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A economia verde, um dos eixos da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), se transformou em alvo de críticas de diversas ONGs, que veem nessa iniciativa uma "mentira" ou uma "máscara" para criar uma nova bolha financeira.

Segundo diferentes ONGs participantes da Cúpula dos Povos, realizada em paralelo à Rio+20, a iniciativa da ONU de promover uma economia verde que seja eficiente em recursos e baixa em carbono e que promova a inclusão social "soa muito bem", mas a realidade é outra.

"A economia verde aparentemente é muito bonita, mas falar de capitalismo verde não é mais que um paradoxo", disse à Agência Efe Samuel Martín-Sosa, representante internacional dos Ecologistas em Ação, uma ONG espanhola que formou uma aliança com outras 30 organizações para alertar na Rio+20 que é necessário mudar as bases do atual modelo antes de implantar a economia verde.

Segundo Martín-Sosa, "se não forem mudadas as bases de funcionamento do capitalismo, da produção e do consumo, não será possível promover as mudanças estruturais necessárias para avançar nesses valores que nos tentam vender".

Por essa razão, os Ecologistas em Ação formaram com outras ONGs a aliança "Economia verde, futuro impossível!", porque consideram que em vista do esgotamento dos recursos naturais no mundo e sem a mudança do modelo econômico, "o futuro não será possível".

Em todas as manifestações da Cúpula dos Povos realizadas no Rio desde a semana passada, a economia verde esteve entre as políticas mais condenadas pelos movimentos sociais.

"Com a economia verde querem colocar na lógica do mercado todos os bens comuns da humanidade e, portanto, que alguém se aproprie de algo que agora é de todos. Isso seria uma nova bolha financeira, como foi a do setor tecnológico e a do imobiliário", acrescentou o ativista.

O documento da Rio+20 aprovado nesta terça-feira por 193 delegações para ser apresentado aos líderes que participarão da cúpula reconhece que "existem diferentes abordagens, visões, modelos e ferramentas disponíveis para cada país, segundo suas circunstâncias e prioridades nacionais, para alcançar o desenvolvimento sustentável".

No entanto, as ONGs que se reuniram no Rio sublinham que por trás da economia verde há intenções que não são tão claras como a água.

Andrew Miller, coordenador de Incidências da Amazon Watch, ONG que dedicada à defesa da Amazônia e de seus povos, assinala que quando se fala de economia verde são apresentadas muitas "falsas soluções".

"Na economia verde há muitos elementos que não são tão ecológicos", disse Miller à Efe, antes de assinalar como exemplo as grandes hidrelétricas, que supostamente são uma fonte limpa de energia, mas que na realidade causam um grande impacto climático.

Miller explica que esse impacto é particularmente grave quando as hidrelétricas são construídas na Amazônia, "porque inundam grandes áreas de floresta, o que produz grande quantidade de metano, sem contar o impacto ambiental e social" dessas obras.

A Amazon Watch lidera uma campanha mundial contra a construção da usina de Belo Monte, que vem sendo erguida no rio Xingu, afluente do Amazonas, e que será a terceira maior do mundo.

Belo Monte, que terá um custo de US$ 10,6 bilhões, causará danos irreparáveis ao ecossistema e às condições de vida de indígenas e camponeses que vivem nas margens do Xingu, segundo a Amazon Watch e outras ONGs que se opõem à obra.

Miller reconhece que, embora haja alternativas, "não há políticas perfeitas" e, portanto, a economia verde não pode ser apresentada como remédio para os problemas econômicos, ambientais e sociais da humanidade.

"O problema é que vendem a economia verde como algo em que todos vamos ganhar, e isso é uma mentira. Há os que ganham muito, alguns que recebem migalhas e outros que perdem", sentenciou.

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