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Manifestações tomaram as ruas de diversas cidades do país em 1992  para pedir a destituição de Collor. Na capital paranaense, cerca de 40 mil pessoas tomaram a região central. | Antonio Costa/Arquivo/Gazeta do Povo
Manifestações tomaram as ruas de diversas cidades do país em 1992 para pedir a destituição de Collor. Na capital paranaense, cerca de 40 mil pessoas tomaram a região central.| Foto: Antonio Costa/Arquivo/Gazeta do Povo

Enquanto o coral de uma igreja se apresentava trajando as cores da bandeira brasileira, uma multidão de preto ocupou a Boca Maldita, no centro de Curitiba. Era 16 de agosto de 1992, dia em que o então presidente Fernando Collor havia conclamado os brasileiros a defender seu mandato usando verde e amarelo. O efeito foi o inverso e provocou o chamado “domingo negro”. A população saiu às ruas com as caras pintadas e usando roupas pretas em repúdio a Collor. Na capital paranaense, cerca de 40 mil pessoas tomaram a região central.

As polêmicas do governo Collor

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Mensalidade

No mesmo ano, alunos da PUCPR engrossaram os protestos contra o Collor e se uniram contra o aumento das mensalidades. Em agosto daquele ano, os alunos ocuparam o prédio de administração da universidade e também participaram de passeatas pró-impeachment.

Uma semana depois, 39 manifestações explodiram pelo país. Na semana seguinte, 41. Em um intervalo de dois dias chegaram a ocorrer três atos contra Collor em Curitiba. Em uma delas, o então presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de outras lideranças políticas, e do então governador Roberto Requião, discursaram para os curitibanos.

Partido Frágil

Para especialistas, o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), do presidente Collor, não tinha uma base sólida. “Era um partido que não tinha uma organização, uma história”, comenta o cientista político Ricardo Oliveira. Luiz Carlos Martinez foi candidato derrotado pela sigla ao governo do estado.

As passeatas seguiam pela Rua XV de Novembro, pelas praças Santos Andrade e General Osório. Estudantes, professores e lideranças comunitárias tomavam a frente do “Fora Collor”. “Todas as entidades estavam unidas, comos sindicatos, Ordem dos Advogados do Brasil, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Era um consenso. Não havia base organizada a favor do Collor”, afirma o cientista político e professor da UFPR Ricardo Oliveira.

  • Manifestações tomaram as ruas de diversas cidades do país em 1992 para pedir a destituição de Collor. Na capital paranaense, cerca de 40 mil pessoas tomaram a região central.
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  • Manifestações tomaram as ruas de diversas cidades do país em 1992 para pedir a destituição de Collor. Na capital paranaense, cerca de 40 mil pessoas tomaram a região central. Uma semana depois, 39 manifestações explodiram pelo país. Na semana seguinte, 41.

As manifestações também tomaram as ruas de outras cidades, como Londrina e Maringá. Em todos os cantos do país, os movimentos sociais cobravam o impeachment de Collor. As manifestações populares foram intensas e ocuparam quase todos os meses de agosto até o fim daquele ano.

Quando, em dezembro daquele ano, o impedimento do então presidente foi confirmado pelo Senado, a festa foi geral. Oliveira recorda que grande parte da população acompanhou pela televisão o desfecho da história. “Depois foi um momento de júbilo”, comenta. Foguetes e buzinaços espalharam-se por Curitiba, pelo Paraná e pelo país.

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Antecedentes

Antes mesmo daquele domingo das roupas pretas, o movimento “Fora Collor” já ganhava corpo na capital do Paraná. Um ato em um centro de convenções, no antigo Cine Vitória, reuniu em 7 de agosto um amplo leque de partidos e entidades. Bandeiras de diversas ideologias se uniram para questionar o mandato do então presidente. Os quatro mil lugares do local foram insuficientes para acomodar todo mundo, que ocupou corredores e o lado de fora do espaço.

Antes, em dezembro 1991, durante reunião do Conselho Nacional das Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado em Curitiba, a organização já havia se posicionado contrário ao Collor.

Um presidente eleito e também derrubado com ajuda da imprensa

Collor viu seu cargo esvair-se de suas mãos com ajuda preponderante da mesma imprensa que o ajudou a se eleger em 1989. O historiador Wilson Maske, professor da PUCPR, lembra que os grandes protestos tomaram maior proporção à medida em que os meios de comunicação tratavam o impeachment do então presidente quase como uma obrigação.

“A Rede Globo e as principais revistas do país influenciaram a população ao divulgar os casos e, de certa maneira, encampar a campanha contra ele”, conta. Segundo Maske, o “Fora Collor” com os caras-pintadas foi o primeiro movimento contra a corrupção no país.

A situação mais emblemática foi a entrevista do irmão mais novo do presidente, Pedro Collor, à revista Veja em maio de 1992. Pedro Collor acusava Paulo César “PC” Farias, o ex-tesoureiro da campanha do presidente, de extorquir empresas e realizar tráfico de influência em nome do presidente.

Em 25 de maio, no dia seguinte à publicação da entrevista, o assunto foi exibido no Jornal Nacional, da Rede Globo, com uma reportagem de mais de nove minutos. E também ganhou a manchete do jornal O Estado de S. Paulo, que repercutiu a decisão de Fernando Collor processar o irmão.

Um mês depois, em 28 de junho, a revista IstoÉ publicou entrevista com o motorista Eriberto França na qual ele dizia que a empresa Brasil-Jet, de PC Farias, pagava as contas da Casa da Dinda, onde morava o presidente. A declaração fechou ainda mais o cerco contra Collor.

O dia em que Onaireves virou Severiano

A história do impeachment de Collor é recheada de anedotários. Envolvido em escândalo de corrupção, ele foi à tevê falar à população: “Minha gente! Não me deixem só!” Tadinho... Em outra ocasião, pediu que os brasileiros saíssem de casa usando verde e amarelo para defendê-lo. O que se viu foram ruas tomadas por pessoas usando preto. Exigindo sua deposição.

Há um caso ainda que envolve o Paraná de forma mais específica. E a mim em particular. Àquela época, o então presidente da Federação Paranaense de Futebol, Onaireves Moura, era deputado da tropa de choque de Collor. E, poucos dias antes da data em que seria votada a abertura do do impeachment no plenário da Câmara, Onaireves ofereceu um churrasco para o presidente.

Um escárnio que não passaria batido. E aqui eu entro na história. Não sei bem como, mas começou a correr pelo antigo Cefet (hoje UTFPR), onde eu estudava, o convite para protestar contra o Onaireves. “Por que não? Vamos lá!” Mas antes era preciso arregimentar mais gente. Saímos pelos corredores gritando em coro para os professores que não suspendiam suas aulas para que os alunos fossem à manifestação: “Libera! Libera!”

Funcionou. Conseguimos juntar uma pequena multidão. E então saímos em passeata até a imobiliária do Onaireves. Entre palavras de ordem, houve quem lançasse pedras contra o casarão em que a empresa funcionava. Teve até uns malucos – juro! – que tentaram arrancar uma árvore do jardim. Aí, apareceu a PM. E os ânimos se acalmaram. Mas o protesto estava feito... E, no dia da votação do impeachment, uma transformação miraculosa: Onaireves virou Severiano (leia esse nome de trás pra frente para entender). E votou contra Collor. Acho que não foi por causa de indigestão no churrasco. As ruas, enfim, mostraram sua força.

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