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Pelos R$ 0,20 (ou não), contra a corrupção, a favor do impeachment... São vários os motivos pelos quais os brasileiros têm sido convocados às ruas, com mais frequência e presença desde 2013, quando “o gigante acordou”. Curitiba, destaque nacional pelo grande número de participantes nas manifestações recentes, já foi palco de uma das mais violentas e inusitadas revoltas populares de que se tem notícia e tudo por causa de um pente.

O pente da discórdia

Tudo começou na tarde de 8 de dezembro de 1959, quando o subtenente Antônio Tavares, da Polícia Militar, comprou um pente no Bazar Centenário, na Praça Tiradentes, e exigiu a nota fiscal da compra, no valor de 15 cruzeiros. Isso porque na época o governo de Moisés Lupion levava a cabo a campanha “Seu talão vale um milhão” para aumentar a arrecadação.

Funcionava assim: o consumidor que reunisse notas fiscais no valor de três mil cruzeiros poderia trocá-las por um cupom para concorrer ao sorteio de um milhão de cruzeiros.

Em razão do valor irrisório da compra do subtenente, o dono da loja, o libanês Ahmed Najar, recusou-se a dar a nota – a legislação da época não obrigava os comerciantes a fornecer a nota fiscal abaixo de determinado valor.

Pronto, fez-se a confusão. Tavares e Najar começaram a brigar e, na confusão, pente e perna do subtenente foram quebrados. Pessoas que circulavam pelo local e presenciaram a cena solidarizaram-se com o policial e partiram para cima do Bazar Centenário. Em três dias, cerca de 120 lojas foram depredadas.

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A Guerra do Pente, como o episódio ficou conhecido, foi descrita assim na manchete da revista O Cruzeiro de dezembro de 1959: “Pente faz Curitiba perder a cabeça”. Não foi exagero.

A compra de um pente na loja de um imigrante estabelecido na Praça Tiradentes foi o estopim para três dias de quebra-quebra e violência, que teriam deixado um saldo de dois mortos, segundo jornais da época – informação não confirmada pelos registros da polícia e do Instituto Médico-Legal –, e mais de cem lojas depredadas.

De início, disparos para o ar e bombas de gás lacrimogêneo foram os recursos utilizados pela Polícia Militar para conter os grupos exaltados que, sem saber exatamente qual era o motivo da agitação, gritavam “Brasil! Brasil!” enquanto depredavam o que aparecesse pela frente. Não adiantou e os conflitos se acirraram.

Os ânimos só foram contidos quando o Exército interveio e o Centro de Curitiba foi tomado por pelotões de soldados armados.

População insatisfeita

Historiadores e estudiosos do conflito analisam que a Guerra do Pente foi uma espécie de reação popular a uma série de insatisfações com a política e a economia nacional.

Na época, o país vivia a euforia do governo de Juscelino Kubitschek que, embora marcado por um surto desenvolvimentista, também enfrentava a dívida externa e a inflação alta. No Paraná, o governo Lupion lidava com denúncias de corrupção e de grilagem de terras. A insatisfação popular era um barril de pólvora e a fagulha foi o conflito entre um policial e um comerciante imigrante.

Nos três dias que se seguiram, os alvos da Guerra do Pente foram comerciantes árabes, judeus, italianos e brasileiros, mas todos conhecidos como “turcos”.

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