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Sacoleiros na Ponte da Amizade | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Sacoleiros na Ponte da Amizade| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Risco na ida e na volta

O perigo para aqueles que resolvem ir ao Paraguai, diz Walter Negrão, começa na estrada. Como os principais compristas vêm de São Paulo, Santa Catarina e Curitiba, os ladrões monitoram trechos nas rodovias que sejam afastados de postos policiais e onde não haja sinal de celular. "Campo Mourão, Irati, Laranjeiras do Sul, são regiões perigosas", alerta Negrão. O coordenador da Associação Brasileira dos Sacoleiros lembra uma viagem que fez de São Paulo a Foz. "Nós estávamos na rodovia e fomos obrigados a parar. Um caminhão estava atravessado na pista. Os assaltantes entraram e levaram tudo tranquilamente, era de madrugada, nenhum carro passou pelo local", conta. Negrão diz que registrou boletim de ocorrência porque lhe roubaram os documentos. "Caso contrário, eu não teria feito. Não adianta nada", lamenta. Normalmente, os assaltos acontecem no trecho de ida, porque é quando os compristas estão com dinheiro.

Caso o sacoleiro tenha sorte e não seja assaltado no caminho para Foz do Iguaçu, ainda existe o risco ao atravessar a Ponte da Amizade. Segundo Negrão, existem quadrilhas especializadas em assaltar veículos e vans ainda no Brasil, antes que elas atravessem para o Paraguai. "Como o comércio em Ciudad del Este abre cedo, muitos compristas partem ainda de madrugada. É neste horário que as quadrilhas agem", diz.

Na volta, o perigo contnua. Como muitos sacoleiros partem de Foz com os veículos e ônibus abarrotados de mercadorias, quadrilhas se aproveitam da situação para roubar. "O comprista relaxa apenas quando chega em casa", conclui Negrão. (GA)

Na última quarta-feira, uma pessoa morreu e duas ficaram feridas durante um assalto no caminho para a Ponte da Amizade. Embora os dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) revelem uma redução de 31,61% nos roubos e 22,32% nos homicídios em 2008 em relação ao ano anterior em Foz do Iguaçu, crimes como o da semana passada não param de assustar tanto a população iguaçuense quanto sacoleiros que vêm à cidade para fazer compras em Ciudad del Este, no Paraguai.

Uma característica que aumenta a preocupação dos sacoleiros é a violência que vem sendo empregada nos assaltos, da qual o assalto de quarta-feira é um exemplo. O motorista da van, Marcelo da Silva, 28 anos, morreu na hora. Outras duas compristas foram encaminhadas para um Hospital em Foz do Iguaçu. Vera Lúcia Klaumann, 46 anos, levou um tiro nas nádegas e passa bem. Liliane Maria Ramos, 34 anos, respira sem ajuda de aparelhos, mas segundo o boletim médico apresentado sexta-feira, seu estado de saúde ainda é grave. A polícia apreendeu um adolescente e prendeu um suspeito. Dois ainda estão foragidos.

De acordo com Walter Negrão, secretário-geral da Associação de Ambulantes de Foz do Iguaçu e coordenador da Associação Brasileira dos Sacoleiros, situações como a de quarta-feira, com violência excessiva, fazem parte do cotidiano do comprista e o levam a procurar um lugar mais seguro para trabalhar. "Os próprios ambulantes de Foz estão procurando comprar mercadorias em outras localidades. Eu não atravesso mais a Ponte da Amizade desde que fui assaltado em 2007, no meio dela. Compro as mercadorias em São Paulo, é muito mais cômodo e seguro", diz.

Justificativas

De acordo com o delegado-chefe da 6º Subdivisão Policial de Foz do Iguaçu, Alexandre Macorim, os crimes envolvendo sacoleiros e compristas têm características muito peculiares. Uma delas, diz, é que muitos dos assaltantes são ex-sacoleiros. "Depois do arrocho na fiscalização promovida pela Receita Federal em 2005, muitos sacoleiros com medo de perder a mercadoria passaram a roubar daqueles que conseguem passar pela fiscalização", afirma.

O delegado diz que uma dificuldade adicional no combate ao crime é a falta de boletins de ocorrência. Grande parte dos compristas, quando são assaltados, não procuram a polícia. "Nenhum sacoleiro quer contar o que perdeu. A polícia sabe que as mercadorias vêm do Paraguai. No entanto, as vítimas não fazem o devido registro", conta Macorim.

Na opinião do sociólogo e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) José Afonso de Oliveira, o crime aumentou em decorrência do desemprego. "Acabou-se com o contrabando, não tem emprego, os outros crimes teriam de aumentar", afirma. Sobre a violência empregada nos assaltos, o professor ressalta a cultura da violência no qual os jovens estão inseridos e a falta de perspectiva. "Antigamente, em Foz, grupos de criminosos brigavam entre si. Hoje, outras classes sociais são vítimas. Quem tem dinheiro em Foz, hoje? O sacoleiro. Então ele será a principal vítima", diz.

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