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Alaíde Obrzute: feliz com o trabalho de evangelização | Roberto Soares/Gazeta do Povo
Alaíde Obrzute: feliz com o trabalho de evangelização| Foto: Roberto Soares/Gazeta do Povo

Religiosidade se intensifica na velhice

O Brasil é um país de religiosos. Pelo menos é o que mostra o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Dos 169,8 milhões de habitantes, apenas 7,3% declararam não ter religião. Para o diretor do mestrado em Teo­lo­­gia da Pontifícia Universi­dade Católica do Paraná (PUCPR), Mario Antonio Sanches, a religião tende a se intensificar na velhice, independentemente do nome da igreja que se frequenta.

E isso não tem relação com o me­­do da morte. "Eu percebo que o me­­do da morte está mais presente na adolescência. Os idosos que de­­senvolvem a espiritualidade encaram a morte com muita lucidez", aponta. Para o teólogo, na juventude as pessoas se dedicam mais à pro­­fissão, enquanto que quando se veem aposentadas querem cultivar os valores da vida. Es­­sa dedicação, diz, está relacionada com a qualidade de vida. Muitos idosos que não despertam para a espiritualidade tornam-se ranzinzas e in­­tolerantes. "A religião torna a pessoa mais tolerante, mais amena."

Para isso, não é preciso ter um tra­­balho pastoral na religião que se segue. "Muitos não se envolvem mais profundamente com a religião, mas também crescem como pessoa, com atitudes altruístas. São pessoas que foram capazes de crescer e amar", analisa.

  • Agra Schmidt: biblioteca improvisada em um dos quartos da casa serve de fundamento para as palestras que ministra no centro espírita

Alaíde, Agra e Mercedes não se co­­nhecem, mas têm algo em comum além de já terem passado dos 60 anos. Elas se dedicam à religião que escolheram como uma verdadeira missão. Quase todos os dias da semana, elas vão ao templo orar e ajudar as pessoas de suas co­­munidades. Para o teólogo Mário Sanches, de Curitiba, o fenômeno é bastante comum na terceira idade e contribui para uma velhice saudável.

Mercedes de Oliveira Martins, 69 anos, deixou a profissão de confeiteira de lado para desenvolver seu lado espiritual. Ela começou a frequentar a igreja Assembleia de Deus próxima do seu bairro, para buscar orientação de como cuidar de um filho com necessidades especiais. "Eu aceitei Jesus como Salvador", diz. Desde então, a religião entrou em sua vida.

A idade não a impede de manter uma agenda movimentada. Aos domingos, terças, quartas, sextas e sábados vai à igreja para participar de reuniões dos grupos religiosos que coordena. Cada reunião demanda um pequeno exercício, já que o templo fica a dois quilômetros de sua casa e ela prefere fazer o trajeto a pé. Às se­­gundas e quintas se dedica às visitas aos hospitais, quando ora pelos doentes. Quando a distância é maior, ela não dispensa a carona do marido. Aliás, o esposo e os seis filhos apoiam sua dedicação aos afazeres religiosos. "Sobra tempo para a família", garante. Mercedes diz que não consegue imaginar sua vida de outro modo. "A depressão entra na vida da pessoa que não tem uma atividade com Deus. Eu sou uma pessoa feliz", argumenta.

Com voz serena e compassada, a ex-funcionária pública Alaí­­de Maria de Oliveira Obrzu­te, 74 anos, tem o mesmo sentimento. "Eu sou muito feliz com o trabalho de evangelização que eu faço", afirma. Ela não precisa caminhar tanto quanto Merce­des para chegar à igreja, já que mora a apenas 100 metros do templo que frequenta, mas mantém o pique nas visitas semanais que realiza aos doentes e nos serviços diários como ministra da Eucaristia.

Alaíde diz que herdou dos pais o desejo de rezar e desde que se aposentou intensificou suas idas às missas católicas. O trabalho voluntário na comunidade surgiu com as pastorais. Participou da Pastoral da Pessoa Idosa, fundada por Zilda Arns, e hoje atua na Pastoral da Visitação, que leva palavras de conforto aos doentes. No lazer também alimenta a espiritualidade. "Eu só faço turismo religioso. Em março vou ao santuário do Divino Pai Eterno, em Goiás", adianta.

Autoestima

A religiosidade aumentou até a autoestima de Alaíde. "Depois dos 60, você perde as medidas, o nariz e as orelhas parece que crescem, mas com a religião você se aceita e é totalmente feliz. Você percebe que sua ruga é uma bênção de Deus porque você envelheceu e pôde acompanhar a vida dos seus filhos e dos seus netos", comenta.

Para Agra Regina Schmidt, 64 anos, outro benefício da dedicação à religião é o equilíbrio interior. "Eu vivo a religião o tempo todo", diz. Ela aprendeu os primeiros passos na doutrina espírita ainda aos 7 anos de idade com o pai, do qual herdou a maioria dos livros que tem. Hoje, a biblioteca improvisada em um dos quartos da casa serve de fundamento para as palestras que mi­­nistra no centro espírita.

Como o espiritismo trabalha no eixo caridade, Agra já realizou muitos trabalhos voluntários na comunidade, mas hoje se dedica aos estudos. Modesta, ela diz que tem "um leve conhecimento" da doutrina espírita e que sua crença a orienta a repartir essa vivência para diminuir as aflições alheias.

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