo da operação La Muralla, da Polícia Federal. Os principais líderes da facção foram presos e transferidos para presídios federais.

Na investigação que deu origem à La Muralla a Polícia federal já havia mapeado a disputa entre as duas facções. Em pouco mais de seis meses de investigações, segundo a PF, “foram interceptadas e analisadas mais de 1 milhão e cem mil mensagens e chamadas telefônicas relacionadas a todo tipo de práticas criminosas, sendo coletados importantes elementos de informação e de prova de crimes como tráfico internacional de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, homicídios, sequestros, torturas, corrupção de autoridades públicas e outros conexos, que são praticados e/ou planejados diariamente por praticamente por seus membros.”

Durante a investigação também foram realizadas 11 grandes apreensões de aproximadamente 2,2 toneladas de drogas, avaliadas em mais de 18 milhões de reais, além de armas de fogo de grosso calibre, que incluem submetralhadoras 9mm e granadas explosivas de mão.

Assim como outras facções, a FDN possui um estatuto próprio com os “pilares de hierarquia e disciplina, para difusão através de extrema violência aos detentos do sistema prisional amazonense”. A regra número um é que nada é feito ou definido sem a ordem ou aprovação de seus fundadores e principais lideranças que são: Gelson Lima Carnaúba, vulgo “G” e José Roberto Fernandes Barbosa, antigo traficante do bairro Compensa, conhecido pelas alcunhas de “Z”, “Messi” e/ou “Pertuba”.

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