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Nas ciclovias da capital, falta de sinalização em cruzamentos com vias de tráfego dificulta negociação entre diferentes veículos e põe ciclistas em risco | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Nas ciclovias da capital, falta de sinalização em cruzamentos com vias de tráfego dificulta negociação entre diferentes veículos e põe ciclistas em risco| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Tudo dobrado

Considerando a métrica utilizada atualmente pela prefeitura, a ciclovia na Avenida das Torres tem 20 quilômetros de vias pavimentadas entregues, ao invés dos cerca de 10 quilômetros do trecho entre Curitiba e São José dos Pinhais. É como se o projeto curitibano do metrô, que tem 17,6 quilômetros, tivesse 35,2 quilômetros, já que também tem trilhos para os dois sentidos.

Outro lado

Prefeitura defende métrica ‘ida e volta’

Em nota, a prefeitura de Curitiba informou que cada trecho –ida e volta – é contabilizado separadamente porque as obras contam com projetos executivos próprios, que exigem recursos diferentes e proporcionais. Como exemplo, a gestão municipal citou a Avenida das Torres, onde um lado é 800 metros menor do que o outro por causa da geografia dos dois trechos. Isso teria exigido um projeto executivo para cada um dos lados da via. O texto ainda ressalta que, no período de 1980 a 2012, Curitiba havia recebido 127 quilômetros de vias cicláveis e que a atual gestão já entregou 67 quilômetros em menos de dois anos. O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) foi procurado durante uma semana para informar quanto dos 127 quilômetros existentes em Curitiba antes de 2012 contemplam os dois sentidos da ciclovia, mas não repassou a informação.

Entrevista

SP quer 400 km de pista ciclável em quatro anos

Entrevista com Jilmar Tatto, Secretário Municipal dos Transportes de São Paulo

São Paulo instalou 119 km de ciclovias em cinco meses e deve fechar a gestão com 400 quilômetros entregues. Conheça as ideias do secretário por trás do plano

A prefeitura de São Paulo entregou 119 km de ciclovias em cinco meses. Como isso foi possível? O resto virá na mesma velocidade?

Primeiro por uma decisão política. Depois porque buscamos experiências de fora, como Nova York, que conseguiu executar um plano simples, barato, e bem feito. Nossa ciclovia custa R$ 200 mil por quilômetro. Nosso planejamento é 200 quilômetros em seis meses e a outra metade em dois anos.

As instalações recebem críticas por não terem projetos fundamentados...

Temos equipes de engenheiros e técnicos e toda a operação da companhia de trânsito para verificar o traçado. Temos diretrizes claras, como tirar carros estacionados da rua (ao todo, serão removidas 40 mil vagas em São Paulo) e preferencialmente não usar calçadas.

Qual é a principal dificuldade na implantação?

O principal é tirar o carro da rua. Só assim para fazer nesse ritmo, O mesmo vale para as faixas exclusivas de ônibus. A prioridade é coletivo e não o individual.

No início, a população rejeitava o projeto.

Tudo novo tem resistência. Mas é um carro a menos e isso faz bem para a saúde de todos. Quem resiste, principalmente, é quem deixa o carro estacionado [na rua], usando o espaço público de forma privada.

Para cumprir a promessa de entregar 300 quilômetros de novas vias cicláveis, a gestão Gustavo Fruet (PDT) está considerando os trajetos de ida e volta na maior parte dos projetos já concluídos. Isso quer dizer que, em um trecho de 10 quilômetros de distância, são considerados 20 quilômetros de ciclovia. Essa métrica não é usada em cidades como São Paulo, que vem implantando grades trechos de ciclovia na atual administração.

INFOGRÁFICO: veja no mapa as vias cicláveis existentes em Curitiba

VÍDEO: a reportagem da Gazeta do Povo circulou por 20 quilômetros de ciclovias de Curitiba, nos bairros e no centro da capital

A prefeitura de Curitiba diz ter entregado 67,4 quilômetros de novas vias dedicadas ao ciclistas desde 2012. Mas sete dos oito maiores projetos consideram o trajeto ida e volta. São 55 quilômetros de ciclovias, ciclorrotas e ciclofaixas que, na verdade, representam um trecho de 27 quilômetros de vias da cidade com espaço exclusivo para a bicicleta.

O município defende a metodologia alegando que cada lado da via é um projeto separado, com orçamento próprio. Na prática, quem circula pelos locais não nota a diferença, pois cada lado serve a um sentido.

A reportagem questionou a prefeitura de São Paulo sobre como essa conta é feita por lá. A métrica das ciclovias entregues pela gestão Fernando Haddad é linear, Um trecho de 10 quilômetros com canteiro central é computado como 10 quilômetros de ciclovia, mesmo que haja faixas dos dois lados da pista.

Fruet também tem em seu plano de governo a promessa de maximizar o uso da bicicleta. Até o momento, porém, as semelhanças ficaram na proposta. A capital paulista já teve sua malha cicloviária triplicada – passando de 63 para 182 quilômetros e, mesmo entre detratores, a "explosão" das faixas vermelhas virou assunto por lá.

Os recursos aplicados nas duas cidades também endossam as diferenças. São Paulo irá investir R$ 80 milhões do seu orçamento no setor. Já em Curitiba, relatório da prefeitura mostra que foram investidos apenas R$ 209 mil nessa rubrica em 2013. O orçamento deste ano prevê R$ 3 milhões no setor, mas a aplicação ainda não está descrita no Portal da Transparência.

Mais do que o total de vias entregues, a política para incentivar novos ciclistas na capital paranaense também não deslanchou. A despeito da falta de dados gerais, uma pesquisa da própria prefeitura mostrou crescimento de apenas 8% no total de ciclistas que circulavam pela Avenida Sete de Setembro de 2008 para 2013. Já São Paulo, segundo pesquisa do Ibope de setembro, ganhou 81 mil ciclistas frequentes em 2014 – crescimento de 50% em um ano.

Usuário da rede cicloviária da cidade, o doutorando em gestão urbana da PUCPR, Rafael Milani Medeiros, critica a política cicloviária de Curitiba. "Em quase quatro décadas, fizemos 120 quilômetros de vias que, a rigor, não resultaram em um expressivo número de ciclistas. Não basta técnica para projetar ciclovias e ampliar a malha. É preciso compromisso político."

Opinião

Ciclovias têm apenas um sentido de cada lado da pista

A reportagem visitou os sete projetos cuja métrica 'ida e volta' é adotada pela prefeitura de Curitiba e constatou que a maioria deles realmente tem ciclovia dos dois lados da via. Em todos, porém, cada lado serve a um sentido de tráfego, apenas. Ou seja, é como se fossem duas faixas de rolamento para bicicletas separadas por um grande canteiro central.

A ciclovia da Rua Eduardo Pinto da Rocha, na Vila Osternack, não segue essa lógica. O trecho de cerca de cinco quilômetros está apenas de um lado da rua, sem grande variação de largura. Mesmo assim, a gestão municipal considera que esse projeto tem 11 quilômetros de extensão. E além de mais curto, ele também tem problemas técnicos. No trecho do centro comercial da Vila Osternack, onde a "ciclovia" é compartilhada, não há qualquer demarcação que separe pedestres de ciclistas. Trata-se de um trecho de calçada, com demarcação de ciclovia apenas nos cruzamentos.

Bike-repórter

A reportagem da Gazeta do Povo percorreu os trechos de ciclovia que ligam o Passeio Público ao Parque São Lourenço e a Avenida Garibaldi ao Viaduto do Capanema. Veja as situações encontradas nessa viagem.

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