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| Foto: Raul Santana/

Enquanto navios negreiros se deslocavam pelo Atlântico transportando, nas piores condições possíveis, milhares de escravos para servir aos “senhores” brasileiros, uma praga pegou carona e em pleno século 21 continua assombrando todo território nacional. Originário do Egito, o Aedes aegypti começou a invadir o Brasil em meados do século 19. Antes, o mosquito já havia chegado a outras localidades das Américas e, posteriormente, alcançou a Ásia a partir da costa oeste africana.

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Velho conhecido dos verões brasileiros, este é o primeiro em que o inseto tem a capacidade de transmitir três doenças distintas: dengue, chikungunya e zika. Tempos atrás, porém, a realidade era outra. Por nove anos, o país conseguiu ficar livre do Aedes, que também é transmissor da febre amarela. Segundo o pesquisador Rodrigo Cesar Magalhães, autor de uma tese sobre o assunto defendida no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Fiocruz, o mosquito foi erradicado no Brasil em 1955, fato que foi confirmado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em 1958.

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“Esta conquista foi resultado de campanhas contra a febre amarela desenvolvidas do país desde as primeiras décadas do século 20 e que, a partir dos anos 1920, contaram com a participação da Divisão de Saúde Internacional da Fundação Rockefeller, que em 1918 havia lançado uma campanha mundial de erradicação da doença”, relata Magalhães.

O passo decisivo, no entanto, foi dado em 1947, quando, por sugestão do governo brasileiro, a Opas lançou uma campanha continental para a erradicar o Aedes aegypti. “Foi uma articulação inédita das repúblicas americanas para combater conjuntamente um problema sanitário. O Brasil e outras 10 nações do continente foram declarados livres do mosquito”, explica.

O retorno

O fim do Aedes, porém, durou menos de uma década. O inseto reapareceu em Belém, em 1967, reinfestando o território brasileiro rapidamente. Magalhães explica que alguns fatores foram fundamentais para o retorno do mosquito. “A campanha para a erradicação do Aedes aegypti não foi bem-sucedida em todo o continente. Na América Central e Caribe e em algumas regiões da Colômbia e da Venezuela, o mosquito desenvolveu resistência ao DDT, principal inseticida utilizado na erradicação”, afirma o pesquisador. Nos Estados Unidos, o mosquito nunca deixou de existir.

Magalhães relata que dessas regiões, o mosquito reinfestou áreas de onde já havia sido erradicado – como o Brasil – através da circulação de pessoas por vias marítimas e terrestres.

O governo nacional também pecou e cantou vitória antecipadamente. “O governo brasileiro reduziu drasticamente as atividades e o número de funcionários dedicados ao controle do mosquito”, afirma. O resultado pode ser visto quase cinco décadas depois, com o Aedes presente em todos os estados brasileiros.

Impasse

O pesquisador Rodrigo Cesar Magalhães, que teve a tese de doutorado premiada em 2014 pela Sociedade Brasileira de História das Ciências, alerta que erradicar o mosquito não significa necessariamente que o país estará seguro por muito tempo. “O país em questão pode sofrer facilmente uma reinfestação a partir de suas fronteiras ”, esclarece. Segundo ele, a erradicação do Aedes demanda um esforço coordenado de todos os países ameaçados pelas enfermidades por ele transmitidas. “A erradicação do Aedes aegypti precisa voltar a figurar na agenda da saúde internacional”, afirma.

O mosquito

O mosquito foi descoberto e descrito cientificamente pela primeira vez em 1762, quando foi designado Culex (mosquito) aegypti (egípcio). O gênero Aedes, por sua vez, só foi descrito em 1818. No começo dos anos 1880, o médico cubano Carlos Finlay levantou a hipótese de que a febre amarela era causada por um germe que passava por transformações no organismo do mosquito antes de infectar os seres humanos. A hipótese de Finlay, contudo, só foi confirmada cerca de vinte anos depois por uma comissão militar liderada pelo médico norte-americano Walter Reed.

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