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Outro lado - Líder da CUT diz que governo não deve adotar agenda de direita

São Paulo – O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, não gostou das declarações feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a urgência das reformas trabalhista e previdenciária. "Concordo quando diz que não devemos ter dogmas nem preconceitos no debate destes assuntos", disse ele.

Segundo Henrique, "é preciso acabar com dogmas e preconceitos também na hora de discutir os índices de superávit primário estabelecidos pelo governo, as altas taxas de juros que beneficiam o sistema financeiro e a falta de investimentos em políticas públicas e sociais".

O presidente da CUT estava na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), ouviu a exposição de Lula e reagiu. Disse que o governo não deve adotar uma agenda de direita, "derrotada nas eleições". Já o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, concorda com a idéia de que a atual legislação trabalhista está ultrapassada. "Ela deve ser revista e modernizada, para se adaptar à nova realidade do país e do mundo. Não podemos esquecer os progressos que fizemos nos últimos 50 anos."

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou ontem à "peãozada" e aos "caras" dos sindicatos que vai mesmo iniciar o debate de uma reforma nas leis trabalhistas da Era Vargas. Na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no Palácio do Planalto, ele também fez coro com segmentos que defendem as reformas política, previdenciária e tributária.

Ele deixou claro, para início de conversa, que não pretende tirar direitos, mas flexibilizar a CLT, de 1943, garantindo contratos especiais a um "exército" de jovens entre 15 e 24 anos.

"Ora, meu Deus do céu, longe de mim querer tirar direito de trabalhador", ressaltou. "Se eu não puder dar, tirar eu não tiro", garantiu. Lula observou que a tecnologia está ocupando um espaço "extraordinário" e o mundo do trabalho mudou desde o decreto 5.452, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, da Consolidação das Leis do Trabalho, há mais de 50 anos.

Na avaliação de Lula, o cenário também é diferente daquele dos anos 1970, quando presidia o famoso Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista e liderava as grandes greves. "Quando eu ia a uma fábrica e falava peão, a peãozada delirava", lembrou. "Hoje, se você falar peão, os caras falam: não sou mais peão, eles já fizeram universidade, curso de especialização, estão num outro patamar", completou.

Em dezembro de 1994, o então presidente eleito e senador Fernando Henrique Cardoso se despediu do Senado defendendo o fim da Era Vargas, que, segundo ele, atravancava o desenvolvimento. FH criticou o modelo de Estado intervencionista de Vargas, foi incisivo ao defender as reformas tributária e previdenciária e, cuidadosamente, disse que era preciso proceder a uma revisão das regras relativas ao mercado de trabalho.

Medo

Lula afirmou que todos – políticos, sindicalistas e trabalhadores – têm medo de reformas. Ele chegou a dar exemplos trágicos para falar da necessidade das reformas, comparando os atuais sistemas político, trabalhista, tributário e previdenciário a casas com mofo e banheiro entupido, residências em áreas de risco de desabamento e a "tumores malignos" que não puderam ser removidos no primeiro mandato. "Todo mundo sofrerá algum problema com uma mudança no começo, mas ao longo do tempo essa mudança cria vantagens", disse. "É no debate que a gente descobre se é possível ou não."

O presidente disse ter a impressão de que as pessoas não querem que a reforma tributária, por exemplo, aconteça. No caso da reforma política, ele avalia que a discussão só ganha força quando há algum problema ou em época de eleição. Já em relação à mudança na Previdência ele destacou que sabe com clareza como funciona a cabeça dos dirigentes sindicais – de resistir às mudanças. "Agora, eu quero discutir, quero um espaço para discutir", ressaltou. "Temos que aproveitar o momento político para fazer essas coisas."

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