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| Foto: RICARDO MORAES/REUTERS

As boias de contenção instaladas pela Samarco, mineradora controlada pela Vale e a BHP Billiton, não foram capazes de impedir que a lama trazida de Mariana (MG) atingisse o estuário – formação semelhante ao mangue –, na foz do rio Doce, no Espírito Santo. Essa é considerada uma das áreas mais sensíveis devido à reprodução de peixes e crustáceos. Além de peixes, aves marinhas estão sendo encontradas mortas na praia de Regência, distrito de Linhares, no encontro do rio com o mar.

A reportagem acompanhou o resgate de uma andorinha-do-mar pela equipe do projeto Tamar. Ela estava desacordada, com as penas manchadas de lama. Três foram achadas mortas na praia de Regência nesta segunda (23).

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e a presidente do Ibama, Marilene Ramos, fizeram sobrevoo de helicóptero e desceram no banco de areia que divide o rio com o mar. “Estou muito impressionada. É um desastre ambiental de grandes proporções que chega à foz, em uma área muito sensível”, disse Marilene à reportagem.

Segundo a prefeitura, a lama tomou conta de 3 km mar adentro e 10 km na costa --superando a projeção inicial de 9 km. O Ibama coletou fotos de aves mortas e vai analisar se há relação com a lama.

Berçário

O rejeito de minério que escapou após o rompimento de uma barragem em Mariana, no dia 5, chegou em camada mais fina na tarde de sábado (23) a Regência e atingiu o estuário um dia depois. Popularmente chamado de igarapé, o estuário é formado por canais que se expandem a partir do rio, com água tranquila e vegetação no entorno.

As águas calmas criam um ambiente ideal para reprodução de peixes de água doce (mandi, ticupá, bagre) e crustáceos, mas também atraem peixes marinhos como robalos, caçaris, carapebas e manjubinhas que entram na foz do rio e se refugiam no local.

“Como berçário, esse lugar já estava ameaçado há tempos por causa do assoreamento e da contaminação do rio. Agora degradou de vez”, disse o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica Barra Seca e Foz do Rio Doce, Carlos Sangalia.

Apesar de admitir que é cedo para avaliar os danos, a lama da mineradora no estuário, diz Sangalia, pode aumentar a concentração de matéria orgânica e alterar ainda mais o pH da água, deixando-a com maior acidez.

“Se esse material mais contaminante ficar infiltrado no solo, as larvas que estão para nascer correm o risco de não conseguir, e os caranguejos pequenos podem não ter condições de se reproduzir.”

Para Paulo Ceccarelli, do Cepta, órgão do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) que acompanha a dinâmica de peixes de água doce, o efeito será em cadeia. O material sedimentado pode soterrar pequenas espécies e crustáceos que vivem no fundo do rio e acabar com o plâncton, micro-organismos que vivem na água e são o primeiro alimento dos peixes.

Uma espécie típica no estuário é o guaiamum, um caranguejo de cor azulada. Junto com o camarão pitu, que tem seu berçário nesse “mangue”, está na lista de espécies em extinção e tem sua pesca proibida, sob pena de multa de R$ 5.000 pelo Ibama.

Assim como os pescadores, os catadores de guaiamum eram comuns em famílias na região de Regência.

Procurada, a Samarco não respondeu sobre os impactos ambientais e morte de aves.

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