• Carregando...

Para salvar o mundo, vale tudo. Pelo menos, essa parece ser a opinião de alguns cientistas que an­­dam quebrando a cabeça pensando em formas de acabar com a emissão de gases de efeito estufa e res­­friar o planeta. Os adeptos da cha­­­­mada geoengenharia, que é o uso de técnicas para manipular o clima da Terra, têm sido cada vez mais ousados. Pintar os telhados de branco (para que reflitam as ra­­diações solares) ou plantar árvores sintéticas (para absorver gás carbônico, exatamente como já fazem as naturais) são fichinha, perto do que tem sido discutido por aí. Cobrir os desertos com espelhos para que reflitam os raios solares, fertilizar os oceanos para a absorção de gás carbônico, sombrear a Terra com um imenso guarda-sol, ou pulverizar a água dos oceanos no ar para estimular a produção de nuvens são apenas algumas das alternativas anunciadas pela comunidade científica.

"Se é o homem o responsável pe­­lo aquecimento global, é certo que o próprio homem reverta o pro­­cesso e esfrie o planeta. Mas as principais técnicas discutidas, se não estivessem assinadas por professores do MIT e outros concei­­tuados centros de pesquisa, seriam mais parecidas com roteiros de filmes de ficção científica do que com maneiras reais de se combater as mudanças climáticas", argumenta o economista ambiental Daniel Thá, da empresa de consultoria ambiental Ambiotech. "Essas ideias tendem a passar uma falsa sensação de conforto ao homem, pois apresentam uma forma de resolver os problemas que ele próprio criou sem precisar sacrificar os seus padrões de consumo."

Apesar de a maioria das propostas parecer absurda e impossível de ser concretizada – pelo menos nas próximas décadas – elas estão sendo levadas a sério. A Royal Society do Reino Unido, a maior associação acadêmica da Europa, acredita que as estratégias podem ser a última esperança da humanidade em salvar o planeta, mesmo que o mundo consiga entrar em acordo para diminuir as emissões de carbono. De acordo com um relatório elaborado por uma equipe de mais de 20 cientistas, existe o risco de que as medidas mais naturais de diminuir as emissões de CO2 não sejam introduzidas a tempo e que ações adicionais poderão ser necessárias para resfriar a Terra até o fim do século.

Entretanto, a própria Royal Society reconhece que, embora as experiências sejam tecnicamente possíveis, ainda não existe a tecnologia para colocá-las em prática.

Problemas

Outro problema são os custos que elas envolveriam. "Algumas dessas tecnologias certamente teriam custo proibitivo e haveria muitos obstáculos políticos na hora de distribuir os custos. Quem deveria pagar a conta? Os Estados Unidos que, sozinhos, queimam mais de 20% do combustível mundial? Ou o Brasil, que desmata alucinadamente e que logo pode se tornar um grande produtor mundial de petróleo, com o pré-sal?", lembra o ocea­­nógrafo e ecólogo José Mil­­ton Andriguetto Filho, professor do doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Univer­­sidade Federal do Paraná (UFPR).

Uma das questões levantadas pelos críticos é que não existe garantia de que essas ações fariam alguma diferença, como explica o coordenador do mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo, Maurício Dziedzic. "A ideia de cobrir o deserto com espelhos, por exemplo, não teria sucesso, a não ser que fosse para produzir energia solar. Isso porque os gases-estufa que existem na atmosfera bloqueariam o reflexo das radiações solares, devolvendo essa energia à Terra", descreve.

A maior preocupação, porém, es­­tá em não saber qual será o im­­pacto das estratégias de geoengenharia sobre o meio ambiente. Acredita-se que o con­­serto poderá piorar o problema. "A natureza é um sistema com­­plexo, em que os fenômenos que ne­­la ocorrem interagem entre si, misturando a energia de formas ainda não entendidas ao ponto de poder fazer previsões precisas. Fe­­nô­­menos em diferentes escalas de tem­­po e espaço costumam nos criar problemas sérios quando in­­teragem entre si, provocando complexas relações de retroalimentação e irreversibilidade", explica o oce­­anógrafo Eduardo Marone, pro­­fessor do doutorado da UFPR.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]