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Refugiados

Paraná tem mais de 4 mil haitianos

Mais de 4 mil haitianos escolheram o Paraná como local para reconstruir suas vidas após o terremoto que arrasou o país. Começaram a chegar por aqui a partir de janeiro de 2012, mas o fluxo se intensificou no ano passado. Os dados são estimados pela Comissão de Direitos dos Refugiados e dos Migrantes, da Ordem dos Advogados do Brasil. O grande índice de clandestinos e a própria dinâmica de migração e fixação dificultam a consolidação de registros oficiais.

Curitiba e região se tornaram o lar de mais de 2 mil haitianos. O restante se divide entre Cascavel, Foz, Ponta Grossa, Maringá e Paranavaí.

Segundo a Casa Latino-Americana (Casla), apesar de possuírem boa formação, os haitianos têm sido absorvidos principalmente por setores que requerem menos especialização. "Muitos são engenheiros, advogados, professores. Mas preferem trabalhar aqui a voltar ao Haiti", diz a vice-presidente da Casla, Ivete da Rocha.

Outra barreira é a do preconceito. "Tem aquele pensamento de que o migrante vai tirar emprego de quem nasceu aqui. É uma besteira. O migrante vem contribuir, colaborar com a sociedade e contribuir com a cultura local", diz a presidente da comissão da OAB, Nádia Floriani.

Racismo

Na semana passada, a OAB denunciou que dois haitianos foram vítimas de racismo em Curitiba. Eles foram chamados de "macacos pretos" em uma agência de trabalho. A empresa é acusada de aplicar o chamado "golpe do emprego". O caso será levado oficialmente ao Ministério Público ainda nesta semana.

A grande maioria dos imigrantes atendidos no Centro Pastoral dos Migrantes (CPM), localizado em um prédio anexo à Igreja Nossa Senhora da Paz, no Centro de São Paulo, é de haitianos. Em média, são 400 pessoas ao mês oriundas somente do país caribenho. Ali, eles obtêm auxílio para tirar documentos, além de ofertas de emprego.

Mas, apesar dos esforços do governo brasileiro em aumentar o número de vistos, muitos continuam ingressando de maneira ilegal no país. Em 2013, 5 mil haitianos entraram somente pelo estado do Acre. "Antes, eles vinham através da República Dominicana, Peru e Amazônia brasileira, agora muitos viajam direto de avião de Porto Príncipe a São Paulo", explica Sônia Maria Nunes, assessora e secretária do CPM.

Segundo ela, o governo brasileiro está expedindo, na Embaixada em Porto Príncipe, uma média de 600 vistos permanentes de residência por mês para haitianos que desejam imigrar para o Brasil. A ideia é que com o aumento na concessão desses vistos permanentes os imigrantes evitem a longa e perigosa rota marítima e terrestre. Essa rota atravessa do Haiti para a República Dominicana, depois o Mar do Caribe até o Panamá, onde segue pelo Oceano Pacífico até o Equador. Depois, o imigrante cruza os Andes no Peru ou na Bolívia até o Acre. De Rio Branco até São Paulo são mais de 3,6 mil quilômetros de ônibus.

O mais lógico seria obter o visto permanente de residência na própria Embaixada do Brasil no Haiti e vir de avião para São Paulo. O voo dura 11 horas e a passagem custa R$ 3 mil. A viagem clandestina, por outro lado, custaria em torno de R$ 1,2 mil, com o risco do imigrante ficar nas mãos de traficantes de pessoas.

Trabalho

A dificuldade para os haitianos imigrarem está não só no preço da passagem, mas em encontrar trabalho fora da construção civil – onde a maioria reclama dos baixos salários. O CPM faz a mediação entre as empresas, quase todas construtoras, e os imigrantes. "Conversamos com as empresas para que paguem um salário digno. O imigrante, por sua vez, já precisa ter nessa fase sua RNE [carteira de identidade para estrangeiro] e Carteira de Trabalho", explica Sônia Nunes. Outra dificuldade está na barreira do idioma. Apenas os haitianos que chegaram antes de 2012 conseguem falar um português razoável. A maioria fala apenas um dialeto do francês.

Além disso, até chegar à etapa em que começa a trabalhar, o imigrante precisa esperar. "A emissão da carteira de identidade permanente pode durar meses", diz Sônia Nunes. O CPM também ajuda os estrangeiros a obterem a Carteira de Trabalho, mas o processo também é demorado.

Brasil vira escala para os EUA e Canadá

"Cheguei aqui no Brasil em 2012. Agora, quero arrumar um trabalho como eletricista", conta o imigrante haitiano Sandaire Beaubrun, de 28 anos. Beaubrun já fala português e trabalhou durante nove meses em 2013 na construção civil na capital paulista. Ele fez um curso de eletricista no Senai e afirma ter recebido algumas ofertas de trabalho fora de São Paulo, mas que não quer sair da capital paulista. "Fui embora do Haiti com algum dinheiro, vim de avião de Porto Príncipe a São Paulo. Eu trabalhei na construção, mas pagam um salário baixo, R$ 900 por mês", afirma.

Beaubrun diz que consegue se manter com o dinheiro que trouxe do Haiti e do trabalho na construção – ele mora em um quarto em uma pensão no centro de São Paulo. Além de arrumar um emprego de eletricista, o jovem planeja comprar um carro e, no futuro, quer imigrar para os Estados Unidos ou para o Canadá. "Gosto do Brasil, mas um amigo meu imigrou na mesma época para os EUA. Hoje ele já tem um carro e mora muito bem por lá."

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